Acompanhar o sobe-e-desce da Bolsa e manter a cabeça fria e focada no longo prazo não é tarefa para todos, principalmente para os investidores mais jovens.
Quando começou a investir em ações em 2007, o administrador Marcelo Buzzi, hoje com 28 anos, sentia na pele o dia a dia da volatilidade do Ibovespa. Enquanto acompanhava as notícias e os índices, ele não conseguia deixar de pensar no seu dinheiro investido em ações - e se era hora de vender ou manter os investimentos. "A volatilidade me incomodava muito", diz. Nos últimos anos, o administrador mudou de foco e passou a investir em fundos multimercado. Apesar de ter ações em sua composição, os fundos têm gestão profissional, o que livra o investidor das preocupações diárias sobre o dinheiro aplicado.
No fim de 2010, a Bolsa - pela única vez - passou a marca de 600 mil CPFs cadastrados. Desde então, a curva oscila entre estabilidade e queda. O mercado brasileiro fechou 2013 com 589 mil investidores pessoas físicas. Já o Ibovespa registrou queda de 15,5% no ano passado - o pior desempenho entre as principais bolsas do mundo. Neste ano, em razão das expectativas eleitorais, o Ibovespa tem forte volatilidade, mas acumula alta de 10,5%. Neste ano, nenhuma empresa fez oferta pública de ações (IPO, na sigla em inglês) na BM&F Bovespa, mas o governo divulgou medidas para incentivas os IPOs de pequenas e médias empresas.
Onde está o jovem
Na avaliação de especialistas e agentes de mercado, o jovem tem dificuldade de se manter na Bolsa pela falta da visão de longo prazo. Outros fatores influenciam, como as incertezas sobre os rumos da economia do país. Além disso, a rentabilidade da renda fixa é mais atrativa.
Na visão de Eduardo Glitz, diretor de varejo e sócio da XP Investimentos, o jovem é mais suscetível a investir na Bolsa quando o produto "está na moda". "O cliente mais velho, por outro lado, consegue assimilar melhor que a Bolsa é um investimento de longo prazo".
Segundo ele, a redução da taxa básica de juros, a Selic, para mínima histórica de 7,25% ao ano em outubro de 2012 não durou o suficiente para levar o investidor para os riscos da renda variável. De volta a um ciclo de alta, a taxa Selic - hoje em 11% ao ano - mantém a renda fixa atrativa. "Houve muita migração de investidores para as debêntures incentivadas e Letras de Crédito Imobiliário e Agrícola, que também são isentas de Imposto de Renda", lembra Glitz.
Na visão de Caio Cordeiro, presidente da Ação Jovem, associação que trabalha para estimular e divulgar a cultura do investimento no Brasil, hoje o jovem poupa menos. "Com a inflação maior e as pessoas endividadas, não sobra dinheiro", diz. Segundo ele, quando a Ação Jovem começou a atuar, em 2003, o principal objetivo das palestras e cursos era a divulgação dos tipos de investimentos. Hoje, o foco está em um passo atrás: como organizar as finanças para sobrar dinheiro.
"Atendemos jovens de várias classes sociais, a maioria aprende dando murro em ponta de faca. Pegando crédito e gastando. Mas tem pouco contato com produtos financeiros e baixa visão de longo prazo", conta.
Na parcela dos jovens que consegue investir, Cordeiro observa uma migração forte para fundos imobiliários e produtos previdenciários.
Ápice de Bolsa
No auge da euforia, entre 2006 e 2007, o número de investidores pessoas físicas chegou a dobrar de um ano para o outro. "Foi um momento de muito crescimento mundial e de boas notícias sobre a economia brasileira", avalia o consultor financeiro Conrado Navarro. Segundo ele, essa conjuntura chamava a atenção para a renda variável. "Mas enquanto a renda fixa pagar muito, o conceito de um investimento de risco no Brasil será menos difundido", diz.
Em parte, o aumento dos mais velhos na Bolsa é consequência do envelhecimento daqueles que entraram na Bolsa massivamente entre 2006 e 2007. Mesmo assim, os indicadores do perfil do investidor revelam que, na ponta, a entrada dos mais jovens no mercado de ações caiu.
Aplicações
Historicamente, são as pessoas com mais de 66 anos de idade que têm mais dinheiro em ações. Dos R$ 124 bilhões aplicados na Bolsa até agosto, 44,4% estavam em poder dessa faixa etária. Enquanto isso, os investidores com idades entre 26 e 35 anos respondiam por 3,8% das aplicações.
Recentemente, a BM&F Bovespa informou que está contratando um estudo para retomar o plano de alcançar cinco milhões de CPFs. Procurada pela reportagem, a Bolsa não quis comentar os dados sobre o perfil do investidor.