A situação de falta de energia ocorrida nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul na tarde desta segunda-feira, 19 irá se repetir. A previsão é do presidente da consultoria especializada Andrade & Canellas, André Crisafulli.
De acordo com o especialista, o problema ocorrido hoje, quando o Operador Nacional do Sistema (ONS) determinou a redução da energia entregue pelas distribuidoras aos consumidores, deixa evidente que o sistema está sendo operado no limite e somente a redução do consumo pode evitar uma situação mais grave.
"Provavelmente houve falta de condições, em determinado local, de jogar no tronco afetado a energia na frequência necessária para manter o sistema", destacou Crisafulli em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
"A falta de reserva girante, ou seja, de água no reservatório para operar o tempo necessário de forma a manter a frequência e estabilizar o sistema, aumenta a probabilidade de ocorrência desse tipo de pane no sistema", complementa.
Crisafulli pondera que a análise é preliminar, dado que o ONS deve apresentar uma análise de caso sobre o ocorrido somente nesta terça-feira. Os argumentos apresentados pelo ONS para justificar a falha de hoje mostram, contudo, que a percepção do especialista está correta.
O ONS atribuiu a pane ao escompasso entre o consumo e a geração de eletricidade nas usinas e a uma falha na transmissão de eletricidade das regiões Norte e Nordeste para o Sudeste.
"Provavelmente algumas usinas-chave da região Sudeste não tinham como operar, já que não temos reservatórios", explica Crisafulli. O nível dos reservatórios na região Sudeste estava em 18,27% da capacidade operativa.
O aumento da demanda, associado aos problemas de abastecimento, ocasionou a perda de diversas unidades geradoras, incluindo as usinas Angra I, Amador Aguiar II, Canoas II, Cana Brava e São Salvador, entre outras. "Com isso, a frequência elétrica caiu a valores da ordem de 59 Hz, quando o normal é 60 Hz", justifico o ONS.
Diante da restrição de oferta de energia na região Sudeste, em função da restrição na capacidade de transferência outras regiões para o Sudeste e da falta de chuvas e consequente atual nível dos reservatórios, Crisafulli afirma que a situação do setor elétrico nacional está próxima da "hora da verdade".
"É preciso pedir o apoio da população para reduzir o consumo. Se o consumidor não se sujeitar a passar um pouco de calor, vamos ficar sem energia para o básico, como o uso na geladeira", alerta.
O principal vilão do consumo de energia neste início de 2015, assim como já ocorreu no ano passado, é o elevado nível de utilização do ar condicionado. O pico do consumo de energia na região Sudeste ocorre principalmente no início da tarde - momento em que as temperaturas são mais elevadas.