A fábrica de alumínio primário da multinacional Novelis em Ouro Preto, sucessora da antiga Alcan, na Região Central de Minas Gerais, será desativada em dezembro, como resultado da decisão anunciada ontem pela companhia de concentrar sua operação brasileira na produção de chapas, folhas e reciclagem de alumínio. A agonia da fábrica, que está completando oitenta anos, começou depois da crise financeira mundial de 2008, quando áreas da unidade industrial foram desmontadas até que em 2010 o sindicato local dos metalúrgicos buscou apoio do governo estadual para discutir alternativa ao fechamento. A dispensa dos 350 funcionários, quadro de pessoal que chegou a 3 mil pessoas nos anos 80, será negociada com o sindicato, informou a empresa por meio de nota.
Os empregados se reúnem em assembleia hoje, às 17h, para discutir a situação da fábrica e a proposta do sindicato de manter a mobilização pela continuidade da fábrica. De acordo com o diretor da entidade, Walber Luiz Mapa, no ano passado a Novelis desativou a segunda linha de redução de alumínio, com a promessa de preservar uma terceira linha e a produção, que é de 18 mil toneladas de tarugos por ano. “Nossa premissa é de que o fechamento representaria um grande passivo trabalhista e ambiental”, afirma
Por meio de nota divulgada à imprensa, a companhia, que é líder mundial em laminados e reciclagem de alumínio, justificou o encerramento das atividades na cidade histórica como parte de sua estratégia global. “A Novelis está construindo um futuro sustentável, transformando seu negócio em um modelo com alto conteúdo de material reciclado”, disse Tadeu Nardocci, vice-presidente sênior e presidente da Novelis América do Sul. A companhia mencionou ainda “questões estruturais que afetam toda a indústria de alumínio primário no Brasil, impactando o custo da operação e sua competitividade”.
As indústrias eletrointensivas, como é o caso das fornecedoras de alumínio, têm sido afetadas pelo aumento dos preços da energia, insumo que tende a se tornar mais caro em 2015, devido ao acionamento das termelétricas, diante da seca que compromete a geração hídrica no país. O maior impacto do fechamento da fábrica da Novelis, adquirida pela companhia em 1950, será o social, avaliou o secretário municipal da Fazenda, Adriano Jardim. Além dos trabalhadores do quadro próprio da empresa, há cerca de mais 400 pessoas nas empresas prestadoras de serviços à fábrica. “A prefeitura está estudando que medidas poderão ser tomadas para orientar os empregados numa recolocação no mercado de trabalho”, afirma. A secretaria está levantando dados sobre a participação da unidade na arrecadação de impostos, no entanto, entende que a contribuição financeira é menos expressiva que os efeitos do desemprego na economia local.
Representantes da empresa e do sindicato dos metalúrgicos de Ouro Preto iniciam no dia 23 a negociação sobre a dispensa dos trabalhadores. Segundo o sindicalista Walber Mapa, uma das preocupações são mais de 300 processos individuais ou coletivos nos quais a instituição dos trabalhadores atuou e representa envolvendo a discussão de direitos sociais não reconhecidos pela companhia, a exemplo da aposentadoria especial.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Novelis informou que uma equipe de profissionais de assistência social está atuando na fábrica em auxílio a empregados e familiares. A nota destaca que a empresa pretende manter programas voltados para a comunidade e continuará gerenciando um centro de coleta de latas em Juiz de Fora na Zona da Mata mineira.
Indústria do aço sofre novo baque
Termômetro da demanda da indústria, a produção e o consumo de aço no Brasil voltaram a cair em setembro, como reflexo da retração da economia e da crise internacional, além dos efeitos do excesso de capacidade da produção siderúrgica no mundo. A produção alcançou 2,9 milhões de toneladas no mês passado, representando queda de 3,8% frente a idêntico período de 2013 e no acumulado deste ano retraiu 1,3%, de acordo com dados do Instituto Aço Brasil (IABr). Em 2013, já havia recuado 1%.
O chamado consumo aparente de aço, que considera a produção e as importações, descontadas as vendas externas somou 18,9 milhões de toneladas de janeiro a setembro, 5,5% menor na comparação com 2013, informou o presidente -executivo do IABr, Marco Polo de Melo Lopes. “A siderurgia brasileira passa por um momento de dificuldade, com perda de competitividade sistêmica, que foge ao controle das empresas”, afirma.
A boa notícia foi o desempenho das exportações, estimulado pela valorização do dólar. Nos primeiros nove meses do ano, as vendas externas alcançaram 6,8 milhões de toneladas, proporcionando receita de US$ 4,9 bilhões, um crescimento de 10,4% em volume e de 16,1% em valor, ante o mesmo período de 2013.