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Estado de Minas

Copa do Mundo rende prêmio e histórias ao aeroporto de Confins

Eleito o melhor em atendimento aos passageiros mesmo em obras, terminal na Grande BH também foi palco de casos pitorescos que marcaram o Mundial


postado em 28/08/2014 06:00 / atualizado em 28/08/2014 07:21

Presidentes africanos vão às compras de eletrodomésticos nas Casas Bahia. Um piloto tenta dar uma “carteirada” para antecipar o voo de um megaempresário em seu jatinho particular, depois de um jogo em Belo Horizonte. Responsável por coordenar as ações de controle de tráfego aéreo, o chefe do Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA), coronel Ary Rodrigues Bertolino, contou ao Estado de Minas alguns dos casos mais pitorescos que aconteceram nos principais aeroportos do país durante o evento esportivo. Em Confins, além de casos inusitados, entra para a história o prêmio conquistado pelo terminal ainda em obras, que foi eleito o melhor em atendimento ao passageiro em pesquisa realizada pela internet e no desembarque. O Prêmio Boa Viagem foi entregue ontem, em Brasília. No ranking geral, o grande vencedor foi o aeroporto de Curitiba (PR).

Entrega rápida

O telefone da casa do chefe do Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA), Ary Rodrigues Bertolino, toca: “Alô, coronel, aqui é das Casas Bahia”, escuta o comandante. Do outro lado da linha, o funcionário da rede varejista tenta agendar o melhor horário para a entrega de encomendas nos aeroportos durante a Copa do Mundo. Não que novos equipamentos tenham sido adquiridos para melhorar a rede aeroportuária, mas tratavam-se de compras feitas por chefes de Estado de países africanos. Os políticos de Angola, Nigéria e Gana vieram para acompanhar o evento esportivo e, ao voltar, levaram na bagagem TVs, geladeiras, fogões e outros eletrodomésticos. Só a delegação angolana veio para o Brasil com quatro aviões oficiais.

Estatuto do idoso


No jogo das oitavas de final entre Brasil e Chile, disputado no Mineirão, o aeroporto de Confins passaria por seu primeiro teste de fogo. Centenas de aeronaves eram esperadas para trazer torcedores, horas antes do jogo, e levá-los de volta depois, congestionando o espaço aéreo. Depois da vitória da Seleção Brasileira na disputa por pênaltis, milhares de torcedores que não iriam dormir na cidade seguiram direto para o aeroporto. Era preciso paciência para conseguir decolar, sendo a preferência das aeronaves regulares. Apesar de todos saberem seus horários dias antes, ansiosos, os pilotos de aviação executiva tentavam antecipar a partida, a pedido de seus chefes. Sem sucesso nos pedidos, um deles tentou usar o Estatuto do Idoso para voar antes. “Meu cliente tem mais de 60 anos”, insistiu o piloto na ‘carteirada’, que teve que esperar algumas horas com os passageiros já na aeronave.

Batalha do Galeão

A final da Copa do Mundo bateu todos os recordes de movimentação aérea em um só dia. Os terminais cariocas registraram 1.761 pousos e decolagens na segunda-feira seguinte ao jogo entre Argentina e Alemanha. Só no Galeão foram 852 movimentos. O alto fluxo obrigou parte da equipe do CGNA a passar a madrugada acordada para controlar o tráfego. As mais de 36 horas de trabalho initerruptas foram apelidadas de A Batalha do Galeão. Detalhe: caso o Brasil tivesse se classificado, segundo a diretoria do órgão, a expectativa era que movimento fosse dobrado.

Invasores desinformados


Assim como em outros grandes eventos, o Decea dividiu o espaço aéreo em áreas coloridas, de acordo com a liberdade de tráfego em dias de jogos. Nos raios mais próximos aos estádios, nenhuma aeronave teria autorização para sobrevoar, sob o risco de serem abatidas por caças da Força Aérea. No setor vermelho, ninguém entrou, mas, o amarelo, alguns pilotos invadiram sem autorização, obrigando os caças a ficar de prontidão e acompanhar a saída das aeronaves da região proibida. “Não precisou de tiro de alerta”, diz o coronel Ary Bertolino. Ele explica que os “invasores” não eram terroristas, mas, sim, pilotos de grandes empresários desinformados, que, na maioria dos casos, voavam entre duas fazendas.

VIPs, pero no mucho

Se as delegações africanas usaram os aviões para transportar compras feitas no Brasil, um avião da Força Aérea Colombiana que desembarcou em Guarulhos trazia a tiracolo 200 passageiros. O detalhe é que as aeronaves oficiais são isentas do pagamento das taxas aeroportuárias, mas, ao perceber que o avião oficial fazia o transporte de pessoas comuns, foi feito o descredenciamento e todos foram obrigados a pagar as tarifas.

