Quando um bêbado desponta na emergência de um hospital público, seguranças, enfermeiros e médicos já sabem que terão trabalho redobrado. Atender um paciente alcoolizado chega a levar seis vezes mais tempo do que um sóbrio com os mesmos sintomas. A equipe precisa ser reforçada. Geralmente, utilizam-se mais medicamentos e materiais, e o período de recuperação no leito, se for o caso, também costuma ser maior.
O álcool está relacionado a 16,3% dos atendimentos por acidentes e violências em unidades de urgência do Sistema Único de Saúde (SUS) nas capitais e no Distrito Federal, segundo o Ministério da Saúde. Responde por metade das internações por agressões, 36,7% dos casos de lesões autoprovocadas, 11,1% dos atendimentos por quedas e 4,3% das entradas por queimaduras em prontos-socorros.
O impacto do alcoolismo na rede pública de saúde, afirma o psiquiatra Enrin Hunter, é ainda maior do que as estatísticas conseguem captar. Aos 72 anos e considerado referência no tratamento do alcoolismo, ele calcula que quatro em cada 10 atendimentos no Brasil guardam algum tipo de relação com o álcool. “É preciso contabilizar até mesmo as mulheres que caem na depressão por conta do vício do marido”, exemplifica.
Por ano, diz Hunter, o país deixa de economizar milhões de reais por estratégias equivocadas no combate ao alcoolismo. Um paciente bêbado, detalha ele, jogado em uma emergência, provavelmente será internado por intoxicação — com custo elevado de exames e ocupação de leito —, mas logo receberá alta e voltará a beber. “O alcoolismo é doença e precisa de uma vez por todas ser tratado como tal”, defende, com veemência. (DA)