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Estado de Minas

Após nomeação de Bendine, ações da Petrobras desabam e dólar sobe

Mercado reage mal à nomeação de Bendine e papéis da estatal despencam 6,93%, enquanto os do BB perdem 4,2%. Moeda dos EUA avança 1,34% e fecha a R$ 2,778, o maior valor desde 2004


postado em 07/02/2015 06:00 / atualizado em 07/02/2015 07:21

Com a perda de valor das estatais, Bolsa de Valores de São Paulo encerrou pregão com queda de 0,9% ontem(foto: Christian Tragni/Folhapress)
Com a perda de valor das estatais, Bolsa de Valores de São Paulo encerrou pregão com queda de 0,9% ontem (foto: Christian Tragni/Folhapress)

Brasília – Se a saída de Graça Foster da presidência da Petrobras provocou euforia nos mercados financeiros, levando as ações da petroleira a recuperarem perdas históricas e o dólar a recuar frente ao real, o efeito inverso ocorreu com a indicação de Aldemir Bendine para controlar a maior empresa do país. A escolha do então presidente do Banco do Brasil para comandar a reestruturação da estatal, arrolada em denúncias de corrupção no âmbito da operação Lava-Jato, teve efeito devastador nas ações tanto do banco quanto da petroleira.


Para piorar, uma onda de incertezas que rondou as principais bolsas de valores ontem fez as tensões se elevarem também no Brasil. Resultado: o dólar subiu 1,34% e encerrou o dia cotado a R$ 2,778 – o maior valor em mais de 10 anos. “Essa alta do câmbio reafirma a fortaleza da economia norte-americana e a fragilidade da recuperação brasileira. Então, o mercado juntou a fome com a vontade de comer e passou a apostar mais no dólar”, disparou o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.

Diante do pânico instalado entre investidores, as empresas consideradas mais suscetíveis a interferências do governo, como Petrobras e Banco do Brasil, foram as que mais sofreram com o mau humor generalizado. As perdas da estatal do petróleo foram tão grandes que, durante o pregão, a BMF&Bovespa teve de negociar os papéis da empresa em um leilão especial, numa tentativa de reduzir a volatilidade dos negócios.

A estratégia surtiu pouco efeito, já que, ao fim do dia, as ações prefenciais (PN) recuaram 6,93%, seguidas pelas ordinárias (ON), que dão direto a voto, com queda de 6,52%. Já os papéis do Banco do Brasil caíram 4,2%.

Não escaparam nem mesmo companhias do ramo de educação, como Kroton e Estácio Educacional, que sofrem com incertezas sobre um possível corte de verbas públicas para programas de crédito estudantil em função da política de austeridade fiscal. As ações dessas duas empresas recuaram, respectivamente, 10,5% e 6,1%.

Os maus resultados levaram o Índice Bovespa a recuar mais de 2% ao longo do dia. No fechamento do pregão, porém, as perdas reduziram, mas não a ponto de reverter o resultado negativo de 0,9%, aos 48.792 pontos. Na semana, o indicador que acompanha os papéis das 100 maiores companhias da bolsa de São Paulo ainda encerrou com alta 4,2%, a maior variação semanal dede novembro do ano passado.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, o índice Dow Jones teve alta de 1,2%, seguido pelo comportamento do S&P 500, com expansão de 1,03%. Apenas a bolsa de tecnologia Nasdac registrou queda, de 0,58%.

Futuro ameaçado Apesar do número positivo, os analistas são céticos quanto ao desempenho do mercado acionário brasileiro. “A Petrobras é a maior empresa do país e se ela tiver que reduzir investimentos, como é o que se desenha no horizonte, isso certamente vai impactar o crescimento da economia neste ano”, comentou Rosa. As apostas do mercado financeiro para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) encolhem semana a semana.

A última medição do boletim Focus, preparado pelo Banco Central junto a 100 consultorias e bancos, ainda mostrava uma expectativa de estagnação de 0,03% em 2015. Mas é possível que esse número seja revisado para baixo na próxima edição do boletim, que será divulgada na segunda-feira. Isso porque os principais bancos do país, que são considerados como uma referência para o mercado, começaram a cortar as previsões para o PIB deste ano.

A mais recente aposta nesse sentido partiu do Bradesco, que revisou a projeção para o desempenho do PIB de uma alta de 0,5% para uma queda de 0,5%. “A principal mudança em relação ao que esperávamos anteriormente se deu nos investimentos. Projetamos uma queda de 3,0% em 2015, após contração de aproximadamente 8% em 2014”, justificou o diretor do Departamento Econômico do banco, Octavio de Barros, em análise a clientes.

