Os brasileiros não sabem quem vencerá as eleições neste domingo, mas estão certos de que 2015 deverá ser de atenção total às contas domésticas. Prevendo uma virada de ano nebulosa financeiramente, muitas famílias se convenceram da necessidade de serem mais cautelosas e disciplinadas nas decisões do dia a dia. As incertezas políticas e econômicas as levaram a adiar planos de consumo e fugir ao máximo dos financiamentos.
Com as famílias claramente mais cautelosas, a proporção de lares endividados com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial e outras prestações apresentou um leve recuo em setembro, ante o mês anterior, saindo de 63,1% para 60,2%, segundo dados da pesquisa de endividamento e inadimplência do consumidor divulgados ontem pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Também diminuiu o total de famílias que declaram não ter condições de pagar as contas em atraso: o indicador caiu de 5,9% para 5,4%, na mesma comparação. “Entretanto, entre as famílias com dívidas, o comprometimento da renda com esses pagamentos aumentou, acompanhando o custo elevado do crédito”, pondera a economista da CNC Marianne Hanson.
Pagar dívidas, há oito meses tem sido uma meta para a recepcionista Josiane das Mercedes, 32 anos e ao mesmo tempo um desafio para Giovana Siqueira, 37, que trabalha com serviços gerais. Josiane está pagando as prestações do seu cartão de crédito e vai chegar ao Natal “zerada”, sem contas pendentes. Em dezembro ela pretende comprar um guarda-roupas e uma cama nova, mas vai pagar os móveis à vista. “Não quero mais saber de prestação, os juros são muito altos quando atrasamos as parcelas”, observa. Josiane quer começar 2015 sem dívidas e dentro de dois meses atinge sua meta. Para Giovana, a situação é um pouco mais complexa. Ela não tem certeza se vai conseguir fechar o ano livre das dívidas. “Como esse ano tive muitos empregos temporários não terei o décimo-terceiro”, explica. Para o ano que vem, a profissional em serviços gerais está mirando um emprego de carteira assinada, mas de longo prazo, o que lhe dará meios para planejar melhor o seu orçamento.
Poupar Se não quiserem virar o ano com as contas tão incertas quanto o cenário, os brasileiros precisarão fazer uma faxina no orçamento doméstico, pontua o educador financeiro Reinaldo Domingos. Vale questionar com firmeza a necessidade do consumo e, vencendo a tentação dos gastos, reservar boa parte do 13º salário para a poupança. “Se existem dívidas, no entanto, quitá-las é a prioridade. Para os endividados, não faz o menor sentido encarar novos compromissos”, acrescenta.
Com o crédito mais caro e mais restrito, o comércio tende a oferecer parcelamentos mais tímidos neste fim de ano, com prazo de pagamento encurtado. Enquanto a economia não se acalmar, a “atitude preventiva”, defende Domingos, é os consumidores encararem prestações por, no máximo, três meses, no caso de bens duráveis. E o mais importante, completa ele, é levar a sério as “reservas estratégicas”. “As famílias terão de estar preparadas para situações de recessão”.
Cautela Francisco Johnes, 24, tira o próprio sustento dos bicos como pedreiro. Apesar de a demanda pelo serviço dele ter diminuído consideravelmente, as dívidas foram controladas. Mas o nome limpo na praça não o seduz. “O dinheiro está escasso. Quem tem está preferindo guardar”, diz ele, que mora com mais nove pessoas da família em um terreno ocupado por dois barracos. “Aqui, está tudo mundo apertado. Ninguém é doido de sair comprando mais”, emenda.
Consciente da situação atual, Francisco conta que, por pouco, não comprou um carro 0 km no mês passado. “Visitei a concessionária três vezes e os vendedores praticamente me imploraram”, detalha. Derrubaram o número de prestações e ofereceram o parcelamento do valor da entrada. “Preciso comprar um carro, mas não funciona assim. Não é só comprar e pronto”, afirma o pedreiro, torcendo para que a situação melhore em 2015. “Espero que as pessoas voltem a construir”.
