Foi naquele momento, conforme conselheiros ouvidos pelo Estado de Minas, que a demissão de Foster e dos demais executivos da estatal foi selada. Ao comunicar à presidente Dilma Rousseff que não houve como manter os números das perdas sob segredo, Mantega relatou o apoio dos diretores da Petrobras aos minoritários. A chefe do Executivo ligou para Graça e cobrou endosso à posição do governo. A executiva, contudo, manteve a defesa sobre a divulgação dos R$ 88,6 bilhões, por considerá-la o que, no jargão das companhias de capital aberto, se chama de “fato relevante”. Depois dessa conversa, Dilma pediu ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que preparasse a sucessão na Petrobras. Ele saiu a campo imediatamente – e também tratou de vazar a decisão presidencial.
Todas as vezes em que teve contato com o Planalto, para dar os detalhes do que ocorria na reunião do conselho, Mantega deixou a sala de reuniões. O entra e sai incomodou parte dos presentes, pois ficou claro que o governo estava disposto a fazer valer sua posição em um assunto extremamente técnico e delicado. A presidente da República não contava, porém, com o apoio explícito dos diretores da Petrobras, incluindo Graça, aos representantes dos acionistas minoritários. Procurado ontem para se pronunciar sobre isso, o Palácio do Planalto não se manifestou.
A queda de Graça e de cinco diretores da Petrobras está custando caro ao governo, que ainda não conseguiu fechar profissional de peso para comandar a estatal. A ideia é que os nomes, ou pelo menos os critérios para a escolha, sejam apresentados hoje na reunião do Conselho de Administração, na sede da estatal, no Rio. Ontem, alguns de seus integrantes se encontraram informalmente em São Paulo para discutir algumas possíveis escolhas.
Na quarta-feira à noite, renunciaram José Formigi, diretor de Exploração de Produção da Petrobras; Almir Barbassa (Finanças); Alcides Santoro (Gás e Energia); José Figueiredo (Engenharia) e José Cosenza (Abastecimento), além da presidente da companhia, Graça Foster. O plano da presidente Dilma era que eles permanecessem em seus cargos até o fim do mês, mas eles não aceitaram. Graça, que havia se reunido com a presidente em Brasília, decidiu acompanhá-los.
Novo presidente
Hoje o conselho vai ouvir pela primeira vez o grupo técnico da Petrobras composto pelo novo diretor de Governança, Risco e Conformidade da estatal, João Elek Junior, que permanece no cargo, pela ex-ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie e pelo ex-executivo-chefe de Compliance da Siemens AG Andreas Pohlmann. Espera-se que sejam apresentadas informações das investigações conduzidas pelos escritórios Trench, Rossi e Watanabe e Gibson, Dunn & Crutcher, contratados pela Petrobras, que chegaram à estimativa de perda de R$ 88,6 bilhões.
Ganharam força ontem as apostas de que o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, seja escolhido pela presidente para comandar a Petrobras no lugar de Graça Foster. Dilma resiste em aceitar o nome preferido pelo mercado, dada a experiência e o renome internacional, o do ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles. Coutinho é próximo da presidente, tem bom trânsito com o setor privado e ele já estaria de saída do BNDES e seria substituído por Ademir Bendine, atual presidente do Banco do Brasil. Mas se o nome de Coutinho for confirmado hoje, a expectativa é de uma hecatombe na bolsa e nas ações da Petrobras.
“O mercado não vai aceitar alguém do governo. Este é o momento de colocar alguém do setor privado, com as mesmas credenciais do Meirelles”, disse a economista Monica Baumgarten de Bolle, diretora da consultoria Galando/MBB, em Washington. “Tem que ser alguém de fora do setor público para fazer o que precisa ser feito e que tenha liberdade para dar o choque de gestão necessário”, afirmou. (Com Rosana Hessel)