O cancelamento da festa de carnaval em algumas cidades do interior de Minas Gerais, que estão sofrendo com a escassez de água, e os pacotes de viagens para Belo Horizonte lançados pelas agências de turismo a preços atrativos prometem transformar a folia de Momo em negócio de lucro certo para os prestadores de serviços na capital. Além de taxa de ocupação prevista em 75% no setor hoteleiro, bares e restaurantes esperam faturar 30% a mais no período da folia. Com isso, pela primeira vez na história da comemoração pagã em BH, cerca de 60% dos estabelecimentos vão funcionar do sábado à terça-feira, para fisgar mais de 1,5 milhão de pessoas que devem invadir as ruas.
Como nem tudo é serpentina e confete, a procura por fantasias e instrumentos musicais não deslanchou, e os lojistas do ramo já estimam queda de 40% nas vendas, comparadas as do mesmo período de 2013. No campo dos otimistas, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) considera que o feriado prolongado tem potencial para entrar no rol dos mais importantes para o setor, ao lado de datas trabalhadas tradicionalmente pelo comércio em homenagem às mães, pais e namorados. “Nos últimos três anos, percebemos uma mudança representativa no perfil do consumo nesta época. Tanto é que, muitas empresas que não funcionavam no ano passado, pretendem abrir suas portas agora”, afirma Lucas Têgo, diretor executivo da Abrasel Minas.
Segundo a entidade, são 18,6 mil negócios de bares e restaurantes em BH e a estimativa é de que, para o carnaval, 60% deles estejam em pleno atividade. “Antes, nem metade disso abria suas portas. As casas noturnas são as únicas que estão mais resistentes à abrir”, conta. A associação prevê movimento maior nos estabelecimentos de bairros como Santa Tereza e Santa Efigênia, na Região Leste; Savassi, Sion e Santo Antônio, no Centro-Sul de BH. São áreas da cidade que abrigam blocos e comemorações de rua. O bar Brasil 41, no Santa Efigênia, é dos estabelecimentos que se preparam para faturar nesta festa.
Quanto aos preços das bebidas, o presidente da Abrasel diz que não há motivo para reajustes, mas sim, de promoções. “Mas é impossível um bar conseguir o mesmo valor pedido por um vendedor ambulante, que não paga aluguel e nem oferece serviços agregados”, defende-se. Aos 74 anos, Jacira Oliveira, mais conhecida como dona Jacira, dona do bar, conta que no carnaval milhares de pessoas se reúnem às portas da casa, numa rotina que tem se repetido todos os anos. A folia de 2015 começou mais cedo e há três semanas, os blocos carnavalescos já estão fazendo uma espécie de “esquenta” bem em frente ao Brasil 41.
Para os dias oficiais da festa, dona Jacira espera que o movimento triplique e, por isso, abrirá todos os dias mais cedo. “Pelo menos, 20 blocos vão passar por aqui”, afirma, animada. O faturamento chega a subir 30% neste período, e ela já terá novidades no cardápio, como a oferta de espetinhos, para atender a clientela foliã. “Testamos isso no ano passado e deu certo. Agora, faremos nos quatro dias e a oferta será maior. Já temos mais de 2 mil garrafas de cerveja no estoque e vamos comprar mais, já que, desta vez, a festa promete”, comenta.
ATRAÇÕES De acordo com a Abrasel, as estratégias dos bares vão desde a preparação de novos pratos, em geral, comidas mais simples para o consumidor dar conta da folia, até a ampliação do quadro de funcionários. “A expectativa é de que haja contratações para ampliar em cerca de 10% a mão de obra dos estabelecimentos, onde houver maior demanda”, afirma Lucas Têgo.
Outra estratégia dos estabelecimentos é criar o próprio bloco. Isso é o que farão os sócios do bares Gilboa e Jângal, que investiram alto para que os estabelecimentos também entrem no roteiro da folia. Evitando a competição com os blocos de rua mais tradicionais da cidade, eles vão fazer uma festa carnavalesca no domingo de carnaval. “ Vamos fechar o Gilboa e abriremos somente o Jângal. Haverá o bloco Jangal Love, com banda, bebidas, entre outros atrativos”, conta um dos sócios, Frederico Giacomini. Os comerciantes investiram cerca de R$ 20 mil. “Para atender todo o público, teremos o dobro de funcionários trabalhando”, conta Giacomini.
Além da festa do Momo, os sócios investiram no pré-carnaval da cidade. Às quartas-feiras, eles promovem no bar Gilboa o evento batizado de Baile da Teresa. “Estamos nesse ritmo desde o início de janeiro e a festa aumenta em 30% nosso faturamento. Desde a abertura do Gilboa, há seis meses, esse tem sido o nosso melhor período”, revela Giacomini.
Lojistas reclamam de vendas em baixa
A festa do Momo deste ano servirá como um termômetro para o comércio, na avaliação do presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Bruno Falci. A folia de 2015 será o teste para que o setor se decida pela autorização para abrir as portas nas segundas-feiras de carnaval. “Vamos conversar sobre isso logo depois do evento. Os bares, restaurantes e o setor de turismo já vêm ganhando com a folia”, diz. O comércio não funciona às segundas-feiras de carnaval em razão de acordo com o sindicato dos trabalhadores.
A procura por fantasias e instrumentos musicais está abaixo do esperado. O Estado de Minas percorreu as tradicionais lojas do segmento em BH, onde as queixas predominam nos balcões de atendimento. Em lojas tradicionais, como a Serenata, que comercializa instrumentos musicais, o movimento se mantém. Porém, nos estabelecimentos ao redor o mesmo não ocorre e os comerciantes afirmam ter tido queda nas vendas em relação ao ano passado. Sobram tamborins e pandeiros.
Na Mega Festas Ltda, especializada em fantasias e adereços, o movimento é bem diferente do que o consumidor carnavalesco está acostumado. “Nessa mesma época, no ano passado, não havia como entrar na loja (instalada no Centro da Cidade). Até agora, não tivemos a mesma procura”, comenta a proprietária do local, Jane Prates. Ela acredita que o período de férias e os impostos cobrados neste início de ano contribuíram para a redução das vendas. “O carnaval é o meu Natal e tenho esperança que tudo melhore em fevereiro, porque minha expectativa era superar as vendas do ano passado, mas ainda não chegamos nem perto disso”, compara.
Para o consumidor, além das lojas mais tranquilas, os preços também estão mais competitivos. A estudante Estela Roberta, depois de pesquisar bastante, observou que uma fantasia de haviana no Centro da cidade pode custar R$ 20 ou R$ 45, dependendo do local. “É preciso pesquisar muito, mas, em geral, os preços estão razoáveis. Tanto é que estou levando muitas fantasias para revender em Campinas (SP), onde moro. Lá, uma fantasia completa de havaiana, por exemplo, custaria R$ 145. Aqui, consegui por R$ 35”, diz. (LE)