Brasília – Com o aumento das taxas de juros de financiamento habitacional da Caixa Econômica Federal na semana que vem, o consumidor precisa ficar mais atento do que nunca se quiser realizar o sonho da casa própria. A diferença de apenas 0,5 ponto percentual nos juros cobrados por ano pode representar um gasto de R$ 62 mil a mais na compra de um imóvel de R$ 500 mil se ele for financiado em 360 meses. Se o valor à vista for de R$ 750 mil, pelo Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), a diferença salta para R$ 370 mil ao fim de 30 anos com a elevação dos juros anuais de 9,10% para 10,70%.
O diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, explicou que o consumidor, em geral, não presta muita atenção nos juros praticados, mas no valor da prestação mensal. “Isso é um erro. Como financiamento imobiliário tem prazo muito longo, qualquer meio ponto percentual faz muita diferença. É preciso pesquisar muito, sobretudo porque a Caixa, que garantia as menores taxas do mercado e, por isso, tem 70% da carteira de crédito imobiliário do país, perdeu a competitividade diante dos outros bancos”, ressaltou.
Simulações feitas pela DSOP Educação Financeira para o Estado de Minas apontaram o impacto da alta nos juros. Pelos cálculos da consultoria, o valor da mensalidade de um financiamento de imóvel de R$ 500 mil para um cliente da Caixa pelo Sistema de Financiamento Habitacional (SFH) vai ficar R$ 86 mais caro com a elevação da taxa de 8,75% para 9% ao ano, passando de R$ 3.937,07 para R$ 4.023,11. Parece pouco, mas ao fim de 360 meses, dá para comprar um carro com a diferença de 0,25 ponto percentual ao ano. No caso de um imóvel de R$ 750 mil pelo SFI, a prestação sobe quase R$ 1 mil, de R$ 6.099,54 para R$ 6.961,67. E, no final do contrato, a diferença corresponde a um apartamento pequeno na Grande Belo Horizonte.
O gerente-geral da Caixa Econômica Federal, em Brasília, Guilherme de Aguiar, lembrou que apenas os os processos que estavam em andamento e tiverem aprovação até segunda-feira receberão as taxas antigas. “O consumidor se preocupa com o valor da prestação no bolso e não com os juros”, avaliou, ao justificar a pouca procura de clientes interessados em aproveitar as taxas se aumento para realizar o sonho da casa própria.
Outros bancos
Para o diretor da Anefac, Miguel de Oliveira, a alteração da Caixa se justifica por conta da alta da taxa básica Selic e, possivelmente, outros bancos também vão mudar seus juros. “Enquanto isso não ocorrer, a Caixa está no mesmo patamar dos demais e, dependendo do relacionamento do cliente com a instituição, outro banco, mesmo privada, pode oferecer condições mais vantajosas”, explicou. “O importante é o consumidor pesquisar antes, fazer simulações, comparar condições e não considerar apenas o valor da prestação”, emendou o especialista.
Por enquanto, nenhum outro banco anunciou aumento nas taxas para financiamento de imóveis. O Banco do Brasil garantiu, por meio de assessoria de imprensa, que “até o momento, não há nenhuma definição sobre alterações nas taxas de juros referentes aos produtos de crédito imobiliário”. Também destacou que bonifica a pontualidade no pagamento e amplia o benefício se o cliente receber seu salário no banco. As taxas do BB variam de 9,4% mais a Taxa Referencial (TR), para clientes em dia que recebem salário pelo banco, até 9,6% mais TR para quem não tem relacionamento. Em uma simulação feita pelo BB, um imóvel avaliado em R$ 500 mil com financiamento de R$ 350 mil em 360 meses fica com prestação de R$ 3.767,14 para clientes com salário no banco.
O Santander também garantiu que mantém suas taxas inalteradas: para imóveis avaliados em até R$ 750 mil os juros vão de 9,1% até 10% ao ano mais TR; e, acima desse valor, até 10,5% ao ano mais TR. O prazo máximo de financiamento é de 35 anos e o banco financia 80% do valor total, com comprometimento de renda entre 30% e 35%. Em uma simulação feita no site do banco pelo EM, para financiar R$ 400 mil de um imóvel avaliado em R$ 500 mil, a parcela inicial ficou em R$ 4.229,33 com taxas de 9,3% ao ano mais TR e custo efetivo de 9,89%.
O Itaú explicou que os juros praticados não são fixos e atribuídos de forma personalizada, conforme o relacionamento do cliente e seu histórico. Por meio da assessoria, acrescentou que o crédito imobiliário é uma de suas prioridades e está entre os produtos para pessoa física que mais cresceram em 2014. Bradesco e HSBC não revelaram se pretendem aumentar suas taxas. Simulação no HSBC permitiu financiar 70% de um imóvel avaliado em R$ 500 mil e as parcelas ficaram em R$ 3.750,05 em 360 vezes. A assessoria do HSBC informou que os juros de financiamento imobiliário “dependem do relacionamento com o cliente” e que o prazo máximo é de 30 anos. Consulta no simulador do site do Bradesco resultou em uma prestação de R$ 4.202,58 para financiamento de R$ 400 mil com taxa anual de 9,20% em 360 meses para um imóvel avaliado em R$ 500 mil.