Mais um vez, a Petrobras está no centro das preocupações. “As razões (dessa redução do PIB) são a forte queda de investimentos noticiada no setor de petróleo, bem como os ainda baixos índices de confiança do setor”, afirmou.

 

Oposição vê improviso

A escolha do presidente do Banco do Brasil (BB), Aldemir Bendine, para suceder a Graça Foster na presidência da Petrobras foi criticada pela oposição. “Não tendo conseguido alguém de fora do governo que se dispusesse a ser sócio do maior escândalo de corrupção da história contemporânea do país, restou à presidente (Dilma Rousseff) buscar, dentro do próprio governo, o novo presidente da Petrobras. Isso retrata à perfeição o slogan ‘governo novo, ideias novas’”, ironizou o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), nas redes sociais.

O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), afirmou que a queda nas ações da empresa mostra que o executivo não tem capacidade para fazer mudanças na estatal. “Ele só está onde está pois sempre foi subordinado a questões políticas. Os nomes que poderiam ajudar não aceitam a missão porque Dilma não dá autonomia para uma gestão eficiente e transparente”, concluiu.

“Ele não tem conhecimento de um setor extremamente complexo e nem estofo para levar a Petrobras a um patamar de credibilidade que necessita neste momento”, avaliou o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), classificando a escolha como “decepcionante”. “Para substituir Graça, a exigência maior era escolher alguém da total confiança de Dilma. Ponto. A escolha foi feita”, acrescentou o presidente do DEM, senador José Agripino (RN)

 

Resistência interna

Brasília – A decisão do Conselho de Administração da Petrobras de aprovar o nome de Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil, para comandar a estatal desagradou aos acionistas minoritários, a alguns conselheiros e também aos funcionários da companhia. Mauro Rodrigues da Cunha, membro do conselho, destacou que, embora tenha sido por maioria, a aprovação não foi por unanimidade. Três votaram contra.

“Assistimos a mais um episódio de desrespeito. Os conselheiros tomaram conhecimento do nome do novo presidente da companhia pela imprensa, antes de o assunto ser discutido. Eu gostaria de dizer em público as verdades que pus em ata, mas correria o risco de sofrer retaliações, como já sofri no passado. O acionista controlador mais uma vez impõe sua vontade sobre os interesses da Petrobras, ignorando os apelos de investidores de longo prazo”, ressaltou Cunha.

O representante dos funcionários da Petrobras no Conselho de Administração da empresa, Silvio Sinedino, afirmou, em nota, que votou contra a eleição de Bendine. “Nosso voto é contrário aos nomes propostos, não pelo mérito pessoal dos indicados, mas, como já argumentamos, pela forma da indicação, sem consulta aos trabalhadores e trabalhadoras da Petrobras”, disse.

Sinedino sugeriu que a diretoria fosse escolhida no mercado como João Elek, que assumiu a diretoria de Governança, Risco e Conformidade. Já o quadro de gerentes deveria ser eleito pelos empregados. “Propomos que a seleção da alta gerência passe a ser feita internamente, pelos próprios trabalhadores da companhia, em eleição direta que indique a este Conselho de Administração uma lista com três nomes para cada cargo”, afirmou Sinedino aos demais conselheiros da Petrobras.

Petroleiros A Federação Única dos Petroleiros (FUP), representante dos empregados da Petrobras, também recebeu com resistência a indicação de Bendine para a presidência da estatal. José Maria Rangel, diretor da FUP e ex-conselheiro da Petrobras, diz que a fama de “durão” nas negociações com os funcionários do Banco do Brasil, quando presidia a instituição, é “preocupante”.

Como fator positivo, Rangel considerou o fato de Bendine ser um homem de confiança do Planalto, o que significa que a tendência é ele continuar a defender os interesses de governo, como o controle dos preços dos combustíveis. A posição é exatamente contrária à do mercado financeiro, que interpreta a intervenção do Estado nas decisões empresariais como um entrave à eficiência da Petrobras.

Para o diretor da FUP, dentro da estatal, a percepção é de que a diretoria aprovada ontem representa a continuidade do modelo de administração anterior e que, assim, dificilmente haverá uma “limpeza” na companhia. Bendine “é mais do mesmo”, disse um gerente da Petrobras que não quis se identificar.


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