No ano, calote cresce em BH
Embora o percentual de famílias com dívidas em atraso tenha registrado queda no país em setembro, em Belo Horizonte, o indicador de inadimplência do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), apontou alta de 5,62% no número de dívidas em atraso, de janeiro a setembro de 2014. Este é o maior índice de inadimplência dos últimos três anos, observando a mesma base de comparação. Frente a agosto, o número de dívidas em atraso apresentou aumento de 0,78%, e de 3,32% na comparação com setembro do ano passado. Segundo a CDL/BH em setembro, a maior parte dos débitos (26,47%) ficou concentrada entre os consumidores com idade entre 30 e 39 anos.. As dívidas em atraso têm valor médio de R$ 250.
Entre os endividados em todo o país, os mais atabalhoados são os jovens. Pesquisa divulgada esta semana mostra que quem têm entre 16 e 24 anos encontra mais dificuldade para controlar a vida financeira: quatro em cada 10 jovens brasileiros nesse faixa etária admitem não manter as contas em dia. Quanto mais velho, maior a proporção de consumidores que conseguem cuidar melhor dos gastos.
De acordo com o Indicador de Educação Financeira, elaborado pelo Serasa Consumidor em parceria com o Ibope, 62% dos entrevistados entre 25 a 34 anos dizem controlar bem as finanças. Entre 35 e 44 anos, esse percentual sobe para 66% e, entre 45 e 54 anos, alcança 67%. No grupo a partir de 55 anos, três quartos dos consultados pela pesquisa garantem saber zelar pelo dinheiro.
Impulso Os mais jovens, indica o levantamento, tendem a comprar de forma espontânea e imediata. “A população desse perfil não costuma planejar finanças de maneira consciente. Os jovens precisam evitar agir por impulso, para que não sofram as consequências do superendividamento”, diz o superintendente do Serasa Consumidor, Júlio Leandro.
A mesma pesquisa constatou queda na nota de educação financeira dada ao grupo de 16 a 17 anos – de 5,9 para 5,5 – e de 18 a 24 anos – de 5,9 para 5,8. A operadora de telemarketing Aline Carvalho, 22 anos, se enrolou nas dívidas assim que começou a trabalhar. “Consegui o primeiro emprego e exagerei. Comprei roupas, calçados e computador”, conta.
Nos primeiros meses de trabalho, Aline acumulou R$ 1 mil de contas atrasadas. O nome ficou sujo e somente um ano depois, a jovem teve condições de procurar as empresas para renegociar os débitos e tentar quitar de vez as pendências. “Aprendi a lição. Hoje, não deixo mais chegar nessa situação. Estou consciente e procuro não gastar tanto”, comenta a operadora de telemarketing. (MC e DA)
Com as famílias claramente mais cautelosas, a proporção de lares endividados com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial e outras prestações apresentou um leve recuo em setembro, ante o mês anterior, saindo de 63,1% para 60,2%, segundo dados da pesquisa de endividamento e inadimplência do consumidor divulgados ontem pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Também diminuiu o total de famílias que declaram não ter condições de pagar as contas em atraso: o indicador caiu de 5,9% para 5,4%, na mesma comparação. “Entretanto, entre as famílias com dívidas, o comprometimento da renda com esses pagamentos aumentou, acompanhando o custo elevado do crédito”, pondera a economista da CNC Marianne Hanson.
Pagar dívidas, há oito meses tem sido uma meta para a recepcionista Josiane das Mercedes, 32 anos e ao mesmo tempo um desafio para Giovana Siqueira, 37, que trabalha com serviços gerais. Josiane está pagando as prestações do seu cartão de crédito e vai chegar ao Natal “zerada”, sem contas pendentes. Em dezembro ela pretende comprar um guarda-roupas e uma cama nova, mas vai pagar os móveis à vista. “Não quero mais saber de prestação, os juros são muito altos quando atrasamos as parcelas”, observa. Josiane quer começar 2015 sem dívidas e dentro de dois meses atinge sua meta. Para Giovana, a situação é um pouco mais complexa. Ela não tem certeza se vai conseguir fechar o ano livre das dívidas. “Como esse ano tive muitos empregos temporários não terei o décimo-terceiro”, explica. Para o ano que vem, a profissional em serviços gerais está mirando um emprego de carteira assinada, mas de longo prazo, o que lhe dará meios para planejar melhor o seu orçamento.
Poupar Se não quiserem virar o ano com as contas tão incertas quanto o cenário, os brasileiros precisarão fazer uma faxina no orçamento doméstico, pontua o educador financeiro Reinaldo Domingos. Vale questionar com firmeza a necessidade do consumo e, vencendo a tentação dos gastos, reservar boa parte do 13º salário para a poupança. “Se existem dívidas, no entanto, quitá-las é a prioridade. Para os endividados, não faz o menor sentido encarar novos compromissos”, acrescenta.
