Embora o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) tenha adiado por 90 dias a exigência do extintor de incêndio tipo ABC para carros no Brasil, o tempo pode não ser suficiente para suprir a demanda pelo produto no país. O equipamento está em falta na maioria das cidades brasileiras. Em Belo Horizonte, lojistas revelam que já foram informados sobre a possibilidade de reposição em 240 dias (oito meses). Enquanto isso, a média de preço do item, que custava R$ 50 em dezembro, passou para R$ 100. Revendedores reclamam que as fábricas nem atendem aos seus telefonemas e alguns dizem que deixaram de ganhar R$ 11 mil em uma semana devido à falta do extintor nas lojas.
Desde dezembro procurando, o aposentado Alípio Marte da Silva conseguiu, ontem, com muita sorte, comprar o extintor ABC ao custo de R$ 80. “Só consegui por sorte. Entrei na loja e um dos vendedores tinha emprestado a um amigo para viajar e me vendeu”, comemora. Agora, Alípio enfrenta uma nova saga. Precisa comprar dois extintores para seus netos, que têm veículos anos 1984 e 1989. “Como não estou achando em lugar nenhum, eles terão que deixar os carros em casa. Pelo visto, muita gente terá de ficar na mesma situação”, comentou.
Alípio pode ter razão. A frota nacional de automóveis, segundo os últimos dados do Denatran, é de 41 milhões. O órgão não tem uma estimativa de quantos carros no Brasil precisariam trocar o extintor de incêndio pelo tipo ABC, uma vez que, desde 2004, o mercado já vinha sendo avisado sobre a futura exigência do produto. A resolução 333, que institui a obrigatoriedade para o item em todos os veículos, foi publicada em 2009 com vigência a partir de 1º de janeiro de 2015. Segundo a resolução, o modelo de extintor anterior, o BC, fabricado até 2004, deveria ser substituído.
Um condutor que comprou um veículo em 2004, por exemplo, deveria trocar o aparelho em 2009 e, depois, em 2014. O cerco apertou agora em janeiro, quando passou a ser obrigatório o uso do produto, sob o risco do motorista ter o carro apreendido, levar uma multa de R$ 127,69 e mais cinco pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Mas, como motoristas de diversas regiões do país relataram dificuldade para encontrar o equipamento à venda, na segunda-feira, o Ministério das Cidades anunciou o adiamento da entrada em vigor da lei para 90 dias. “Mas esse prazo não será suficiente”, decreta o dono da loja América Peças Acessórios, Ricardo Jairo. Segundo ele, desde o início de dezembro está tentando contato com as distribuidoras e não tem um retorno. “Compro deles ao valor de R$ 37 e revendo aqui por R$ 65, mas todas as lojas da Pedro II, na capital, estão sem o produto”, lamenta. O Estado de Minas percorreu algumas lojas da avenida e confirmou a falta geral por lá.
O gerente da 1100 Auto Peças, Pablo Henrique Silva, conta que o item saiu das prateleiras da loja já na segunda quinzena de dezembro. “Aqui, ele custava R$ 55, mas não sobrou nada. Já entramos em contato com as fábricas, que não nos respondem”, reclama. A procura na 1100 tem sido tão grande que, segundo Pablo, cada vendedor deixou de fazer 30 vendas nos últimos dias. “Foram cerca de 300 pessoas procurando pelo extintor, mas não tínhamos. Estamos deixando de ganhar dinheiro”, conta.
Nos últimos dias, quando ainda havia extintores na capital, o valor de cada um saltou de uma média de R$ 50 para R$ 100. Consumidores relataram que encontraram o produto até por R$ 165. Por causa dessa especulação, o dono da AP Extintores, uma das distribuidoras do tipo ABC em BH, Aureliano Marques, limitou a quantidade dos itens por pessoa. “Vendi a R$ 100 para consumidores finais”, conta.
