Marinella Castro
e Marina Rigueira
Apesar de Belo Horizonte, depois de São Paulo, ser a capital brasileira onde os empreendedores encontram mais alternativas de investimentos, movimentando R$ 700 bilhões em operações de crédito, a capital mineira está em sexto lugar no Índice de Cidades Empreendedoras (ICE). O ranking mediu pela primeira vez o potencial de 14 capitais brasileiras para fazer negócios e atrair investimentos em vários setores. Elaborado pela Endeavor, ONG mundial de fomento ao empreendedorismo, o estudo mostrou que, enquanto o acesso aos recursos é um facilitador, Belo Horizonte enfrenta entraves de grande porte que seguram seu desenvolvimento, como a infraestrutura e o ritmo de crescimento da economia, abaixo do observado em outras capitais do Sudeste.
Quando o assunto é empreendedorismo, a expectativa é que BH esteja, até 2022, entre os primeiros lugares do ranking do empreendedorismo. No setor de tecnologia da informação, por exemplo, a estimativa é de geração de 50 mil novos empregos em oito anos, sendo que hoje emprega 20 mil pessoas na região metropolitana e concentra empresas de alto potencial de crescimento. Mas, por enquanto, o estudo da Endeavor mostra que a capital mineira está atrás de cidades como Florianópolis, São Paulo e Vitória.
“De um modo geral, a pesquisa mostrou que o país ainda engatinha no empreendedorismo e o objetivo do estudo é dar subsídio para políticas públicas e também para os investidores no momento de escolher onde iniciar um negócio”, observa João Melhado, pesquisador da Endeavor. Ele ressalta que no país existem 35 mil empresas que apresentaram nos últimos três anos ritmo de crescimento acima de 20% ao ano. “Esse número representa 1% do total de empresas no país, mas para se ter ideia elas geram mais de 50% dos empregos.” Minas Gerais concentra 9% dessas empresas, sendo que perto de 1,9 mil estão localizadas na capital.
“A cidade deve buscar melhorar seu ambiente regulatório. Belo Horizonte também ocupa a nona posição no custo dos impostos e 12ª posição em aspectos do mercado, que dizem respeito ao desenvolvimento econômico.” João Melhado também aponta que a cidade tem desafios de longo prazo, como melhorar a infraestrutra de suas rodovias e gerar ambiente para o crescimento de seu mercado interno. “Mesmo que seja tentador trabalhar aspectos pontuais, o foco deve estar no longo prazo.”
O sócio-diretor da Start Up Queepme, Daniel Diniz, desenvolveu o aplicativo Programa Canguru para gestantes em BH. Para ele, a capital mineira tem condições para vencer seus desafios e na próxima década se tornar a primeira cidade do ranking de empreendedores. Daniel destaca a movimentação de mais de R$ 700 bilhões em operações de crédito, além de outros R$ 4 bilhões investidos diretamente em empreendedores mineiros por meio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). “Isso mostra que a cidade tem atraído investimentos”, diz.
Vale do silício
O estudo da Endeavor avaliou sete pontos nas 14 capitais pesquisadas: ambiente regulatório, infraestrutura, mercado (desenvolvimento econômico), acesso a capital, inovação, capital humano e cultura, que mede o desejo de se empreender na cidade. Em termos percentuais, as empresas de Belo Horizonte nacionalmente são as que mais investem em inovação. A pesquisa da Endeavor chega a citar a cultura em torno do chamado San Pedro Valley, o Vale do Silício mineiro, que fica na Região Centro-sul da cidade, onde se desenvolveram iniciativas de empresas de alto crescimento. Por outro lado, a pesquisa apontou que BH está em 9º lugar no custo dos impostos, um peso desfavorável para o empreendedorismo.
Na capital mineira, 25% dos adultos têm curso superior, acima da média nacional, que é de 23%, mas abaixo de capitais como Vitória e Florianópolis, onde o índice chega a 35%. Em BH, a mão de obra qualificada é um ponto positivo, mas os salários estão abaixo das médias das regiões Sul e Sudeste. A cidade tem ainda a 3ª maior taxa de jovens matriculados no ensino profissionalizante, o que garante ao empreendedor mais chances de formar uma boa equipe._
Com foco no longo prazo, Luiz Antônio Athayde, subsecretário de Investimentos Estratégicos da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, diz que até 2033 a expectativa é que sejam gerados 700 mil empregos na Grande BH com o desenvolvimento de setores-chave da economia, como aeronáutico, microeletrônica, plataformas de TI, fármacos, setores indutores do crescimento econômico.
Daniel Diniz diz que aposta ainda na capacidade da cidade e do estado de gerar mão de obra qualificada não apenas para suprir o mercado local, mas para exportar para o mundo. “Somos o estado com mais universidades federais e estaduais do país. Além do nível superior, o estudo mostra ainda que BH já está em terceiro lugar na taxa de jovens matriculados no ensino profissionalizante, o que revela capacitação em todos os níveis.”
Setor de TI em expansão
O índice que mede o empreendedorismo no Brasil não surpreendeu quem acompanha de perto o setor. Para o presidente da Fumsoft, instituição que atua na indução do desenvolvimento da cadeia da tecnologia da informação em Minas, Leonardo Menhem, o resultado do índice, que coloca Florianópolis como cidade mais empreendedora do país e Belo Horizonte no sexto lugar, não é um surpresa. “O número de pessoas que trabalham com TI em relação ao setor de serviços em Florianópolis é o mais alto do país, o que já revela a importância da cidade para o mercado de tecnologia da informação”, ressalta.
Para o presidente da Fumsoft, BH tem forças para ser a primeira capital brasileira de TI em 2022. “O Programa MGTI 2022, que tem a parceria do Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes), e inicialmente reúne cinco start-ups selecionadas no Programa Start-Up Brasil, é focado principalmente no incentivo à capacitação e geração de vagas. Hoje, 20 mil pessoas compõem a mão de obra do setor de TI na Grande BH, a expectativa é que em 2022 sejam 70 mil, com geração de pelo menos 50 mil vagas em oito anos”, salienta.
Leonardo Menhem destaca ainda que além de contar com iniciativas dos governos federal e estadual para o crescimento do setor na capital mineira, é preciso trabalhar com foco em quatro eixos: capacitação, legislação, compartilhamento de informações entre as empresas e geração de negócios. “É preciso capacitar as empresas – com melhores formas de planejamento, gestão e execução – e pessoas, lembrando que BH tem escolas de referência e excelência nacional, como o Departamento de Ciência da Computação da UFMG”, explica. O empreendedorismo no setor de TI, segundo ele, ainda esbarra nos entraves da legislação, que precisa avançar no estado. “E carece de um meio físico e também na nuvem para o compartilhamento de informação entre as empresas, o que incentiva o fomento das start-ups e em um segundo momento, a internacionalização das empresas”, explica. O presidente da Fumsoft está otimista com o posicionamento de BH no ranking e acredita no rápido crescimento do setor na capital frente as outras principais cidades brasileiras. (MR)