O superintendente adjunto de ciclos econômicos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Aloísio Campelo, disse nesta quarta-feira, que não está vendo ainda um ponto de inflexão na produção industrial. Ele fez esta afirmação mesmo considerando a subida em agosto de 1,4% do Índice de Expectativas (IE), uma das variáveis medidas pela Sondagem da Indústria de Transformação, divulgada hoje.
"Não estou vendo ainda um ponto de inflexão na produção industrial", disse Campelo. Para ele, trata-se de um quadro de "devolução mínima" do aprofundamento da queda da atividade industrial em junho e julho. Os indicadores de confiança da indústria, bem como sua produção física, já vinham em ladeira abaixo desde o início do ano.
Agora, os empresários da indústria que responderam à sondagem da FGV esperam que haja uma normalização da demanda. "Mesmo que a produção industrial cresça em julho e agosto, não reverte a trajetória de queda. Um eventual crescimento em agosto compensa minimamente a queda acentuada na Copa, porque há um carry over (carregamento estatístico) negativo muito forte sobre a produção industrial", disse Campelo.
Além disso, segundo o economista, os indicadores negativos no âmbito da Sondagem da Indústria da Transformação da FGV são numericamente maiores que os poucos indicadores positivos. "A indústria da transformação destoa um pouco dos demais setores (da economia)", alertou Campelo. No que diz respeito ao emprego, por exemplo, segundo ele, está pior.
Isso justifica a queda de 1,2% entre julho e agosto do Índice de Confiança da Indústria (ICI), para 83,4 pontos, resultado análogo aos de períodos de recessões. Para efeito de comparação, segundo Campelo, entre 2001 e 2003, período de crises no País, o ICI atingiu graduações como 86,6 pontos e 78,1 pontos.
De qualquer forma, para Campelo, com o crescimento de agosto, a expectativa da indústria saiu do fundo do poço. Mas não se pode, por causa disso, inferir que o setor pode engrenar uma arrancada rumo ao crescimento, até porque a indústria de transformação trabalha em tempos diferentes em relação aos demais setores em termos de adoção de medidas decisórias.
Outro ponto destacado por Campelo é que a produção física da indústria é muito influenciada pelos ruídos de curto prazo. Isso pode significar dizer que, dissipados os efeitos pertinentes à Copa do Mundo, a indústria poderá começar a responder aos efeitos eleitorais que tem imprimido mais incertezas ainda sobre um quadro que já é de muitas dúvidas.
"Mesmo que a produção industrial cresça em julho e agosto, não dá para dizer que será suficiente para reverter uma tendência de queda que vem de há muito tempo", disse Campelo, segundo o qual os indicadores também não oferecem segurança para se concluir que "estamos em uma recessão". De acordo com ele, o que os indicadores estão de fato mostrando é que o crescimento do Indicador de Expectativas em agosto não é suficiente para dizer que a produção vai se recuperar.