Embora ainda continuem invisíveis para parte da indústria, do comércio e do setor de serviços, os solteiros acima de 18 anos formam um grupo de 64,8 milhões de brasileiros que, em 2014, somam a robusta renda de R$ 726 bilhões. A pesquisa do Instituto Data Popular, com base em dados do IBGE, mostra que nos últimos três anos os ganhos desse grupo cresceram perto de 70%. Um valor alto demais para ser ignorado pelo mercado: representou fatia de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2013. Quem investe no segmento lucra, mas os solteiros ainda reclamam da falta de produtos desenvolvidos especialmente para eles. Muitos ainda perdem alimentos na geladeira por falta de porções menores, moram em casas maiores do que precisam e buscam companhia para dividir o quarto do hotel, mais caro para os solteiros.
Vantagens e desvantagens de se viver sozinho; veja o que dizem os solteiros:
Pesquisa do Sebrae de Santa Catarina divulgada em junho destaca mais de 10 segmentos da economia considerados os mais promissores para o empreendedorismo. No ranking, o chamado “mundo dos sozinhos”, que envolve produtos e serviços desenvolvidos especialmente para atender quem vive como solteiro, ocupa a segunda colocação, perdendo apenas para o setor voltado para animais de estimação. Pudera. Só em Belo Horizonte, 247 mil domicílios têm apenas um morador. No Brasil, são 8,8 milhões morando sós, crescimento de 17% em três anos.
Considerado um público consumidor exigente, que observa mais a qualidade e costuma pechinchar menos por preços, solteiros convictos em BH consideram que o mercado ainda está devendo e tem muito a lhes oferecer. Engenheira e professora universitária, Tatiana Paiva, de 37 anos, faz parte desse universo e diz que o estado civil é um peso para o bolso. “As taxas não se alteram de acordo com o número de moradores de uma casa, como o financiamento do apartamento e o condomínio, essas despesas ficam pesadas para uma pessoa. No meu caso, chegam a comprometer até 30% do orçamento”, revela. Outra constatação de Tatiana sobre o alto custo de uma vida só está na alimentação. Ela reconhece que são poucos os supermercados da capital que oferecem produtos em quantidade pequena para quem mora sozinho. “Geralmente, eles estão concentrados na Zona Sul da cidade. Procuro comprar nesses lugares, porém, as frutas e verduras acabam sobrando por perderem o prazo de validade muito rápido. Então, procuro trocar com amigas, fazer receitas, como bolos de banana e tentar consumir o mais rápido possível”, afirma.
A consumidora não precisaria enfrentar a mesma maratona em alguns mercados como o europeu e o americano. “Lá já é possível comprar três bananas, ou apenas uma”, reconhece o superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Adilson Rodrigues. Segundo ele, algumas redes, principalmente as voltadas para classes A e B, já estão atentas a esse público e oferecem uma gama de produtos quase adequadas para atender esse consumidor. No entanto, a maioria dos super e hipermercados ainda precisa se adaptar. “Vamos começar, inclusive, a discutir com a indústria de alimentos a maior produção desses itens, embalados em menor quantidade, de alimentos a produtos de limpeza.”
Rodrigues lembra que até mesmo casados podem morar sós em casas separadas e que o mercado deve estar atento. “Um exemplo são os pacotes de açúcar e arroz de dois quilos. Em muitos supermercados, as embalagens menores vendem até mais que aquelas com cinco quilos”, admite. O preço, outro desafio para os solteiros, que muitas vezes, proporcionalmente, pagam mais por embalagens menores, só pode ser resolvido com a escala. “Quanto mais produção a indústria tiver, mais barato vai se tornar o produto.”
ESPAÇO Depois de procurar por muito tempo um apartamento de um quarto, Tatiana desistiu da busca por achar caro o preço praticado no mercado para a modalidade e há dois anos optou por comprar um imóvel de dois dormitórios, onde sobra espaço para hospedar estrangeiros e complementar a renda. “Aos poucos estou decorando o apartamento. Reconheço que sou uma consumidora exigente e quero comprar bons produtos para a minha casa”, diz.
Os bares, restaurantes e setor de entretenimento já captaram a força do consumo dos solteiros e apostam no lucro. Alexandre Pampolini inaugurou há cerca de 14 meses a casa de shows Woods. Ele fez investimentos próximos a R$ 5 milhões e diz que a rede tem planos de expansão. “Entre 70% e 80% do nosso público é de solteiros.” Há mais de 10 anos no ramo de festas e eventos voltados para o perfil, ele desenvolveu espécie de expertise no tema. “Os solteiros permanecem por mais tempo na casa de shows e consomem produtos mais caros. Enquanto os casados gastam em torno de R$ 100 por pessoa, o solteiro consome entre R$ 150 e R$ 180”, compara.
