Todos os dias, o cozinheiro José Geraldo de Souza, de 32 anos, acompanha a construção de sua casa na Rua Olaria, no Bairro Granja de Freitas, Região Leste de Belo Horizonte. Assim como o imóvel onde em breve ele vai morar com a mulher e a filha, todos os demais na via não têm rede de esgoto instalada, o que obriga moradores a lançar os dejetos domiciliares em um córrego que passa atrás da casa do cozinheiro. “Deixei a instalação hidráulica pronta, mas não há como fazer a ligação porque a rede não existe na rua”, diz. A realidade de José Geraldo, que é chefe da família, é comum ainda em outros lares de Minas. Em 2010, do total dos domicílios urbanos cuja responsabilidade era de homens, 13,9% tinham saneamento inadequado. O percentual era ligeiramente menor para os lares comandados por mulheres (13,1%).
Na Rua Olaria, já foram vários pedidos ao poder público para que a rede fosse feita, mas nada foi feito até então. “A gente sofre com o mau cheiro que é diário”, diz o pedreiro José Moreira, de 57 anos. Ele se mudou há três décadas para o local e diz ter visto a água do córrego Olaria se transformar. “Antes tinha peixe e ele era limpo. Mas com esgoto de tantas casas, ficou completamente poluído”, conta.
Na população geral de Minas, a média foi de 13,6%, o que coloca o estado na terceira melhor posição no país em relação a saneamento, atrás apenas do Distrito Federal e de São Paulo. Mas, se considerado o critério de cor, a situação se complica no estado e pessoas pretas e pardas sofrem ainda mais com a falta de saneamento. Nos domicílios urbanos cuja responsabilidade são mulheres negras, 16,7% não tinham saneamento adequado. Nas casas chefiadas por negros, foi encontrado o pior índice (17,4). “Historicamente a maioria dos negros está concentrada em áreas mais precárias, com menos acesso a serviços públicos, como saneamento”, afirma a demógrafa do IBGE Luciene Longo.
Na definição do instituto, saneamento adequado urbano são habitações com acesso simultâneo ao abastecimento de água por rede geral, esgotamento por rede ou fossa séptica e coleta de lixo direta ou indireta. De acordo com a Copasa, as obras do sistema de esgotamento sanitário da Rua Olaria, no Bairro Granja de Freitas, estão em fase de licitação. (VL)