Antes da medida do Ministério da Cidades, havia até fila na porta da AP Extintores, segundo conta Aureliano. Ontem, restavam 100 no estoque. “Os consumidores deixaram para última hora e, por isso, mesmo com o prazo de 90 dias, às vésperas da lei entrar em vigor, vai acontecer a mesma coisa”, aposta. As previsões da dona da Comitec Comércio Ltda (uma das distribuidoras do tipo ABC em BH), Raquel Patente Araújo, também não são otimistas. Sem o produto para vender na loja, ela afirma que as fábricas não deram conta da demanda. “É um absurdo o que está acontecendo. Quando liguei para as duas maiores fábricas de extintores, uma me informou que o prazo para entrega seria de 120 dias e a outra de 240 dias. Como ficamos?”
FÁBRICAS No mercado, as duas fábricas mais conhecidas é a Kidde e a Resil, ambas com sede em São Paulo. Segundo a gerente de marketing Kidde, Roberta Godoy, com a entrada da lei, houve um pico na procura pelo ABC em dezembro, devido também às férias de fim de ano e a divulgação da lei. “Mas já estamos fazendo as nossas reposições aos distribuidores, não houve despreparo. Estamos investindo na nossa produção há mais de três anos justamente para suprir a demanda”, afirmou. Porém, Roberta não garantiu a entrega dos extintores antes da lei entrar em vigor novamente. O EM procurou a Resil, mas não obteve sucesso.
Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias de Equipamentos contra Incêndio e Cilindros de Alta Pressão (Abiex), informou que o aumento do prazo se deve à escassez de produtos neste início de ano, uma vez que, no período de festas, a produção contou com um número menor de dias úteis. “Os fabricantes já trabalham em carga total novamente e acreditam que oferta e demanda estarão normalizadas em todo o país bem antes do final do prazo extra”, diz o texto.
Saiba mais
Classificação
A descrição ABC indica que um extintor pode combater as três classificações de incêndio, sendo “A” materiais sólidos, como plástico, borracha, madeira e/ou tecidos; “B”, líquidos inflamáveis, como gasolina, óleo, etanol e querosene; e “C” equipamentos elétricos energizados, como a bateria ou o alternador. O extintor anterior, do tipo BC, portanto, não é capaz de combater fogo oriundo de plástico, borracha, madeira etc. É obrigatório para automóveis, utilitários, caminhonetes, caminhões, triciclos automotores de cabine fechada, ônibus, veículos de transporte inflamável e reboques com carga acima de
6 toneladas. O peso do extintor varia de 1kg a 6kg, de acordo com o tamanho do veículo.
Desde dezembro procurando, o aposentado Alípio Marte da Silva conseguiu, ontem, com muita sorte, comprar o extintor ABC ao custo de R$ 80. “Só consegui por sorte. Entrei na loja e um dos vendedores tinha emprestado a um amigo para viajar e me vendeu”, comemora. Agora, Alípio enfrenta uma nova saga. Precisa comprar dois extintores para seus netos, que têm veículos anos 1984 e 1989. “Como não estou achando em lugar nenhum, eles terão que deixar os carros em casa. Pelo visto, muita gente terá de ficar na mesma situação”, comentou.
Alípio pode ter razão. A frota nacional de automóveis, segundo os últimos dados do Denatran, é de 41 milhões. O órgão não tem uma estimativa de quantos carros no Brasil precisariam trocar o extintor de incêndio pelo tipo ABC, uma vez que, desde 2004, o mercado já vinha sendo avisado sobre a futura exigência do produto. A resolução 333, que institui a obrigatoriedade para o item em todos os veículos, foi publicada em 2009 com vigência a partir de 1º de janeiro de 2015. Segundo a resolução, o modelo de extintor anterior, o BC, fabricado até 2004, deveria ser substituído.
Um condutor que comprou um veículo em 2004, por exemplo, deveria trocar o aparelho em 2009 e, depois, em 2014. O cerco apertou agora em janeiro, quando passou a ser obrigatório o uso do produto, sob o risco do motorista ter o carro apreendido, levar uma multa de R$ 127,69 e mais cinco pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Mas, como motoristas de diversas regiões do país relataram dificuldade para encontrar o equipamento à venda, na segunda-feira, o Ministério das Cidades anunciou o adiamento da entrada em vigor da lei para 90 dias. “Mas esse prazo não será suficiente”, decreta o dono da loja América Peças Acessórios, Ricardo Jairo. Segundo ele, desde o início de dezembro está tentando contato com as distribuidoras e não tem um retorno. “Compro deles ao valor de R$ 37 e revendo aqui por R$ 65, mas todas as lojas da Pedro II, na capital, estão sem o produto”, lamenta. O Estado de Minas percorreu algumas lojas da avenida e confirmou a falta geral por lá.
