As ações brasileiras mais negociadas deram neste mês, até agora, uma palhinha do comportamento ruim que podem repetir em 2015. A despeito do fato de os investidores anteciparem movimentos, a dúvida é quanto de fato já foi precificado nos ativos e a questão que paira inicialmente no horizonte é: a nova equipe econômica vai conseguir encurtar o luto do mercado?. Depois de ver a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o mercado comemorou os nomes que vão gerir a economia a partir do ano que vem. O diretor de investimentos da gestora de recursos do HSBC Brasil, Guilherme Abbud, no entanto, acredita que ainda há espaço para precificar os ganhos na Bolsa com o anúncio da chegada de Joaquim Levy, o substituto de Guido Mantega na Fazenda.
Na avaliação de Guilherme Abbud, o mercado acionário não computou a totalidade do impacto da troca ministerial porque tem receio do fator execução e deve fazê-lo conforme novas medidas forem sendo anunciadas, positivamente. Ortodoxa, a equipe econômica, ainda não apresentou as alterações indigestas que todos sabem ser necessárias para recolocar as contas nos eixos e impedir um downgrade (revisão para baixo do grau de investimento do Brasil, classificação feita pelas agências internacionais). O analista da Alpes, Bruno Gonçalves, é do grupo menos pessimista.
Gonçalves acredita que, dependendo do que for traçado por Levy, a bolsa pode ter algum alento em meados do próximo ano. A largada de 2015, no entanto, já está trilhada: vai ser ruim para a Bovespa. Uma das apostas do analista é que as medidas econômicas da nova equipe englobem aumento de impostos, que terá efeito restritivo no atual quadro de desaceleração econômica. “Não podem ser medidas fracas. O Brasil está fora do eixo. Elas têm de ser efetivas, para ter impacto positivo de cara”, avaliou. “É preciso ancorar as expectativas”, emendou.
Para Abbud, a expectativa é de mudanças que os investidores não costumam digerir. “Há uma percepção de que o trabalho de Levy à frente da Fazenda será hercúleo e de que ele promoverá uma reforma dura, com aumento de impostos, o que a bolsa não gosta”, diz. Ele acredita, no entanto, que a maior parte do ajuste ficará calcado em corte de despesas, "o que seria uma ótima notícia para a economia e para a bolsa", disse.
Tomado nesse contexto, de acordo com Abbud, o futuro da bolsa e de seus ativos poderá ser mais promissor no ano que vem do que se imagina. "Desconfio que 2015 vai ser um ano daqueles em que há ajustes duríssimos, mas os títulos podem precificar que o remédio é amargo, mas está se investindo num futuro melhor, redirecionando o Brasil para um modelo mais sustentável de crescimento", previu.
Essa reconquista de credibilidade é o fator primordial neste momento, na avaliação do sócio-diretor da Easynvest, Marcio Cardoso. “O governo tem que vender o que é crível e cumprir o que prometeu.” Isso porque o mercado parou de dar o benefício da dúvida para a presidente Dilma, como lembrou Hersz Ferman, da Elite Corretora. Assim, o espaço para errar não existe mais.