Em queda no Brasil, a insegurança alimentar atinge mais a população preta ou parda, nordestina, rural e com pouco estudo, mostra o suplemento da PNAD 2013 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa revela que, no ano passado, quase um em cada três domicílios cujas pessoas de referência eram pretas ou pardas (29,8%) estava em insegurança alimentar. Era mais que o dobro dos lares referenciados em brancos na mesma situação: 14,4%. No Nordeste, o porcentual de residências de não-brancos que passavam fome ou quase isso ia a 41,3%, contra 29% dos demais. Por área, quando o parâmetro era a insegurança alimentar moderada ou grave, o porcentual nas áreas rurais (que de 2009 a 2013 foi de 15,6% para 13,9%) era o dobro nas regiões urbanas (onde foi de 10,8% para 6,8%).
Na análise por cor ou raça, a Região Norte teve números próximos aos do Nordeste. A pesquisa constatou que 38,2% dos domicílios nortistas cuja pessoa de referência era preta ou parda estiveram no ano passado em situação de insegurança alimentar, contra 27% dos referenciados por brancos. As demais regiões tiveram porcentuais bem abaixo para lares chefiados por não-brancos: 23,9% (Sul), 21,3% (Centro-Oeste) e 19,2% (Sudeste). A situação se repete quando se examina apenas a insegurança alimentar moderada ou grave. O Nordeste, nesse caso, teve, em 2013, 16,3% de lares com pessoas de referência pretas ou pardas nessa situação; o Norte, 15,7% ; o Sul, 7,9%; o Centro-Oeste, 7,1; e o Sudeste, 6,1%.
"A cor ou raça dos moradores tiveram impactos diferenciados na prevalência de IA (insegurança alimentar)", afirma o estudo. "Do total de 93,2 milhões de moradores brancos, 17,2% conviviam ao menos com a preocupação de que alimentos pudessem faltar devido à falta de dinheiro para comprar mais. Para os 106,6 milhões de moradores pretos ou pardos, esse porcentual subia para 33,4%."
A pesquisa mostrou que a insegurança alimentar moderada ou grave crescia na medida em que caía o nível de escolaridade dos brasileiros. Tanto em 2009 como em 2013, quanto menos escolarizados eram os moradores, maior era o porcentual de pessoas nessa situação nutricional. No ano passado, 13,7% dos habitantes com menos de um ano de instrução e com um a três anos estavam em IA; 10,1% dos com 4 a 7; 7,6% para 8 a 10; 4,1% para 11 a 14; e apenas 1,2% para 15 anos ou mais de escola. Em 2009, para as mesmas faixas, as proporções desses dois tipos de IA eram, na mesma ordem, 20,2%, 19,5%, 14,8%, 10,9%, 6% e 1,4%.
O suplemento da PNAD também constatou que havia algum nível de IA em quase um quarto dos lares referenciados em cidadãos com ocupação econômica. "Nos domicílios cuja pessoa de referência estava ocupada, 22,7% estavam em algum nível de IA", afirma o estudo. "Analisando pela posição na ocupação, entre os empregadores a prevalência era a menor (7,0%) e entre os trabalhadores na produção para próprio consumo ou na construção para o próprio uso, 45,8% estava com IA. Entre os trabalhadores domésticos a prevalência de IA também era elevada, 34,2%."