Apesar de ter projeções consideradas otimistas para o desempenho do setor neste ano, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) prevê um cenário difícil para a economia brasileira, motivada principalmente por fatores internos do que externos, que deve afetar o segmento. As principais preocupações são em relação ao ajuste fiscal e crise da água e energia no País. Diante disso, o setor quer intensificar os investimentos em inovação e produtividade e em acordos comerciais com outros países.
De acordo com o presidente da Abit, Rafael Cervone, o ajuste fiscal prometido pela nova equipe econômica, apesar de aumentar a confiança dos investidores, traz consigo o risco do corte nas desonerações, como a da folha de pagamento, e do aumento da carga tributária, encarecendo o custo da produção. "A desoneração na folha foi muito importante para garantir que o desempenho do setor não fosse pior nesse ano", citou em entrevista coletiva. Além disso, o aperto monetário deve diminuir e encarecer o crédito, por meio da alta das taxas de juros.
Cervone afirmou que já conversou com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, na terça-feira da semana passada, sobre as desonerações para o setor e que ele teria dado uma sinalização importante ao reconhecer a relevância do setor para a economia brasileira. "Mostramos o impacto da desoneração, e ele reconheceu a importância", afirmou, sem dar mais detalhes sobre promessas que o ministro teria feito. O dirigente informou que a Abit já solicitou mais de 15 reuniões com os novos ministros do governo Dilma Rousseff.
Água e Energia
O presidente da Abit afirmou que a possibilidade de racionamento de água e energia terá um impacto "muito grande" para o setor, pois, além de encarecer o custo de produção, poderá provocar paralisações. Questionado pela reportagem, ele disse ainda não ter feito o cálculo da dimensão desse impacto, por ser uma conta complexa. Outra coisa que deve encarecer a produção, acrescentou, será a desvalorização do real que, apesar de melhorar a competitividade em relação aos importados, deve encarecer a compra de máquinas e equipamentos.
Todas essas previsões, somadas a uma desaceleração da economia brasileira, que reduz o consumo, fizeram com que o setor decidisse focar em acordos comerciais com outros países, principalmente Estados Unidos, União Europeia e México. "O Brasil perdeu o time desses acordos", criticou, defendendo que é preciso também "rediscutir" os acordos no âmbito do Mercosul. Segundo ele, o setor está fazendo estudo para encontrar novos nichos no mercado americano com bom potencial de consumo, além de grandes polos como Nova York e Los Angeles.