São Paulo, 03 - O ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e atual vice-presidente do Insper, Marcos Lisboa, afirmou que todas as medidas legislativas aprovadas desde as eleições foram na contramão do ajuste fiscal prometido pela presidente Dilma Rousseff para o seu segundo mandato, entre eles a mudança do indexador da dívida dos estados. "Decisões que agravam o quadro fiscal", afirmou durante debate de encerramento da série Fóruns Estadão Brasil 2018.
Lisboa criticou a forma como são feitos os cálculos do superávit primário. Segundo ele, sem os abatimentos, o "número de verdade" do resultado fiscal deve estar entre -0,5% do PIB, o equivalente a aproximadamente R$ 25 bilhões de déficit. Diante disso, ele afirmou que, para equilibrar a dívida pública, o Brasil precisaria de um superávit de 2,5% do PIB, aproximadamente R$ 150 bilhões. "A equipe econômica consegue, no máximo, com muito esforço, ajustar R$ 20 bilhões", ponderou.
O vice-presidente do Insper afirmou que, para implantar um ajuste fiscal, é necessário uma "agenda clara" com os problemas reais que vão ser encontrados e o que o governo pretende fazer, além de enfrentar o debate. "Ou vai isso ou não vai ser feito ajuste", disse. O economista acrescentou que é necessário ainda uma agenda maior, "e mais difícil do que a fiscal", que envolve a melhora das condições de negócio e retomada de financiamento, a chamada por alguns economistas de "agenda microeconômica".
Segundo Lisboa, nos últimos anos, "vivemos a política de contrarreforma", com concessão de subsídios, crédito subsidiado, que privilegiou apenas alguns setores. "Isso foi na contramão da agenda de crescimento", criticou. O economista ponderou que essa "não é uma agenda fácil", porque se defronta com vários grupos de interesse.