Mostrando tendência mundial, pesquisa do Ministério do Turismo sobre o perfil do visitante estrangeiro no Brasil mostra que 38,5% deles viajam sozinhos e têm renda mensal média de US$ 3,5 mil. O percentual é maior que o das famílias, que representam 24,7% dos visitantes estrangeiros no país, e que casais sem filhos que somam 17,9%.
Há três meses, a analista de comunicação Janaína Rochido, de 33 anos, deixou a casa dos pais e passou a somar no grupo daqueles que moram sozinhos. Janaína, que assumiu as contas e passou a ir ao supermercado com mais frequência, reclama do formato dos alimentos, que estragam na geladeira, mas é no turismo que está sua maior queixa. Ela aponta preconceito das pessoas e também das agências de viagens em relação a uma mulher viajar sozinha e diz que a diferença no valor de um passeio só ou acompanhado é grande. “Primeiro, eles te perguntam muitas vezes se realmente você vai sozinha. Quando ficam convencidos de que essa é a sua escolha, te mostram os preços. Como viajo, geralmente, com pacotes de agência, acabo pagando o dobro. Quando fui para a Europa, por exemplo, acabei pagando R$ 1 mil a mais do que se tivesse ido com alguém.”
CONTA MAIS PESADA Desse problema a engenheira Tatiana Paiva também compartilha. Apesar de não viajar com pacotes, ela conta que, estar só em um passeio custa mais caro porque, muitas vezes, a conta do táxi não pode ser dividida, assim como um prato da refeição em um restaurante. No entanto, produtos que poderiam ter preços melhores ainda custam caro. “Não há hotéis com muitas opções de quarto para uma pessoa, então, o viajante solteiro acaba gastando mais”, ressalta.
Maarten Van Sluys, consultor na JR & MvS, especializada no segmento de hotelaria, admite que o setor ainda precisa acordar para o potencial desse enorme público consumidor. “Os primeiros a atentar para isso e sair na frente foram os hotéis econômicos, que já oferecem tarifas melhores, assim como espaços que proporcionam o relacionamento entre as pessoas.” Segundo o especialista, os cruzeiros oferecem boas opções a esse público, no entanto, destinos como os resorts em praias ainda focam famílias e grupos. “As opções em resorts ainda são muito fracas no Brasil. Não se comparam às alternativas oferecidas em regiões como o Caribe, México ou Espanha.”
As famílias são o grande público das agências de turismo, mas solteiros que viajam sozinhos ou com amigos já chegam a 20% do total, em algumas empresas. À frente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Minas (ABIH-MG), Patrícia Coutinho diz que os solteiros, no geral, quando viajam sozinhos, procuram hospedagens como os hostels, propícios ao relacionamento. Segundo ela, a busca por acomodação individual em hotéis de quatro e cinco estrelas é mais focada no turismo de negócios.