Lotação (quase) esgotada

O duelo entre Inglaterra e Itália, em Manaus, era um dos mais aguardados da primeira fase da Copa do Mundo. Milhares de torcedores viajariam para a capital amazonense para assistir ao jogo. No dia, a demanda foi tão grande que dezenas de aeronaves praticamente lotaram o pátio do aeroporto. Horas antes do jogo, restavam apenas duas vagas para o estacionamento de aviões. Caso novas demandas surgissem de última hora, extrapolando o limite do pátio, a solução seria deslocar as aeronaves para outros aeroportos. No caso de Manaus, o problema seria a distância em relação aos demais terminais. O planejamento, no entanto, evitou que torcedores perdessem o jogo.

Dinheiro com escolta

O pitoresco caso do avião fretado pela Seleção Ganesa para pagar a premiação prometida aos jogadores, que ameaçavam nem entrar em campo caso não recebessem, obrigou o Exército, a Polícia Federal e a Aeronáutica a montar um mega-esquema de segurança para escoltar por céu e terra os US$ 3 milhões. Em comboio, os carros da empresa de transporte de valores foram acompanhados de perto até o dinheiro ser distribuído – e até beijado – entre os jogadores.

Direto para casa


Autorizados a ingressar no país com torcedores dos Estados Unidos, quatro aeronaves pousaram em Natal, onde a seleção jogaria contra Gana. Dias depois, elas seguiram para Manaus, palco do jogo dos americanos contra Portugal. Mas o trecho nacional é proibido para companhias estrangeiras, o que forçou o controle de tráfego a descredenciar os aviões e obrigá-los a sair do país imediatamente.

Um slot, por favor

Meses antes do início da Copa do Mundo, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) anunciou que iria redistribuir os slots (a hora prevista de chegada ou partida do avião) dos aeroportos das cidades-sede para atender à demanda do evento. Um período foi dado para as companhias aéreas e outro para a aviação geral. No primeiro dia disponível, sem saber ao certo o que era um slot, um piloto executivo se apresentou para obter um, pensando se tratar de algo palpável, um objeto. Os responsáveis pelo setor tiveram que explicar ao desavisado o que era o tal slot, além de lembrar que o pedido deveria ser feito pela internet.

Turista colombiano é atendido em guichê de informações em Confins (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press - 07/07/2014)
Turista colombiano é atendido em guichê de informações em Confins (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press - 07/07/2014)

Aprovado com louvor


O Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, foi eleito o melhor entre 15 terminais avaliados em atendimento ao turista durante a Copa do Mundo. A eleição foi feita por voto popular, via internet. O Prêmio Boa Viagem, da Secretaria de Aviação Civil (SAC) e da Embratur, foi anunciado ontem. Confins também foi considerado o aeroporto com o melhor controle migratório, segundo a percepção de passageiros entrevistados no próprio desembarque, ao longo do evento esportivo. O Aeroporto Internacional Afonso Pena, em Curitiba, foi escolhido o melhor da Copa na avaliação geral dos passageiros.

O prêmio, que está em sua segunda edição, analisa oito categorias: check-in, restituição de bagagem, inspeção de segurança, ambiente aeroportuário, controle migratório, controle aduaneiro e, a principal, melhor aeroporto. Quatro aeroportos foram agraciados nas oito categorias: além de Curitiba, receberam o troféu os aeroportos de Confins, Brasília e Congonhas. Esta é a segunda vez que o maior aeroporto de Belo Horizonte obtém destaque na premiação. No ano passado, na Copa das Confederações, Confins foi premiado em quatro categorias: check-in, controle migratório, controle aduaneiro e, mais uma vez, restituição de bagagem.

O melhor apoio ao turista é escolhido por meio de um questionário com cinco perguntas que buscam avaliar itens como atendimento em língua estrangeira, atendimento geral ao viajante, acessibilidade e disponibilidade de transporte coletivo. Na mais recente pesquisa trimestral de satisfação do usuário feita pela SAC, Confins já era considerado o aeroporto com melhor transporte público entre os 15 avaliados (nota 4,59, de zero a 5). Durante a Copa do Mundo, embora o aeroporto já tivesse sido concedido ao consórcio BH Airport, permaneceu sob o controle da Infraero.

Para o prêmio, foram feitas 11.984 entrevistas com passageiros, entre os dias 4 e 21 de junho. O objetivo da premiação, criada em 2013, é estimular a melhoria da prestação de serviços nos aeroportos. “É uma imensa satisfação entregar esses dois prêmios a Confins, um aeroporto que sofreu críticas antes da Copa por ter obras ainda em curso durante o evento”, disse o ministro da Aviação Civil, Moreira Franco. “Isso mostra que a equipe do aeroporto soube se superar e prestar um serviço de excelência ao passageiro.”


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