Apesar de a presidente da República, Dilma Rousseff, negar, o Banco Central confirmou que haverá um tarifaço em 2015. Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, o BC estimou que os preços administrados terão alta de 9,3% no ano, ante uma previsão de 6%. As projeções contidas no documento apontam que a energia elétrica encarecerá 27,6%, a gasolina, 8% – sobretudo pela volta da incidência da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), a partir de domingo, e de PIS/Cofins –, o butijão de gás, 3% e as tarifas de telefonia fixa, 0,6%.
Para alguns analistas as previsões da autoridade monetária estão subestimadas. Nas contas do economista do Itaú Unibanco Elson Teles, os preços administrados terão alta de 10,4% em 2015 e serão responsáveis por 2,4 pontos percentuais do resultado da inflação projetada em 7,1%. Ele prevê que a energia elétrica residencial encarecerá 30%, as passagens de ônibus 11,6%, a gasolina 10,4%, os planos de saúde 9,4%, a taxa de água e esgoto 7,4%, os remédios 4,9% e o botijão de gás 4,6%.
Teles explicou que os principais impactos sobre a conta de luz virão da alta nos custos de geração, dos encargos setoriais e dos repasses para pagamento dos empréstimos que as distribuidoras fizeram no ano passado. E no caso da gasolina, a cobrança da Cide e do PIS/Cofins será repassado ao preço final pago pelo consumidor, além do encarecimento do etanol anidro ao produtor que entra na mistura da gasolina.
Dados da consultoria Kantar Worldpanel apontam que o brasileiro gasta 6% da renda anual com serviços públicos. O levantamento aponta que entre 2009 e 2013, a parcela do orçamento familiar destinada para arcar com essa despesa cresceu 27%. Somente a conta de água teve um acréscimo de 53% e de esgoto 33%. Além disso, o dispêndio com butijão de gás, lenha e ou carvão encareceu 34% no período analisado.
Expectativa
Na opinião do ex-diretor do Banco Central Luiz Lemos Leite, com o encarecimento de preços administrados, o governo precisará ser rigoroso no controle de gastos públicos para não gerar pressões inflacionárias adicionais. Ele comentou que o Banco Central demonstrou empenho em levar a inflação para o centro da meta na ata do Copom, mas dependerá da intensidade do ajuste fiscal para ter sucesso. “As pressões desse ano são enormes, mas no longo prazo há expectativa de que a carestia volte para a meta”, disse.
Para o economista-chefe do Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ, Maurício Nakahodo, as sinalizações do Banco Central de que está comprometido em levar a inflação para meta e o anúncio de um ajuste fiscal foram bem recebidos pelos agentes econômicos. Ele explicou que 2015 será um ano de baixo crescimento, mas avalia que as medidas tomadas este ano atrairão investidores, que voltarão a confiar no país. “Na nossa visão, com as divulgações dos primeiros resultados fiscais, as expectativas dos analistas melhorará e o país voltará a atrair investimentos. As perspectivas são boas no longo prazo”, afirmou.
Mão pesada nos juros
Brasília – O Banco Central continuará a pesar a mão sobre os juros, uma vez que as pressões inflacionárias não darão trégua. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, afirma que os avanços alcançados no combate à carestia não são suficientes, ainda que o cenário de convergência da inflação para o centro da meta, de 4,5% ao ano, em 2016, tenha se fortalecido.
O documento considerou ainda que o balanço de riscos para a inflação está menos favorável, devido à intensificação dos ajustes de preços relativos. Além disso, ponderou que o ambiente externo permanece complexo. Na avaliação do sócio e economista-chefe do Modal, Alexandre de Ázara, o Copom aumentará a Selic em 0,5 ponto percentual na próxima reunião, em março, levando a taxa para 12,25% ao ano. Para ele, a ata indica um aperto forte, ao mencionar que, mesmo com outras ações de política macroeconômica, cabe à política monetária manter-se especialmente vigilante.
O diretor de Pesquisas Econômicas do Bradesco, Octavio de Barros, no entanto, aposta numa alta menor, de 0,25 ponto, baseado em dois itens da ata: o reconhecimento de que o ajuste fiscal pode contribuir para reduzir a demanda e a projeção de que a atividade econômica crescerá abaixo do potencial. (AT)