Com o corte, o FMI prevê que o Brasil crescerá apenas 10% da média mundial, cuja alta é estimada em 3,3% este ano, e menos ainda se comparado com a expansão projetada para as economias emergentes, de 4,4% em média. Somente Itália, em recessão, e Rússia, que sofre com embargos por conta do conflito com a Ucrânia, devem crescer menos do que o Brasil este ano. Se a previsão do FMI for confirmada, será o segundo pior resultado desde 1998, quando a economia não registrou crescimento, à frente apenas da queda de 0,3% verificada em 2009, em plena crise mundial.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que o governo mantém a previsão de 0,9% de crescimento da economia brasileira para este ano. “Só em novembro, quando fizermos novo relatório (bimestral de receitas e despesas) é que vamos rever ou não a nossa previsão de PIB”, disse.
O Fundo também reduziu suas projeções para 2015: avanço de 1,4%, abaixo dos 2% esperados anteriormente. As previsões para o PIB brasileiro do FMI estão abaixo do que espera o governo, que estima crescimento de 0,9%, mas acima do projetado pelo mercado. Segundo o Boletim Focus, que reúne as 100 maiores instituições financeiras do país, a expansão será de 0,24% em 2014 e de 1% em 2015.
No relatório, o FMI pontuou os motivos que levaram à revisão. “No Brasil, o PIB se contraiu no primeiro semestre do ano, refletindo o investimento fraco e uma moderação no consumo, devido a condições financeiras mais apertadas, à queda continuada nos negócios e à confiança do consumidor. Esses fatores, juntamente com a fraqueza da competitividade, deverão manter o crescimento moderado na maior parte da 2014”, assinalou o documento.
Na avaliação do economista-chefe do FMI, Olivier Blachard, o desafio dos governos “é restabelecer a confiança dos agentes”. O fundo analisou que as condições externas foram desfavoráveis, já que as exportações não cumpriram as expectativas e os termos de comércio se deterioraram em vários países. Porém, ressaltou que, “em determinados mercados, as incertezas da política econômica afetaram a confiança e os investimentos”.
PRODUTIVIDADE A fraca competitividade do Brasil também é destacada pelo relatório do FMI para justificar o corte na previsão de crescimento. O FMI alertou que o Brasil e outros países da América Latina precisam enfrentar problemas estruturais, sob o risco de os níveis de investimento privado continuarem fracos e a atividade econômica desaquecida. “A política econômica adotada pelo governo, com estímulo do consumo por meio do endividamento, se esgotou. O país precisa se reinventar, focar investimentos e produtividade para crescer”, ponderou Flávio Serrano, economista sênior do Banco Espírito Santo (BES).
Com pesada carga tributária, juros elevados e sem confiança na condução da política econômica, as empresas pararam de investir. A taxa de investimento, que deveria ser de 25% do PIB, está em 16,5%. “Com a inflação alta e o crédito mais caro, as famílias frearam o consumo. O mercado de trabalho deu uma enfraquecida. Ainda que o desemprego continue baixo, o emprego já caiu. E o governo continua insistindo em pilotar a macroeconomia com ações microeconômicas”, acrescentou Serrano.
O FMI também destacou que condições adversas, como inflação no topo da meta e deterioração das contas externas em vários países da América Latina apontam para um limitado arsenal de medidas dos governos para estimular a atividade. Por isso, o relatório fala da necessidade urgente de reformas estruturais.
Longe de ser otimista, a previsão do Banco Mundial para o Brasil, de 0,5%, é menos ruim do que a do FMI, apesar de muito abaixo da média apontada para a América Latina, que deve crescer 2,7%. O economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, Augusto de la Torre, disse que esse índice só será superado, no futuro, se o país adotar uma série de agendas. “O Brasil está no meio de um debate fundamental sobre como reconstruir o crescimento e isso passa por grandes agendas”, afirmou. A principal seria fazer uma política econômica capaz de atrair investimentos.
Estatais lideram alta
O clima eleitoral continuou ditando o ritmo dos negócios no mercado financeiro, ontem. Empurrada pelas indicações de que a ex-senadora Marina Silva deve anunciar o apoio ao candidato do PSDB, Aécio Neves, no segundo turno das eleições presidenciais, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), resistiu à influência de baixa vinda do exterior e emendou a quarta alta consecutiva, com forte valorização das ações de empresas estatais. Num cenário global marcado pelo desânimo, a bolsa brasileira foi a única, entre as principais do mundo, a fechar em terreno positivo. No fim do dia, o Ibovespa, principal indicador do pregão, mostrou elevação de 0,56%, aos 57.436 pontos.
As ações de estatais, vistas como as mais afetadas pela política intervencionista do governo, voltaram a registrar altas expressivas. As ordinárias da Petrobras subiram 3,90%, chegando a R$ 19,95, enquanto as preferenciais deram um salto de 4,02%, para R$ 21,21. Com os mais de 11% ganhos na véspera, o valor de mercado da petroleira aumentou R$ 34 bilhões em apenas dois dias, segundo cálculos dos analistas, devolvendo à companhia o título de maior empresa brasileira, que ela havia perdido para a Ambev. Também mostraram força os papéis ordinários do Banco do Brasil, que tiveram ganho de 3,88% e da Eletrobras, com avanço de 3,17%.