Brasília – O balanço não auditado da Petrobras referente ao terceiro trimestre de 2014, divulgado na madrugada de ontem, não apresentou as informações mais esperadas pelo mercado – o valor que será suprimido dos ativos por conta da corrupção que se abateu sobre a companhia –, mas indicou que o rombo é muito maior do que se previa. As perdas com propinas e superfaturamentos podem chegar a R$ 88,6 bilhões, 77,1% do valor de mercado da companhia, que despencou de R$ 128,7 bilhões, na terça-feira, para R$ 114,8 bilhões ontem, com as desvalorização das ações da estatal, que caíram até 11,21% no caso das ações preferenciais, com prioridade na distribuição de dividendos. As ordinárias, com direito a voto, despencaram 10,48%. A queda fez a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechar em baixa de 1,85%.
Diante do número das perdas, que superou as previsões mais pessimistas, a diretoria da empresa negou-se a computar as baixas contábeis no balanço, alegando que a metodologia utilizada não é correta. A decisão de esconder os dados custou caro para a companhia. As ações derreteram e, em apenas um dia, a Petrobras perdeu R$ 13,90 bilhões de valor de mercado. Em Nova York, a perda foi ainda maior, de 11,95%, para os chamados American Depositary Receipts (ADRs) da Petrobras. Com a ansiedade dos operadores para se livrar dos investimentos na estatal brasileira, as negociações do papel ficaram em segundo lugar, perdendo apenas para o Bank of America. Isso deu à empresa a honra de constar na principal página eletrônica da maior bolsa do mundo, mas por um triste motivo.
A presidente da Petrobras, Graça Foster, justificou a decisão, afirmando que é “impraticável a exata quantificação destes valores indevidamente reconhecidos”, porque os pagamentos foram feitos por fornecedores externos e não podem ser rastreados nos registros contábeis da companhia. “O resultado das avaliações indicou que os ativos com valor justo abaixo do imobilizado totalizaram R$ 88,6 bilhões de diferença a menor. Decidimos não utilizar a metodologia da determinação do valor justo para ajustar os ativos imobilizados devido à corrupção", alegou, em comunicado.
A estatal garantiu que vai “aprofundar” outra metodologia, pedindo orientações à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e ao órgão equivalente nos Estados Unidos, a Securities and Exchange Commission (SEC). “Por que não fez isso antes?”, indagou o economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo. Para ele, a PricewaterhouseCoopers (PwC) – empresa de auditoria externa que atestava a veracidade dos documentos contábeis da Petrobras, mas se negou a continuar a fazê-lo depois que os escândalos de corrupção vieram à tona – deve ter exigido que a estatal buscasse metodologias aprovadas pelas duas agências reguladoras. "Mas isso já podia ter sido feito. A Petrobras adiou duas vezes a divulgação desse balanço. O pior é ter anunciado que apresentaria as perdas contábeis, e, depois, voltado atrás", assinalou.
Deterioração Na avaliação do estrategista da Guide Investimentos Luiz Gustavo Pereira, a estatal está “no escuro”, sem saber como contabilizar o prejuízo causado pela corrupção. “A empresa tem as opções de calcular as perdas aplicando um percentual de 3% sobre todos os contratos, ou fazer os ajustes com base no valor justo dos ativos. Mas o prejuízo que surgiu foi muito alto”, explicou. Pereira ressaltou que, desde setembro de 2014, quando o balanço do terceiro trimestre deveria ter sido fechado, até hoje, a companhia já perdeu R$ 70 bilhões do valor em bolsa. “Isso quer dizer que as baixa patrimoniais já estão sendo precificadas pelo mercado”, disse ele.
Mesmo sem contabilizar os prejuízos da corrupção, os números divulgados ontem apontaram para a deterioração financeira da empresa. O lucro líquido totalizou R$ 3,1 bilhões, 38% abaixo dos R$ 5 bilhões do segundo trimestre. Em relação ao terceiro trimestre de 2013, a queda foi de 9%. O resultado operacional foi de R$ 4,6 bilhões, 48% inferior ao do período precedente. Seis dos sete segmentos de negócios da Petroleira tiveram prejuízo. No ano, o resultado negativo já está acumulado em R$ 13,871 bilhões.