Há dois anos, o advogado José de Paula Miranda Alves, de 66, entrou para o grupo dos solteiros. Morando só, José, que já foi casado, transformou um dos cômodos do seu apartamento em seu escritório. “O que eu gastava com comida quando era casado passei a gastar com faxineira. Como sempre fora de casa e os congelados são a mina de ouro na vida do solteiro.” José acredita que o mercado está atento a esse público, lançando novos produtos para homens e mulheres, e diz que melhor que dividir contas é não dividir problemas.
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Grande nicho
“Ao contrário das famílias, os solteiros não costumam olhar pequenas diferenças de preços, tendem a buscar produtos de boa qualidade. É um grande nicho promissor, que deve ser pensado pelos diversos setores da economia. No caso da alimentação, os micro e pequenos negócios começam a explorar o segmento, oferecendo produtos diferenciados, embalados em porções menores e congelados. É uma área promissora para a prestação de serviços em domicílio, incluindo até a moda diferenciada e exclusiva, atendendo a estilos. E é um mercado que deve ser observado pela grande indústria de automóveis, pelos setores imobiliários e turísticos. Hoje, um pacote de viagem, por exemplo, custa mais caro para quem os sozinhos e esse é um ponto de atenção para hotéis. Pesquisas apontam que, em média, o solteiro com idade próxima aos 30 anos tem renda mensal acima de R$ 2 mil.” - Mara Veit, gerente de atendimento ao empreendedor do Sebrae-Minas
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A consumidora não precisaria enfrentar a mesma maratona em alguns mercados como o europeu e o americano. “Lá já é possível comprar três bananas, ou apenas uma”, reconhece o superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Adilson Rodrigues. Segundo ele, algumas redes, principalmente as voltadas para classes A e B, já estão atentas a esse público e oferecem uma gama de produtos quase adequadas para atender esse consumidor. No entanto, a maioria dos super e hipermercados ainda precisa se adaptar. “Vamos começar, inclusive, a discutir com a indústria de alimentos a maior produção desses itens, embalados em menor quantidade, de alimentos a produtos de limpeza.”
Rodrigues lembra que até mesmo casados podem morar sós em casas separadas e que o mercado deve estar atento. “Um exemplo são os pacotes de açúcar e arroz de dois quilos. Em muitos supermercados, as embalagens menores vendem até mais que aquelas com cinco quilos”, admite. O preço, outro desafio para os solteiros, que muitas vezes, proporcionalmente, pagam mais por embalagens menores, só pode ser resolvido com a escala. “Quanto mais produção a indústria tiver, mais barato vai se tornar o produto.”
ESPAÇO Depois de procurar por muito tempo um apartamento de um quarto, Tatiana desistiu da busca por achar caro o preço praticado no mercado para a modalidade e há dois anos optou por comprar um imóvel de dois dormitórios, onde sobra espaço para hospedar estrangeiros e complementar a renda. “Aos poucos estou decorando o apartamento. Reconheço que sou uma consumidora exigente e quero comprar bons produtos para a minha casa”, diz.
Os bares, restaurantes e setor de entretenimento já captaram a força do consumo dos solteiros e apostam no lucro. Alexandre Pampolini inaugurou há cerca de 14 meses a casa de shows Woods. Ele fez investimentos próximos a R$ 5 milhões e diz que a rede tem planos de expansão. “Entre 70% e 80% do nosso público é de solteiros.” Há mais de 10 anos no ramo de festas e eventos voltados para o perfil, ele desenvolveu espécie de expertise no tema. “Os solteiros permanecem por mais tempo na casa de shows e consomem produtos mais caros. Enquanto os casados gastam em torno de R$ 100 por pessoa, o solteiro consome entre R$ 150 e R$ 180”, compara.
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PALAVRA DE ESPECIALISTA
Grande nicho
“Ao contrário das famílias, os solteiros não costumam olhar pequenas diferenças de preços, tendem a buscar produtos de boa qualidade. É um grande nicho promissor, que deve ser pensado pelos diversos setores da economia. No caso da alimentação, os micro e pequenos negócios começam a explorar o segmento, oferecendo produtos diferenciados, embalados em porções menores e congelados. É uma área promissora para a prestação de serviços em domicílio, incluindo até a moda diferenciada e exclusiva, atendendo a estilos. E é um mercado que deve ser observado pela grande indústria de automóveis, pelos setores imobiliários e turísticos. Hoje, um pacote de viagem, por exemplo, custa mais caro para quem os sozinhos e esse é um ponto de atenção para hotéis. Pesquisas apontam que, em média, o solteiro com idade próxima aos 30 anos tem renda mensal acima de R$ 2 mil.” - Mara Veit, gerente de atendimento ao empreendedor do Sebrae-Minas