Na contramão da expectativa dos muitos brasileiros que vibram com os feriados em dias úteis ao longo de 2015, os lojistas vão amargar mais um ano de esvaziamento nas datas comemorativas. Serão nada menos que 10 feriados nacionais em dias úteis, contra sete no ano passado. Nesses dias, a Confederação Brasileira do Comércio de Bens, Consumo e Turismo (CNC) calcula que o varejo deixará de movimentar cerca de R$ 29,7 bilhões. Diante da necessidade de arrecadar, a redução na atividade econômica fará falta aos cofres públicos.
"A cada feriado nacional, a lucratividade é corroída em 9,2%, ou R$ 2,7 bilhões em comparação a um dia comum", explicou Fábio Bentes, economista sênior da entidade. E a conta pode ser ainda maior. A Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) estima que, somente no estado, o varejo carioca deixa de circular R$ 974 milhões na economia por dia improdutivo. "Apesar de o turismo ser aquecido nos feriados, há, sim, perdas para o comércio. E não são apenas essas datas que geram impacto, mas os pontos facultativos também", afirmou Christian Travassos, economista da instituição.
Mais do que o prejuízo com os dias parados, o comércio amarga igualmente os feriados locais. No caso de Belo Horizonte, o Dia de Imaculada Conceição, celebrado em 8 de dezembro, uma terça-feira, será “emendado” por muitos mineiros com o fim de semana anterior, prejudicando o faturamento de sábado a terça na capital. “Muitas pessoas saem daqui para gastar em outros lugares”, afirma o vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marco Antônio Gaspar. Apenas no comércio da capital mineira a estimativa da CDL-BH é de redução de R$ 1,06 bilhão no faturamento em 2015. Só no carnaval a estimativa é que as perdas sejam de R$ 190 milhões.
Estoques
No caso da indústria, os estoques acima do planejado permitem ao setor ajustar a produção à demanda. Segundo a última pesquisa de sondagem industrial da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o estoque de produtos finais está acima do planejado pelo setor. “O setor produziu e não vendeu. Por isso, os feriados podem servir para ajustar os estoques”, afirma a economista da Fiemg, Anelise Fonseca.
Para o professor de economia da Fundação Getulio Vargas/Faculdade IBS Raul Duarte Neto, os feriados prolongados podem afetar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo ele, a economia brasileira já trabalha com baixa produtividade e essas paralisações podem ser mais um ingrediente para afetar o crescimento do PIB.
“Toda paralisação causa um impacto, principalmente econômico. Em 2014, além de muitos outros fatores, as pausas durante os dias úteis devido à Copa do Mundo impactaram o PIB, que ficou próximo de 0%. Este ano, com a quantidade de feriados, isso pode frustar a expectativa do crescimento entre 1% e 1,2%”, analisa o especialista, lembrando que o ano será de ajustes de equilíbrio nas contas, conforme anunciado pelo perfil do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. “Teremos uma inflação mais elevada que no ano anterior. Não podemos esperar um crescimento da economia significativo, ainda mais com um número menor de dias trabalhados”, completa Raul.