(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Aumentos ultrapassam os índices oficiais da inflação

Inflação dos salões de beleza aos gastos com saúde, educação, lazer e as tarifas públicas sobe 101,5%, em média, nos últimos 10 anos, superando o IPCA no país, que variou 69,2%


postado em 18/01/2015 06:00 / atualizado em 18/01/2015 07:16

Alessandro Carneiro atribui aos custos aumentos da ordem de 125% nos preços de consertos pedidos por clientes como Alex Pereira(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Alessandro Carneiro atribui aos custos aumentos da ordem de 125% nos preços de consertos pedidos por clientes como Alex Pereira (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Os alimentos pagaram o pato pela inflação alta de 2014, mas foram os prestadores de serviços que se transformaram em protagonistas de uma pressão orquestrada sobre o orçamento do consumidor nos últimos 10 anos, com remarcações de preços sistematicamente superiores à variação geral do custo de vida no Brasil. Nos salões de beleza, clubes, restaurantes e boates, passando pelos gastos com saúde, educação, água e energia e o simples conserto de um eletrodoméstico, os reajustes acumulados de 2005 ao ano passado somaram 101,5%, na média dos preços de todos os serviços que compõem a inflação oficial, retratada no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A farta evolução desse grupo de despesas desbancou um IPCA geral, no mesmo período, de 69,2%.


Por trás da conta alta, que pode ter passado despercebida das famílias em razão da diversidade de itens nela abrigados, os prestadores de serviços trilharam caminho livre para repassar aumentos de preços desde meados da década de 2000, como observa o analista do IBGE Antonio Braz de Oliveira e Silva, responsável pelos cálculos que mostram o comportamento dos preços dos serviços, ante o IPCA, a pedido do Estado de Minas. Os números têm como base o IPCA e o IPCA Serviços, este último índice criado pelo Banco Central para acompanhar todo mês as variações da ampla gama de serviços que fazem parte da apuração da inflação oficial, incluindo as tarifas dos bancos e os chamados preços administrados, de energia, água, combustíveis e transportes públicos.


Os últimos 10 anos combinaram no Brasil períodos de crescimento da economia estimulado pelo aumento da renda do trabalho e do salário mínimo, que puxa outros rendimentos a ele associados, de taxas baixas de desemprego e o ingresso de brasileiros das classes de menor poder aquisitivo no consumo. A variação nominal acumulada do menor salário pago no Brasil entre 2005 e o ano passado alcançou 153%. São fatores decisivos para estimular o setor de serviços a expandir os seus negócios. Cerca de 40,3 milhões de brasileiros ascenderam à classe C entre 2005 e 2011 e a taxa média de desemprego medida pelo IBGE nas principais regiões metropolitanas do país caiu de 8,4% em dezembro de 2005 para 4,8% em novembro do ano passado.


À exceção dos serviços mais modernos e de grande porte, a exemplo daqueles prestados pelos bancos e as empresas de telecomunicações, os custos com mão de obra e aluguéis comerciais são, em geral, os maiores com os quais os prestadores de serviços têm de arcar. “Como a economia, o emprego e a renda vinham crescendo, eles puderam repassar esses custos sem dificuldades e outro fator é que na maioria dos casos não há concorrência com os produtos importados, uma forma de regular os aumentos de preços que ocorrem em outros segmentos da economia, como o varejo de alimentos”, afirma Braz e Silva.
O lado ruim dessa história de persistentes aumentos é que a valorização dos salários e o fortalecimento do mercado interno não tiveram como contrapartida aumentos de eficiência na prestação dos serviços capazes de evitar que eles encarecessem tanto, um mal pelo qual os brasileiros estão pagando, destaca o analista do IBGE. “O ideal é que o aumento dos salários corresponda ao da produtividade na fabricação de bens e na oferta dos serviços para que não haja pressão inflacionária. Se esse desequilíbrio ocorre, mais à frente prejudica-se a competitividade da economia”, diz.

Fatura em dia

Boa parte das despesas pessoais e de reparos feitos em casa se beneficiou do crescimento da demanda e da própria escassez de mão de obra especializada no setor, o que fez os preços subirem. Em BH, antevendo o cenário favorável, Josemar Cruz criou em 2004 a empresa Marido de Aluguel, especializada em serviços de hidráulica, eletrônica, colocação de gesso e instalação. À época, a hora de trabalho dele era vendida a R$ 10. Em 2008, passou para R$ 40 e, hoje, está em R$ 70. “É um setor que não enfrenta crise. A demanda existe de segunda a segunda”, conta Josemar, que começou o negócio sozinho para mais tarde se juntar a um sócio e, em seguida, abrir vagas para dois funcionários.


“O meu faturamento aumentou em mais de 100% nos últimos anos”, comemora o marido de aluguel. No entanto, ele reconhece que as despesas também têm crescido com o passar do tempo. “Os meus preços estão justos. Hoje, o combustível está caro, o almoço dos funcionários que antes custava R$ 8 agora vale R$ 15. Então, nossos reajustes acompanham a inflação real”, se defende. Diferentemente da indústria ou do varejo expostos à concorrência direta dos produtos importados, a mão de obra de reparos em casa, por exemplo, foi uma das mais que influenciou a alta da inflação no ano passado na capital mineira, ao encarecer 9,28%, em média, diante de um IPCA de 5,83%. Na mesma toada, seguiram os preços dos serviços de depilação, que ficaram 10,5% mais caros, de cabeleireiro e manicure, remarcados, respectivamente, em 7,22% e 6,52%, respectivamente.

 

 

 

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)