Em tempos de vendas em queda, as concessionárias de veículos estão fazendo de tudo para vender e desovar os estoques de veículos. Parcelamento do valor da entrada em até 10 vezes sem juros no cartão de crédito, taxa zero em financiamentos com até 24 parcelas, além de bônus como emplacamentos e pagamento integral do IPVA. As ações, de acordo com as concessionárias ouvidas pelo Estado de Minas estão rendendo bons resultados e chegaram a alavancar em até 20% as vendas de carros novos no últimos mês, diferente do que indica o balanço divulgado pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), que aponta uma queda de 7,38% em agosto na comparação com julho e uma queda de 17,12% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Na concessionária Pisa, revendedora da marca Ford, as vendas caíram apenas 0,82% em agosto, se comparado ao mesmo período do ano passado. O gerente de vendas de veículos novos da concessionária, Antônio Longuinho da Costa, avalia que o número é bom, se levado em conta a atual situação econômica do país, com inflação em alta, corroendo a renda das famílias. Ainda de acordo com Longuinho, os estoque da revenda está normal, para um período de 40 dias. “O público da Ford é diferenciado e não caiu tanto se comparado a outras marcas. Além disso, temos taxa zero nos financiamentos para toda linha, que podem ser negociados de acordo com o perfil de cada consumidor”, explicou.
Já na Carbel, concessionária da marca Volkswagem, o gerente de atendimentos de veículos novos, Paulo César Gouveia de Freitas afirma que houve um incremento de 15% nas vendas na última quinzena de agosto, resultado de uma ação promocional que promete taxa zero para vários modelos da marca e com vencimento da primeira prestação apenas em dezembro. “As vendas estavam baixas, mas conseguimos reverter com essa campanha. Além disso, oferecemos outros benefícios aos clientes, como o valor da entrada de até R$ 15 mil parcelado em 12 vezes no cartão de crédito”, afirma Paulo, que completa dizendo que 30% das transações feitas na concessionária são fechadas dessa forma. O gerente afirma também que o estoque da agência é para 23 dias, média que fica abaixo do que é considerado normal que seria de 30 a 45 dias.
Apesar de ter registrado uma alta de 19% nas vendas no último mês, o gerente de vendas de veículos novos da Tecar, revendedora Fiat, Wesley Henriques de Souza, ainda é cauteloso em dizer que o mercado está reagindo. De acordo com ele, mesmo com a alta nas vendas em agosto comparado a julho, os estoques estão altos, girando em torno de 60 dias, e em relação a agosto de 2013, a queda é de 12%. Segundo ele, as expectativas são melhores para o segundo semestre, tendo em vista as vantagens oferecidas ao clientes como descontos e benefícios como emplacamento e IPVA grátis.
Das concessionárias ouvidas pelo EM, a única que apontou queda nas vendas em agosto foi a Jorlan, da marca Chevrolet. No entanto, o supervisor de vendas de veículos novos, Lúcio Aguiar, é otimista e acredita numa recuperação a partir desse mês com novas políticas de descontos e uma tabela especial de financiamento que começaram a ser operadas na última semana e chegaram a aumentar as vendas em até 20%.
Crédito barato
Outra ação que deixou revendedores otimistas, prevendo alta nas vendas nos próximos meses, é a concessão de crédito mais barato, movimento facilitado pelas recentes alterações de regras do Banco Central que visam garantir acesso mais fácil ao financiamento de veículos. Desde o último fim de semana, os bancos começaram a anunciar taxas de juros abaixo 1% ao mês. No entanto, as mais baixas são para financiamentos mais curtos, com no máximo dois anos. Apenas o Banco do Brasil anunciou taxas menores, de 0,97% ao mês para veículos novos, em até 60 parcelas.
No Itaú Unibanco, por exemplo, os juros passaram de 1,30% para 0,99% ao mês para financiamentos de veículos zero em até 24 meses. Já o Santander anunciou redução das taxas de juros passando para 0,97% ao mês, para financiamentos em até um ano para carros novos e usados. A Caixa vai promover, de quinta-feira a sábado, um feirão em mais de 1,1 mil concessionárias em todo o Brasil. A ação prevê uma linha de financiamento para a compra de carros novos ou usados com taxas de juros a partir de 0,93%.
Fábricas retomam produção
Rio de Janeiro – Passados cinco meses de queda, a indústria do país esboçou uma retomada e cresceu 0,7% em julho, em relação a junho – mês em que a produção caiu 1,4% –, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Embora positivo, o número de julho não compensa a perda acumulada neste ano (2,8%), e os sinais à frente também não são alentadores, na avaliação de economistas.
Para André Macedo, gerente do IBGE, os resultados de julho foram turbinados por uma recuperação “natural” após cinco meses de fraca produção. Não se sabe ainda, diz, se haverá retomada. “O que vemos é um quadro de espalhamento do crescimento da indústria, que ocorre após um longo período de baixa. Outro fato é que tivemos um julho mais gordo, com mais horas destinadas à produção”. Parte significativa do crescimento da atividade em julho veio do maior número de dias úteis naquele mês, em relação ao mês anterior. Embora a Copa do Mundo tenha ocorrido nos dois meses, em junho o efeito do torneio sobre a produção foi maior, porque houve mais feriados.
Na visão de analistas, a indústria deverá manter um ritmo fraco de atividade até o fim deste ano, já que não há mudança do cenário atual da economia brasileira à vista. Macedo afirma também que a indústria ainda sofre com a maior concorrência de importados, crédito em condições menos favoráveis, juros maiores e consumo em desaceleração.
Para Thaís Marzolla Zara, da Rosenberg & Associados, a leve alta de julho não “altera o quadro ruim” da indústria. “A única boa notícia”, pondera, é que houve uma redução de estoques tanto em junho quanto em julho. Isso aponta “para um segundo semestre um pouco melhor.”
Setores
A discreta retomada em julho decorreu especialmente do bom desempenho dos chamados bens duráveis, com alta de 20,3%, a maior desde janeiro de 2009. A categoria foi impulsionada pelo aumento da produção de veículos – após meses de fraco dinamismo, demissões e férias coletivas em montadoras. Também ajudou no desempenho do mês a retomada da produção de bens de capital (máquinas e equipamentos na produção de bens, na infraestrutura e na oferta de serviços, como transporte). A categoria apresentou alta de 16,7%, o melhor resultado desde janeiro deste ano.
Pelos dados do IBGE, a alta em julho foi generalizada: 20 dos 24 setores pesquisados produziram mais do que em junho. De um mês para outro, os destaques positivos ficaram com informática e eletrônicos (44,1%), veículos (8,5%) e outros equipamentos de transporte (31,3%) – os dois últimos foram puxados por automóveis e motos, respectivamente.
Já as quedas mais expressivas foram registradas por alimentos (6,3%) e refino de petróleo e álcool (2,6%) – esse sob impacto da parada de refinarias da Petrobras por causa de acidentes e para a realização de operações de manutenção.