O minério de ferro, estrela das exportações mineiras e brasileiras, perdeu o seu reinado no comércio do Brasil com o exterior no primeiro semestre. Pela primeira vez desde 2010, a matéria-prima abundante e que faz da China o maior parceiro do país no comércio internacional recebeu um belo drible da soja e seus derivados, quando analisadas as receitas de vendas de janeiro a junho. Com a queda dos preços do ferro no mundo, sob pressão do crescimento chinês mais lento e da difícil recuperação da Europa e dos Estados Unidos, os embarques enfrentaram redução de 7% em valor, na comparação com o período de janeiro a junho de 2013, caindo para US$ 14,035 bilhões.
O chamado complexo soja se aproveitou da safra recorde e da demanda por alimentos no mundo, embora esteja também enfrentando desvalorização de preços, mas menor: as exportações de US$ 20,135 bilhões no semestre tiveram redução de 4% em relação aos mesmos meses do ano passado. A briga das duas commodities (produtos agrícolas e minerais com preços cotados no exterior) é ruim tanto para o Brasil quanto para Minas, diante da grande participação dos produtos básicos na balança comercial.
Os números que mostram o desempenho do minério de ferro e do complexo soja nos últimos 16 anos foram analisados pelo presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, com base em levantamentos regulares do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). “As duas commodities vão continuar disputando os primeiros lugares do ranking, mas agora as posições vão depender, principalmente, do apetite chinês, já que o Brasil embarcou 90% da soja contratada”, afirma. De 1998 a 2005, a soja e seus derivados superaram o minério de ferro, com saldos nem sempre apertados. O melhor resultado foi de US$ 5,061 bilhões a mais que as vendas de ferro em 2004.
Em todo o período analisado por Augusto de Castro, as exportações de minério de ferro ensaiaram a primeira ultrapassagem sobre o complexo soja em 2006, quando a receita da matéria-prima alcançou US$ 8,948 bilhões, apenas US$ 38 milhões à frente do produto agrícola. Desde 2010, no entanto, havia se firmado na liderança (veja o quadro). De olho na performance das vendas de produtos básicos no comércio internacional, entretanto, os palpites são arriscados para os próximos resultados dessa corrida.
Desafio
Com um certo ar de desafio lançado aos analistas mais pessimistas dos mercados de mineração e siderurgia, o presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, disse, na semana passada, que a performance chinesa, locomotiva do consumo mundial de ferro e aço, está melhor do que “todo mundo diz”. Na contramão das expectativas nos bancos e corretoras, o industrial afirmou que há limites para redução de preços. “Todo mundo está preocupado com a China e acha que o país vai mal, mas, de fato, a demanda chinesa está fazendo melhor do que a gente esperava”, afirmou o industrial, que participou em São Paulo do 25º Congresso Brasileiro do Aço, organizado pelo Instituto Aço Brasil.
O mau humor dos analistas encontrou campo fértil em maio, quando o preço da tonelada de minério de ferro baixou, pela primeira vez desde setembro de 2012, da barreira psicológica de US$ 100, ao atingir US% 98,50 – uma queda de 2,2%. Depois de exibir taxas de crescimento econômico vigorosas que superaram 10% ao ano, a China começa a indicar que poderá não sustentar nem mesmo a expansão de 7,5% que alguns analistas esperavam. De janeiro a março deste ano, a economia do gigante asiático cresceu 7,4%.