Marinella Castro
O Brasil tem perto de 6,2 milhões de estudantes no ensino superior presencial, mas o volume de crédito ainda tem espaço para mais que dobrar, na opinião de especialistas. Em algumas instituições de ensino, mais da metade dos estudantes já conta com o financiamento. Hoje, o número de pessoas que chega ao ensino superior é de 18%, e a meta do governo é atingir 33% nos próximos 10 anos.
O acesso à universidade, assim como a permanência do estudante no ensino superior, está ligado aos recursos financeiros. “O principal fator que possibilitará ao país atingir o patamar estabelecido pelo governo certamente é o aumento das linhas de financiamento estudantil – seja por meio da iniciativa pública ou privada –, uma vez que a maior restrição é a capacidade de pagamento”, diz o vice-presidente presencial da Kroton, Américo Matiello. Segundo o executivo, o grupo tem 231.080 alunos matriculados com contratos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), valor que representa 54% da base de graduação presencial.
Roberto Lobo, presidente do instituto de mesmo nome, especializado em pesquisas em educação, ciência e tecnologia, estima que perto da metade dos estudantes do setor privado não tem financiamento. Segundo ele, em países como os Estados Unidos, o grau de financiamento chega a 80%.
“Acredito que o Brasil tenha potencial para mais que dobrar o financiamento estudantil. Basta dizer que, no segundo semestre de 2014, temos 1 milhão de inscritos para 115 mil bolsas do ProUni”, compara Elma Bernardes Santiago, professora de ética e responsabilidade social da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBS). Na PUC Minas, dos 44,6 mil estudantes, 54% têm algum percentual de ajuda que inclui o Prouni e bolsas institucionais. Outros 11 mil alunos são financiados pelo Fies. Para Rosângela Forti, coordenadora da central de apoio comunitário da universidade, o suporte financeiro contribui para motivar o estudante a seguir em frente no seu objetivo e também a se dedicar mais. “Das 94 bolsas por destaque acadêmico da PUC, 29 são de estudantes do ProUni.”
A mensalidade e a falta de recursos pesam na evasão do ensino superior. Roberto Lobo acredita que cerca de 50% da evasão tenha motivação financeira. Os outros 50% se dividem nas mais diversas razões, desde questões pessoais até desinteresse pela área escolhida.
FINANCIAMENTO Camila Chitarra está a um ano e meio da formatura no curso de engenharia civil. O Fies foi sua alternativa para alcançar o ensino superior. Ela mora com a mãe, uma artesã com habilidades na arte de bordar panos de pratos, e o irmão mais novo na Região Nordeste de BH. Para manter as despesas e ainda ajudar a família, Camila faz dois estágios, estuda à noite e, quando chega em casa, faz alfajores. A receita ela pegou na internet, testou e os colegas da faculdade aprovaram.
Camila estudou em escola pública, também conseguiu o Fies e diz que, por conta de tanto trabalho, teve um susto. “Recentemente, perdi média. Percebi que não consigo mais ficar com dois estágios. Terei que optar por um só.” Para Camila, a formatura não é um sonho fácil, mas ela considera que está no caminho certo. “Estou aprendendo muito.”