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Estado de Minas

Artesanato de Piedade dos Gerais gera emprego, renda e vai até para a Espanha e EUA

Mulheres de Piedade dos Gerais usam a criatividade e fazem plantas de chitão e malha. Peças são vendidas para o Sudeste, Espanha e Estados Unidos, e geram emprego e renda na região


postado em 01/12/2014 06:00 / atualizado em 01/12/2014 07:28

Vanderléa começou a fazer artesanato, se curou da depressão e levou a filha Priscila para aprender (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS )
Vanderléa começou a fazer artesanato, se curou da depressão e levou a filha Priscila para aprender (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS )

Piedade dos Gerais – Pétala por pétala, as mãos firmes de Vanderléa da Conceição Andrade Soares, de 40 anos, dão forma às margaridas feitas de tecido de algodão e malha tão coloridas quanto as verdadeiras, encontradas no campo e nos jardins de Piedade dos Gerais, município essencialmente agrícola e produtor de leite da Região Central de Minas Gerais. A tarefa só termina quando o caule de bambu é colado às coroas das flores, para que o trabalho recomece. Milhares de modelos delicados e repletos de minuciosos detalhes são despachados pelos Correios para todo o estado, São Paulo e Rio de Janeiro, além de já ter atravessado as fronteiras do país para ocupar as prateleiras das gigantescas cadeias do varejo El Corte Inglés, da Espanha, e da T.J.MAXX, dos EUA.

O tempo, curiosamente, passa muito rápido na cidade mineira de apenas 4,7 mil habitantes, que descobriu na vocação de donas de casa, funcionárias públicas, como Vanderléa, e trabalhadoras rurais aposentadas uma fonte importante de emprego e renda. Dos buquês de rosas, margaridas, hortênsias, dálias, violetas e flores do campo produzidos num ateliê improvisado em imóvel cedido pela prefeitura local, e nas horas de folga em casa, as 25 artesãs reunidas no grupo batizado de Gente Nossa apuram renda adicional para ajudar filhos e maridos. Sonhos simples, como trocar móveis muito antigos ou reformar o banheiro da casa própria, também são realizados.

O esforço e a dedicação à costura podem render de pouco mais de meio salário mínimo a R$ 2 mil em períodos de grandes encomendas para eventos, exposições, feiras e exportações. Boa parte do material usado – algodão, chita, malha e até tecidos de sombrinha – é reciclado, graças às doações recebidas pelo grupo na Casa de Cultura, uma espécie de quartel-general onde elas se encontram pelos menos duas vezes por semana para criar e produzir o artesanato. “Quando a gente vê o produto do trabalho pronto, sente o orgulho de ter feito tanta beleza”, diz Vanderléa, ao lado da filha Priscila Pereira Soares, de 13, que aprende o ofício com a mãe. A professora de educação infantil começou a confeccionar as flores há apenas três meses e encontrou no artesanato a solução para uma depressão que insistia em tomar conta dela, depois da morte do pai, Geraldo, problema que atormentou várias mulheres do grupo.

Duas das artesãs mais experientes, Ângela Petronita da Silva Ameno, de 64, e Maria das Dores Gonçalo de Oliveira Cardoso, de 62, passaram por experiência semelhante ao perderem os maridos e se verem diante de um orçamento ainda mais apertado. Com a renda apurada na confecção de flores e de colchas de fuxico, a costureira Ângela comprou móveis e construiu a varanda da casa onde mora, e agora descansa do trabalho duro na lavoura no passado quando senta à frente da máquina de costura. “É só começar a fazer as flores e a gente esquece de tudo”, conta.

Criatividade

Maria das Dores, pensionista do INSS, ainda se acostuma à vida sem o marido e, agora, sem o filho, a quem ajudou até que completasse 30 anos e conseguisse emprego em Belo Horizonte. “O artesanato é o que preenche meu tempo, com muito prazer”, diz. Histórias comuns ou diferentes fazem o grupo melhorar a qualidade do trabalho e abusar da criatividade na modelagem das flores, conta a coordenadora da associação criada há 15 anos, a funcionária pública Luciani Luiza Ribeiro de Amorim, de 49. “O produto tem de ser desenvolvido com muita originalidade e exige paciência e dedicação”, afirma, ao mostrar a variedade das peças que o grupo vai expor de amanhã a domingo na 25ª Feira Nacional de Artesanato, no centro de convenções Expominas, em Belo Horizonte. A abertura amanhã é só para lojistas.

Os últimos dias foram de trabalho intenso na Casa de Cultura de Piedade dos Gerais, para que as artesãs cumprissem a meta de confeccionar mais de 10 mil flores para vender na feira. Público para admirá-las não deve faltar. Com o tema de festas populares, a edição deste ano da tradicional feira vai oferecer cerca de 25 mil itens produzidos por 7 mil artesãos de 26 estados e do Distrito Federal, que esperam receber 180 mil pessoas, informa Tânia Machado, presidente da instituição organizadora do evento, o Instituto Centro Cape, braço do Mãos de Minas, maior central de cooperativas de artesãos do estado.

 

Busca por capacitação

A força do trabalho dos artesãos pode ser medida pela demanda de cursos de capacitação que a feira vai oferecer neste ano, envolvendo orientações sobre embalagens, design de produtos, funcionamento da cadeia de produção e exportações, entre outros fatores de sucesso do negócio. “Temos mais de 800 consultorias já agendadas”, diz Tânia Machado, presidente do Instituto Centro Cape. O evento contará com cinco palcos para apresentação de shows e atividades culturais. A despeito do baixo crescimento da economia e do endividamento do consumidor neste ano, permanece a perspectiva de vendas superiores à receita de R$ 73 milhões faturada em 2013. Os preços variam de centavos a R$ 2 mil. São esperados de 80 a 100 compradores estrangeiros.

As artesãs do grupo Gente Nossa, de Piedade dos Gerais, querem aprender mais sobre o trabalho com as flores e como organizar melhor a produção. Segundo a coordenadora da associação, Luciani Amorim, uma das dificuldades está na formação dos preços. É fator essencial para que consigam conquistar mais encomendas e permanecer na atividade, como é a intenção da dona de casa Maria Aparecida Mendonça, de 42.

Com o filho Cauã, de 11 meses, e a filha Maiara Ferreira dos Santos, de 21, ela diz ter dado novo rumo a sua vida. “Gosto do trabalho, tenho renda para ajudar em casa e fiz muitos amigos”, afirma Aparecida. Maiara também valoriza não depender mais tanto do marido, Luiz. Como elas, há muitas lições de vida aprendidas entre as artesãs, a exemplo de Lenice Maria Eustáquia, Elenice Luiza Lopes, Marília Brito Avendanho, Caren Alerrandra Marques Barbosa, Flávia Lúcia de Souza, Jaqueline Bruna Gonçalves e tantas outras (MV).

 

Serviço

25ª Feira Nacional de Artesanato

De quarta-feira a domingo para o público em geral e amanhã só para lojistas

Expominas - Belo Horizonte

Quarta a sexta-feira, de 14h às 22h

Sábado, de 10h às 22h

Domingo, de 10h às 21h

Ingressos: R$ 10, de quarta-feira a domingo 


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