Os escândalos e denúncias de corrupção envolvendo a Petrobras colocam pressão sobre a qualidade dos ativos do setor de bancos brasileiro, especialmente as instituições públicas de grande porte, avalia a agência de classificação de risco Fitch.
Os riscos nas carteiras de crédito aos setores de óleo e gás e construção civil de muitos bancos brasileiros cresceram no âmbito das investigações sobre contratos de empresas dessas atividades com a Petrobras. Os escândalos elevaram o desafio para os bancos brasileiros e podem resultar em inadimplência, provisões para perdas de crédito e/ou reestruturações, principalmente para os grandes bancos públicos, em 2015.
Nesta quarta-feira, a Fitch rebaixou novamente o rating da OAS de 'C' para 'RD' e no dia 19 de novembro colocou todas as empresas de construção em observação negativa devido a preocupações com impacto das investigações sobre as finanças e os negócios dessas empresas.
Além disso, as denúncias sobre a Petrobras podem reduzir o apetite do mercado internacional de capitais pelo risco brasileiro e contrair a disponibilidade de crédito local, afetando a liquidez das companhias num cenário já adverso. Em termos macroeconômicos, o Brasil já enfrenta fraco crescimento de PIB - a expectativa da Fitch é para 0,3% em 2014 e 1,0% em 2015 - altas taxas de inflação, e desvalorização do real, condições essas que devem seguir em 2015. Em geral, 35% dos empréstimos bancários estão no setor corporativo no País, diz a agência.
"Os bancos públicos podem estar mais sujeitos à deterioração da qualidade de ativos dos setores petrolífero e de construção em um futuro próximo, devido ao agressivo crescimento do crédito a estas áreas nos últimos quatro anos", diz o documento da Fitch, lembrando ainda que essas instituições são mais suscetíveis a interferência política, o que pode levá-las a conceder mais empréstimos (em relação aos bancos privados) ao setor de infraestrutura.
A Fitch acredita que a necessidade de provisionamento dos bancos públicos crescerá em 2015. Os maiores bancos privados têm carteiras bastante diversificadas e, na visão da Fitch, menor exposição aos setores de construção e petróleo em relação aos grandes bancos públicos. "As instituições particulares podem estar diretamente expostas por conta das linhas de crédito disponíveis ou de garantias prestadas a grandes empresas", diz o relatório.
"Uma possível redução dos planos de investimento da Petrobras e um ambiente de preços de petróleo mais baixos colocaria mais peso sobre construtoras, petrolíferas e indivíduos empregados por estes setores." Quanto aos bancos privados, a agência considera que mesmo diante de uma deterioração de grandes empresas de construção que atuam no setor de energia que possa levar a uma necessidade de provisionamento adicional, os bancos privados brasileiros possuem forte capitalização e taxas de inadimplência decrescentes.
Essas instituições têm capacidade de precificar novamente suas carteiras de crédito e de aumentar a disciplina de seus controles de custos, fatores considerados positivos pela Fitch. "Apenas uma severa deterioração da qualidade dos ativos, da lucratividade e da capitalização justificaria uma ação de rating negativa."
Bancos médios
Já sobre os bancos pequenos e médios, a Fitch aponta que suas carteiras são mais concentradas e voltadas a companhias menores (middle market), as quais podem estar ligadas à cadeia produtiva de óleo e gás ou de construção civil, inclusive aquelas criadas para um projeto específico.
"Ainda assim, se não estiverem devidamente constituídas e adequadamente suportadas por garantias, as exposições destes bancos às companhias ou a projetos desses segmentos podem afetar o perfil financeiro dos bancos pequenos e médios." (Luana Pavani)