O gerente da 1100 Auto Peças, Pablo Henrique Silva, conta que o item saiu das prateleiras da loja já na segunda quinzena de dezembro. “Aqui, ele custava R$ 55, mas não sobrou nada. Já entramos em contato com as fábricas, que não nos respondem”, reclama. A procura na 1100 tem sido tão grande que, segundo Pablo, cada vendedor deixou de fazer 30 vendas nos últimos dias. “Foram cerca de 300 pessoas procurando pelo extintor, mas não tínhamos. Estamos deixando de ganhar dinheiro”, conta.
Nos últimos dias, quando ainda havia extintores na capital, o valor de cada um saltou de uma média de R$ 50 para R$ 100. Consumidores relataram que encontraram o produto até por R$ 165. Por causa dessa especulação, o dono da AP Extintores, uma das distribuidoras do tipo ABC em BH, Aureliano Marques, limitou a quantidade dos itens por pessoa. “Vendi a R$ 100 para consumidores finais”, conta.
Antes da medida do Ministério da Cidades, havia até fila na porta da AP Extintores, segundo conta Aureliano. Ontem, restavam 100 no estoque. “Os consumidores deixaram para última hora e, por isso, mesmo com o prazo de 90 dias, às vésperas da lei entrar em vigor, vai acontecer a mesma coisa”, aposta. As previsões da dona da Comitec Comércio Ltda (uma das distribuidoras do tipo ABC em BH), Raquel Patente Araújo, também não são otimistas. Sem o produto para vender na loja, ela afirma que as fábricas não deram conta da demanda. “É um absurdo o que está acontecendo. Quando liguei para as duas maiores fábricas de extintores, uma me informou que o prazo para entrega seria de 120 dias e a outra de 240 dias. Como ficamos?”
FÁBRICAS No mercado, as duas fábricas mais conhecidas é a Kidde e a Resil, ambas com sede em São Paulo. Segundo a gerente de marketing Kidde, Roberta Godoy, com a entrada da lei, houve um pico na procura pelo ABC em dezembro, devido também às férias de fim de ano e a divulgação da lei. “Mas já estamos fazendo as nossas reposições aos distribuidores, não houve despreparo. Estamos investindo na nossa produção há mais de três anos justamente para suprir a demanda”, afirmou. Porém, Roberta não garantiu a entrega dos extintores antes da lei entrar em vigor novamente. O EM procurou a Resil, mas não obteve sucesso.
Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias de Equipamentos contra Incêndio e Cilindros de Alta Pressão (Abiex), informou que o aumento do prazo se deve à escassez de produtos neste início de ano, uma vez que, no período de festas, a produção contou com um número menor de dias úteis. “Os fabricantes já trabalham em carga total novamente e acreditam que oferta e demanda estarão normalizadas em todo o país bem antes do final do prazo extra”, diz o texto.
Saiba mais
Classificação
A descrição ABC indica que um extintor pode combater as três classificações de incêndio, sendo “A” materiais sólidos, como plástico, borracha, madeira e/ou tecidos; “B”, líquidos inflamáveis, como gasolina, óleo, etanol e querosene; e “C” equipamentos elétricos energizados, como a bateria ou o alternador. O extintor anterior, do tipo BC, portanto, não é capaz de combater fogo oriundo de plástico, borracha, madeira etc. É obrigatório para automóveis, utilitários, caminhonetes, caminhões, triciclos automotores de cabine fechada, ônibus, veículos de transporte inflamável e reboques com carga acima de
6 toneladas. O peso do extintor varia de 1kg a 6kg, de acordo com o tamanho do veículo.