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Estado de Minas

Governo tentou empurrar rombo da Petrobras para debaixo do tapete

Na reunião na estatal que analisou balanço, Planalto manteve contato com representante do governo no conselho para excluir dos resultados do 3º trimestre as perdas de R$ 88,6 bilhões


postado em 06/02/2015 06:00 / atualizado em 06/02/2015 07:17

Presidente Dilma cobrou de Graça Foster endosso à posição em relação à divulgação dos dados. Esse fato selou a demissão dos diretores (foto: Iano Andrade/CB/D.A Press 27/2/13)
Presidente Dilma cobrou de Graça Foster endosso à posição em relação à divulgação dos dados. Esse fato selou a demissão dos diretores (foto: Iano Andrade/CB/D.A Press 27/2/13)
Brasília – O Palácio do Planalto interveio diretamente na reunião do Conselho de Administração da Petrobras, em 28 de janeiro, para tentar impedir que a empresa incluísse, no balanço financeiro do terceiro trimestre de 2014, as perdas de R$ 88,6 bilhões provocadas pela corrupção. Por diversas vezes, ao longo do dia, a Presidência da República ligou para Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda e presidente do conselho, e ordenou que ele brecasse qualquer iniciativa de quantificar, oficialmente, a corrupção na estatal. Isso o obrigou a sair da sala onde o grupo estava reunido. A decisão de incluir os R$ 88,6 bilhões em um anexo do balanço só foi tomada diante da ameaça de representantes dos acionistas minoritários, Mauro Cunha e José Monforte, de recorrerem à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e denunciarem as manobras do governo. Eles receberam imediatamente o apoio de Graça Foster, que externou claramente a posição da diretoria da Petrobras de dar importância e transparência à estimativa de números da corrupção, mesmo que as perdas possam ser ainda maiores.

Foi naquele momento, conforme conselheiros ouvidos pelo Estado de Minas, que a demissão de Foster e dos demais executivos da estatal foi selada. Ao comunicar à presidente Dilma Rousseff que não houve como manter os números das perdas sob segredo, Mantega relatou o apoio dos diretores da Petrobras aos minoritários. A chefe do Executivo ligou para Graça e cobrou endosso à posição do governo. A executiva, contudo, manteve a defesa sobre a divulgação dos R$ 88,6 bilhões, por considerá-la o que, no jargão das companhias de capital aberto, se chama de “fato relevante”. Depois dessa conversa, Dilma pediu ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que preparasse a sucessão na Petrobras. Ele saiu a campo imediatamente – e também tratou de vazar a decisão presidencial.

Todas as vezes em que teve contato com o Planalto, para  dar os detalhes do que ocorria na reunião do conselho, Mantega deixou a sala de reuniões. O entra e sai incomodou parte dos presentes, pois ficou claro que o governo estava disposto a fazer valer sua posição em um assunto extremamente técnico e delicado. A presidente da República não contava, porém, com o apoio explícito dos diretores da Petrobras, incluindo Graça, aos representantes dos acionistas minoritários. Procurado ontem para se pronunciar sobre isso, o Palácio do Planalto não se manifestou.

A queda de Graça e de cinco diretores da Petrobras está custando caro ao governo, que ainda não conseguiu fechar profissional de peso para comandar a estatal. A ideia é que os nomes, ou pelo menos os critérios para a escolha, sejam apresentados hoje na reunião do Conselho de Administração, na sede da estatal, no Rio. Ontem, alguns de seus integrantes se encontraram informalmente em São Paulo para discutir algumas possíveis escolhas.
Na quarta-feira à noite, renunciaram José Formigi, diretor de Exploração de Produção da Petrobras; Almir Barbassa (Finanças); Alcides Santoro (Gás e Energia); José Figueiredo (Engenharia) e José Cosenza (Abastecimento), além da presidente da companhia, Graça Foster. O plano da presidente Dilma era que eles permanecessem em seus cargos até o fim do mês, mas eles não aceitaram. Graça, que havia se reunido com a presidente em Brasília, decidiu acompanhá-los.

Novo presidente

Hoje o conselho vai ouvir pela primeira vez o grupo técnico da Petrobras composto pelo novo diretor de Governança, Risco e Conformidade da estatal, João Elek Junior, que permanece no cargo, pela ex-ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie e pelo ex-executivo-chefe de Compliance da Siemens AG Andreas Pohlmann. Espera-se que sejam apresentadas informações das investigações conduzidas pelos escritórios Trench, Rossi e Watanabe e Gibson, Dunn & Crutcher, contratados pela Petrobras, que chegaram à estimativa de perda de R$ 88,6 bilhões.

Ganharam força ontem as apostas de que o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, seja escolhido pela presidente para comandar a Petrobras no lugar de Graça Foster. Dilma resiste em aceitar o nome preferido pelo mercado, dada a experiência e o renome internacional, o do ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles. Coutinho é próximo da presidente, tem bom trânsito com o setor privado e ele já estaria de saída do BNDES e seria substituído por Ademir Bendine, atual presidente do Banco do Brasil. Mas se o nome de Coutinho for confirmado hoje, a expectativa é de uma hecatombe na bolsa e nas ações da Petrobras.

“O mercado não vai aceitar alguém do governo. Este é o momento de colocar alguém do setor privado, com as mesmas credenciais do Meirelles”, disse a economista Monica Baumgarten de Bolle, diretora da consultoria Galando/MBB, em Washington. “Tem que ser alguém de fora do setor público para fazer o que precisa ser feito e que tenha liberdade para dar o choque de gestão necessário”, afirmou. (Com Rosana Hessel)


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