Bolsa fecha em queda puxada por Petrobras e incertezas

Brasília – As denúncias de corrupção na Petrobras levaram a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) a fechar no vermelho ontem, pelo terceiro pregão consecutivo, com baixa de 2,05%, nos 47.516 pontos. Os papéis da petroleira recuaram aos mesmos níveis de 2005. As ações PN (com direito a voto) caíram 8,01%, para R$ 8,61, e já despencam 14,07% no ano. E as ON se desvalorizaram 8,11% (R$ 8,27), com queda de 13,76% em 2015. Para o resultado, também contribuíram a conjuntura internacional desfavorável e as incertezas em relação à autonomia da nova equipe econômica, após a presidente Dilma Rousseff obrigar o recém-empossado ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, a desmentir declarações que havia feito, um dia depois de assumir o cargo.

“É claro que o comportamento dos ativos está mais ligado ao preço das commodities (mercadorias com cotação internacional) e à questão política na Grécia. E não podemos esquecer que a Petrobras tem um peso no Ibovespa (índice que mede as ações mais negociadas na Bolsa). Mas o zigue-zaque entre Dilma e Barbosa foi muito ruim”, disse Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. Outra questão doméstica influenciou no mau-humor do mercado. Os analistas aguardavam, por parte do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o anúncio de medidas duras para colocar a economia nos trilhos.

Mas o discurso de posse não trouxe novidades, o que foi interpretado como sinal de que ele se retraiu após o puxão de orelha da presidente no seu colega do Planejamento. No entender de Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora, o desgaste que a nova equipe econômica está sofrendo, devido à atitude da presidente, ainda é difícil de avaliar. Para Nehme, no entanto, com ou sem divergências, o governo ainda não demonstrou quando começará a fazer o dever de casa. “Há um descuido com o cenário externo. É preciso atenção ao fluxo de moeda, que deve ser negativo. A taxa de câmbio tem efeito na inflação. E a inflação pede mais juros. São efeitos em cascatas que podem ser desastrosos”, alertou. O dólar acompanhou o mercado externo e subiu 0,6%, no segundo dia de negociação do ano, cotado a R$ 2,709 para venda.

E mais...

Focus pior
A primeira edição do boletim Focus de 2015 indicou a piora do humor do mercado. A aposta dos analistas de bancos e de corretoras consultados semanalmente pelo Banco Central (BC) é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ultrapassará o teto de tolerância da meta de inflação, o que não ocorre desde 2003. A projeção para o índice foi elevada de 6,53%, na última semana de dezembro, para 6,56%, ontem. As estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) foram revisadas de uma alta de 0,55% para uma expansão de apenas 0,50%. Já os juros básicos da economia (Selic), devem passar de 11,75% ao ano para 12,5% até o fim de dezembro.

Inflação semanal
A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S) subiu 0,75% em dezembro ante 0,65% em novembro, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). O indicador encerrou 2014 com alta acumulada de 6,87%. Em 2013, o IPC-S acumulou alta de 5,63%. Das oito classes de despesas analisadas no ano passadp, cinco registraram decréscimo em suas taxas de variação na passagem da terceira para a quarta quadrissemana de dezembro: habitação; educação, leitura e recreação; transportes; comunicação e despesas diversas. Por outro lado, registraram acréscimo os grupos alimentação (de 0,85% para 1,06%) e vestuário (de 0,62% para 0,72%).

Carros com IPI
Com o término da redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para automóveis, o primeiro semestre será difícil para o setor, avalia o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan. “Mas as bases estão sendo levantadas e o ano deve fechar melhor do que começará”, previu. “No segundo semestre, já devemos ter a economia com números bastante positivos”, acrescentou. Moan ficará no cargo até abril de 2016.