O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse, na quarta-feira, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, que sua equipe não está "aqui para fazer remendos", referindo-se ao seu plano de ajuste fiscal e de "arrumar a casa". Para Levy, os investidores internacionais não estão preocupados com o curtíssimo prazo, e o governo está preparando o Brasil para ter um crescimento sólido.
Ele mencionou a referência à necessidade de "paciência e humildade" do discurso de posse da presidente Dilma e repisou algumas vezes que há uma "torcida" pelo Brasil em Davos. Segundo o ministro, "a prioridade hoje é uma prioridade fiscal; quando o país está fiscalmente estável, as coisas funcionam muito melhor, o custo baixa".
Numa crítica clara à política de estímulos à demanda do seu antecessor, Guido Mantega, Levy fez uma analogia entre a economia brasileira e um carro subindo uma ladeira. Segundo ele, a economia vinha desacelerando e as pisadas no acelerador estavam fazendo o carro engasgar. "Agora, engrenamos uma segunda e aí acelera, diferente de pisar no acelerador de quarta, com os incentivos, com isso e aquilo, porque isso não estava mais tendo tração."
A comparação também é uma resposta a uma indagação geral em Davos, não só da imprensa, mas também dos investidores, empresários e autoridades econômicas com quem Levy vem se encontrando. O apoio no Fórum à nova política econômica ortodoxa é total, mas persiste uma séria dúvida quanto à capacidade de a economia brasileira voltar a crescer. Assim, a "segunda marcha" pode ser menos veloz que a quarta quando o carro está engasgando, mas devolve tração e pode fazê-lo acelerar num momento seguinte.
Contração
Para Levy, pode haver um trimestre de contração (em Davos, falou em recessão, mas corrigiu o termo mais tarde), mas isso não quer dizer nada em relação a um período mais longo. Ele lembrou que houve trimestre de contração recentemente. Em almoço organizado na quarta-feira, 21, pelo Itaú em Davos, o ministro disse que o crescimento em 2015 tende a ser "flat" (próximo a zero). Na entrevista, ressaltou bastante que a inércia do mau desempenho de 2014 reflete-se no de 2015. "Uma coisa que aconteceu no passado pode ter impacto no crescimento dois ou três trimestres depois, e a gente tem de olhar para a frente", disse.
Quando o assunto foi emprego, o ministro evitou comentar diretamente as projeções de piora do mercado de trabalho, preferindo enfatizar medidas de facilitação do negócio - aliás, mencionadas várias vezes na entrevista. Levy disse que primeiro o governo está "arrumando a casa, arrumando o convés, mas muita coisa que vamos fazer nos próximos meses vai facilitar (negócios e criação de empregos) - em impostos e (também) uma grande agenda de todo o governo para a pequena e a média empresa, que são as que mais rapidamente criam emprego".
Para o ministro, "mais importante do que o curto prazo em relação ao emprego é facilitar a abertura de empresas". Segundo Levy, num momento em que "o bônus das commodities já não está tão presente", é preciso "ousar e fazer coisas porque a gente vive num mundo de competição".
Elétrico
Levy reafirmou a opção de realinhamento de preços do setor elétrico e não comentou eventual "volta atrás" na decisão da Fazenda de não repassar recursos à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Ao contrário das notícias de disputa com o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, Levy disse que o colega "faz um trabalho de primeira qualidade que dá orgulho para todo mundo que está no governo".
De forma semelhante à usada para tratar do mercado de trabalho, Levy só falou de forma muito indireta das atribulações da Petrobrás e preferiu enfatizar a surpresa positiva dos poços superprodutivos do pré-sal. Quanto à queda do preço do petróleo, ele disse que, na média, ela é favorável ao Brasil, por reduzir despesas da Petrobrás com importação de combustíveis e aluguel de equipamentos, além de estimular a economia global e, em consequência, as exportações nacionais. Ele notou ainda que, com algumas exceções no caso de royalties (referentes a Estados e municípios), o governo brasileiro não depende fiscalmente das receitas de petróleo para se financiar, caso de muitos países petroleiros.
Em relação à perspectiva de alta dos juros nos EUA, o ministro observou que o Federal Reserve (Fed, BC americano) conseguiu, a partir do ano passado, separar esse movimento da alta das taxas de longo prazo. Por isso, Levy crê que a possível elevação do juro básico americano não vai repetir o estresse de meados de 2013. "Eu acho que hoje as condições são favoráveis para não ter uma turbulência tão grande se e quando houver esse aumento das taxas curtas", disse o ministro.