O economista Marcelo Castello Branco, da Saga Investimentos, espera que o Banco Central dê alguma "pista" no comunicado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa nesta terça-feira, e termina na quarta-feira, de como a autoridade monetária está enxergando esse novo cenário de pressão inflacionária, em razão do agravamento da situação energética que se desenha neste momento. "E principalmente na ata", disse, ao referir-se ao documento da reunião do Copom, que será divulgado na quinta-feira.
A despeito dessa expectativa, o economista acredita que dificilmente o Banco Central estenderá o atual ciclo de aumento de juros para além do encontro de março, ainda que tenha um cenário de maior deterioração no setor de energia e consequente influência nos preços.
Ele relembrou o período de racionamento energético, em 2001, quando, diz, o BC precisou subir os juros para combater os efeitos de segunda ordem do choque inflacionário, de menos crescimento e pressão inflacionária. "Isso é muito diferente da história que se ensaia hoje. Com este BC é muito mais razoável esperar que ele diga que este choque é de crescimento e, consequentemente, (na visão dele) não precisamos subir tanto os juros. Na minha visão essa ideia é errada, mas é possível que tenhamos de conviver com ela nos próximos dias", avaliou. Para a Saga, o BC deve subir a Selic para 12,25% nesta reunião de janeiro e promover mais um aumento de 0,25 ponto porcentual, com a Selic fechando 2015 em 12,50%.
Castello Branco também concorda com a ideia de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já está dado e será elevado, podendo fechar acima de 7,00% em 2015. Segundo ele, o argumento que parece que vem sendo construído, "principalmente pela mídia", é o de que não importa como ficará a inflação deste ano, mas sim em 2016, "como se a inflação de um ano não conversasse com a de outro." Segundo ele, como deve ser alta, não importa qual será a taxa do IPCA de 2015. "A dúvida que fica são para os próximos anos, o quanto fica de inércia. Não faz diferença quanto será a inflação deste ano. Tanto que o argumento do Tombini (Alexandre Tombini, presidente do BC) é convergir a inflação para o centro da meta (de 4,50%) em 2016", avaliou.
Para o economista, os efeitos de uma eventual deterioração no setor de energia é contracionista para a atividade como um todo, mas também pode ter efeitos inflacionários. "Do ponto de vista da inflação, pode-se até querer discutir o assunto, mas não tem como fugir muito do livro texto. O choque de energia é claramente negativo para o crescimento econômico e aumenta a inflação", afirmou.
Ele explicou que, à medida que há uma restrição energética, os preços do insumo podem subir e toda a cadeia de valor da economia tende a captar o aumento. "Vai estar trabalhando a níveis menores, mas com preços mais altos. Por isso é que é um choque claramente negativo para os dois lados", argumentou.