Rosana Hessel
Brasília – A nova equipe econômica da presidente Dilma Rousseff, liderada pelo economista Joaquim Levy, tem pouco tempo para elaborar um ajuste fiscal e aplicá-lo a partir de 2015 para que a economia possa voltar a crescer. A mudança de estratégia foi bem recebida pelos analistas, mas sua aplicação precisará ser ágil. Além disso, o governo precisará focar a capacidade do mercado interno, porque não poderá contar com o resto do mundo para retomar a expansão do país. Isso porque o cenário externo projetado por analistas para 2015 é de fortes turbulências. Se o Brasil não fizer a lição de casa, e logo, sairá extremamente prejudicado.
A maioria dos especialistas concorda com a avaliação de que colocar a política macroeconômica em ordem é prioritário para que o Brasil volte a crescer. A alta de apenas 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre não é suficiente para recuperar a confiança do empresariado, que só voltará a investir no país se a economia der sinais de estabilidade. Para isso, o governo precisa ser mais transparente e demonstrar controle das contas públicas, evitando gastar mais do que arrecada, deixando de lado as artimanhas contábeis para cumprir as metas fiscais. Dessa forma, o Banco Central terá mais liberdade para executar a política monetária e controlar a inflação sem precisar exagerar no aperto dos juros, que já estão entre os maiores do mundo. Sem isso, o custo do crédito não voltará para patamares que estimulem os investimentos, que despencaram de 19% para 17,4% do PIB no terceiro trimestre.
“O Brasil tem mais desafios internos do que externos a partir de agora. Se a nova equipe econômica não recolocar o país nos trilhos, não há dúvida de que os fatores externos vão potencializar os problemas internos, que hoje são bem maiores”, alerta o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. Ele recorda que, durante a crise financeira global iniciada em 2008, as nações mais afetadas foram as ricas. Hoje o quadro se inverteu e o Brasil está entre os mais frágeis. “Os países emergentes, de fato, tiveram períodos de bonança desde a última crise, e, por conta disso, não se ajustaram. Agora, sofrerão as consequências de uma próxima turbulência”, completa Agostini.
APOSTA O novo direcionamento que Dilma deu à economia, ao colocar na Fazenda um técnico ortodoxo como Levy, foi muito bem recebido pelo mercado, e deu ao país um voto de confiança, adiando a previsão de rebaixamento da nota de crédito do país pelas agências de classificação de risco no início do próximo ano.
O economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, por exemplo, diz que a sinalização de ajuste dada pela nova equipe econômica foi boa e está na direção correta. “O Brasil está se preparando para um cenário perigoso. A gestão macroeconômica é sempre feita para monitorar eventos adversos.” Para ele, o caminho daqui para a frente é de grandes desafios.
Segundo Padovani, ao escolher Levy para comandar a nova equipe, Dilma deu um sinal bem claro de que está se preparando para o enfrentar turbulências. “O Brasil está se fortalecendo ao reorientar sua política econômica. Está se ajustando, finalmente, ao ambiente econômico atual”, acrescenta.
Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, destaca que o arrocho nas contas públicas, que ameaçam sair do controle, é importantíssimo para reduzir o risco de piora na credibilidade do país no mercado externo.
Cinco grandes riscos
Muitos perigos vão rondar a economia global no próximo ano. O alerta é do economista Nouriel Roubini, professor da New York University, que ganhou notoriedade ao prever a crise mundial de 2008. No recente relatório especial Cinco grandes riscos econômicos para 2015, Roubini afirma que a chamada tempestade perfeita poderá ocorrer a partir do próximo ano com a combinação dos cinco elementos. O mais esperado deles é a possibilidade de a mudança da política monetária nos EUA provocar forte valorização do dólar. Na lista, consta ainda o risco de repetição da crise na Zona do Euro, a possível implosão da Abenomics, como é conhecida a política de injeção maciça de recursos na economia colocada em prática pelo primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe. Um quarto elemento seria uma desaceleração mais forte da China. O quinto grande risco é o geopolítico, devido à multiplicação de conflitos pelo planeta e a possibilidade de a epidemia de ebola, na África, se alastrar e causar danos financeiros e econômicos.