O Brasil registrou o maior rombo nas contas externas desde 1947, ano em que o indicador começou a ser apurado. O buraco chegou a US$ 90,9 bilhões, o equivalente a 4,17% do Produto Interno Bruto (PIB). Os números, na avaliação dos analistas, são assustadores porque estão próximos aos valores apurados por países em crise. Todas as vezes que o Brasil quebrou, os problemas começaram na área cambial e com déficits nas transações correntes superiores a 4% das riquezas produzidas pelo país. O quadro se torna mais preocupante porque o investimento estrangeiro direto, que totalizou
US$ 62,5 bilhões, encolheu US$ 1,5 bilhão em relação a 2013 e não foi suficiente para cobrir a necessidade de financiamento do país.
Com isso, o Brasil ficou mais dependente de capital especulativo, um problemão em tempos de incertezas como o que se vê agora na economia mundial. Os investimentos em carteira chegaram a US$ 33,5 bilhões. Ainda neste ano, é possível que os Estados Unidos aumentem as taxas de juros. A se confirmar esse movimento, a tendência é de que os recursos que hoje transitam pelos países emergentes, como o Brasil, migrem para a maior economia do planeta. A única notícia boa é que as portas do mercado internacional de crédito ainda estão abertas ao país. As empresas refinanciaram os contratos e ainda conseguiram mais empréstimos. Com isso a taxa de rolagem ficou em 153%.
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, atribuiu o déficit histórico ao resultado negativo da balança comercial de US$ 3,9 bilhões. Conforme ele, a queda no preço do minério de ferro, que perdeu 24% do valor de mercado, do milho, que barateou 19,5%, da soja, que encolheu 4,4% contribuíram para a queda das exportações. Ele ainda detalhou que a alta nas despesas com aluguel de equipamentos, que aumentaram US$ 3,6 bilhões também foram determinantes para o rombo nas contas externas. A autoridade monetária projetava um rombo nas transações correntes de US$ 83,5 bilhões.
Apesar do resultado negativo, Maciel minimizou a fato de o déficit nas transações ter chegado a 4,17% do PIB, algo que não ocorria desde 2001. O chefe do departamento econômico do BC comentou que em termos qualitativos, as condições de financiamento não mudaram significativamente nos últimos dois anos e o país manteve o financiamento por meio do investimento estrangeiro direito, dos mercados internacionais e ainda contou com a taxa de rolagem em alta. Mesmo com a expectativa de um ano ruim, o BC projeta que as transações correntes terão déficit de 3,8% em 2015. “O resultado se assemelha ao registado no fim da década de 1990, mas as condições atuais são distintas. Naquele período, o nosso passivo era financiado por meio de dívida. Agora é por meio de investimento estrangeiro direito”, disse.
RISCOS Os economistas se mostraram preocupados com o déficit em transações correntes. O professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) José Carlos Oliveira avaliou que o rombo se deve a uma sucessão de falhas do governo ao longo dos anos. Conforme ele, os governantes não incentivaram a produção industrial e a inovação, mantiveram a infraestrutura obsoleta, continuaram com processos burocráticos para exportações e deixaram a carga tributária em níveis acima do desejado para atrair empresas interessadas em se instalar no Brasil.