Com o crédito mais caro e mais restrito, o comércio tende a oferecer parcelamentos mais tímidos neste fim de ano, com prazo de pagamento encurtado. Enquanto a economia não se acalmar, a “atitude preventiva”, defende Domingos, é os consumidores encararem prestações por, no máximo, três meses, no caso de bens duráveis. E o mais importante, completa ele, é levar a sério as “reservas estratégicas”. “As famílias terão de estar preparadas para situações de recessão”.
Cautela Francisco Johnes, 24, tira o próprio sustento dos bicos como pedreiro. Apesar de a demanda pelo serviço dele ter diminuído consideravelmente, as dívidas foram controladas. Mas o nome limpo na praça não o seduz. “O dinheiro está escasso. Quem tem está preferindo guardar”, diz ele, que mora com mais nove pessoas da família em um terreno ocupado por dois barracos. “Aqui, está tudo mundo apertado. Ninguém é doido de sair comprando mais”, emenda.
Consciente da situação atual, Francisco conta que, por pouco, não comprou um carro 0 km no mês passado. “Visitei a concessionária três vezes e os vendedores praticamente me imploraram”, detalha. Derrubaram o número de prestações e ofereceram o parcelamento do valor da entrada. “Preciso comprar um carro, mas não funciona assim. Não é só comprar e pronto”, afirma o pedreiro, torcendo para que a situação melhore em 2015. “Espero que as pessoas voltem a construir”.
No ano, calote cresce em BH
Embora o percentual de famílias com dívidas em atraso tenha registrado queda no país em setembro, em Belo Horizonte, o indicador de inadimplência do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), apontou alta de 5,62% no número de dívidas em atraso, de janeiro a setembro de 2014. Este é o maior índice de inadimplência dos últimos três anos, observando a mesma base de comparação. Frente a agosto, o número de dívidas em atraso apresentou aumento de 0,78%, e de 3,32% na comparação com setembro do ano passado. Segundo a CDL/BH em setembro, a maior parte dos débitos (26,47%) ficou concentrada entre os consumidores com idade entre 30 e 39 anos.. As dívidas em atraso têm valor médio de R$ 250.
Entre os endividados em todo o país, os mais atabalhoados são os jovens. Pesquisa divulgada esta semana mostra que quem têm entre 16 e 24 anos encontra mais dificuldade para controlar a vida financeira: quatro em cada 10 jovens brasileiros nesse faixa etária admitem não manter as contas em dia. Quanto mais velho, maior a proporção de consumidores que conseguem cuidar melhor dos gastos.
De acordo com o Indicador de Educação Financeira, elaborado pelo Serasa Consumidor em parceria com o Ibope, 62% dos entrevistados entre 25 a 34 anos dizem controlar bem as finanças. Entre 35 e 44 anos, esse percentual sobe para 66% e, entre 45 e 54 anos, alcança 67%. No grupo a partir de 55 anos, três quartos dos consultados pela pesquisa garantem saber zelar pelo dinheiro.
Impulso Os mais jovens, indica o levantamento, tendem a comprar de forma espontânea e imediata. “A população desse perfil não costuma planejar finanças de maneira consciente. Os jovens precisam evitar agir por impulso, para que não sofram as consequências do superendividamento”, diz o superintendente do Serasa Consumidor, Júlio Leandro.
A mesma pesquisa constatou queda na nota de educação financeira dada ao grupo de 16 a 17 anos – de 5,9 para 5,5 – e de 18 a 24 anos – de 5,9 para 5,8. A operadora de telemarketing Aline Carvalho, 22 anos, se enrolou nas dívidas assim que começou a trabalhar. “Consegui o primeiro emprego e exagerei. Comprei roupas, calçados e computador”, conta.
Nos primeiros meses de trabalho, Aline acumulou R$ 1 mil de contas atrasadas. O nome ficou sujo e somente um ano depois, a jovem teve condições de procurar as empresas para renegociar os débitos e tentar quitar de vez as pendências. “Aprendi a lição. Hoje, não deixo mais chegar nessa situação. Estou consciente e procuro não gastar tanto”, comenta a operadora de telemarketing. (MC e DA)