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Estado de Minas COM O AVAL SÓ DE DILMA

Nomeação de Bendine é mal recebida nos meios políticos, empresariais e mercado

Escolha de ex-presidente do BB para a petroleira foi decisão pessoal da presidente e desagradou a todos. Sob investigação, Bendine amplia desconfiança sobre empresa


postado em 07/02/2015 06:00 / atualizado em 07/02/2015 07:14

Aldemir Bendine assume comando da estatal sob crítica e tem desafio de publicar balanço auditado até junho(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Aldemir Bendine assume comando da estatal sob crítica e tem desafio de publicar balanço auditado até junho (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Brasília – A presidente Dilma Rousseff contrariou, mais uma vez, as expectativas, tomou uma decisão isolada e aumentou a desconfiança sobre os rumos da maior empresa brasileira. Ao nomear Aldemir Bendine, que deixa o comando do Banco do Brasil (BB), para a presidência da Petrobras, Dilma desagradou a todos: sua equipe econômica, o próprio partido, o PT, a oposição e o mercado financeiro. As ações da petroleira tiveram mais um dia de derretimento na Bolsa de Valores de São Paulo, recuaram quase 7%, a R$ 9,12, e o dólar atingiu a maior cotação em 10 anos, superando os R$ 2,77. Ao divulgar os nomes da nova diretoria antes do fechamento do pregão, o Planalto ainda contrariou regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que abriu mais uma investigação contra a estatal.


Fontes disseram que Dilma nem sequer ouviu o seu mentor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defendia os nomes de Nildemar Sechhes, ex-presidente da Perdigão, e de Antonio Maciel Neto, presidente do grupo Caoa, que trabalhou na Petrobras por 10 anos antes de comandar empresas de grande porte como Ford e Suzano. Mesmo reunida com os ministros petistas, a presidente não deixou vazar o encontro que teve a portas fechadas com Bendine, embora todos soubessem das reuniões anteriores com Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e Murilo Ferreira, presidente da Vale, também cotados para substituir Graça Foster.

Contra o nome de Bendine, pesa o fato de ele estar sob investigação do Ministério Público. Nos bastidores, comenta-se que ele fez uma autodefesa eficiente, alegou ser o nome adequado para o cargo – pela experiência em gestão de crise e pela sua ligação com o setor bancário –, o que pode ajudá-lo a limpar o nome da Petrobras no sistema financeiro. Bendine leva no currículo a liderança, à frente do BB, do processo de redução dos juros em 2009, uma decisão da própria Dilma.

A escolha de um nome alinhado ao PT também busca blindar o governo do escândalo de corrupção que atinge a estatal. Um ministro chegou a afirmar que a presidente decidiu por Bendine pela sua maior capacidade de suportar pressões. Para contrabalançar, o governo pretende abrir o Conselho de Administração para nomes de mercado, tarefa que será liderada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O atual conselho ainda tem a cara do mandato anterior, com os ex-ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Miriam Belchior, do Planejamento, Coutinho, do BNDES, e o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann.

Além de Aldemir Bendine, o conselho nomeou ontem a nova diretoria da Petrobras. Ivan Monteiro era vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores do BB e assume a Diretoria de Finanças da petroleira. Os outros quatro diretores — Solange da Silva Guedes, Jorge Celestino Ramos, Hugo Repsold Júnior, Roberto Moro — escolhidos interinamente, são todos do corpo técnico da petroleira. Como eram gerentes-executivos, tiveram relação direta com ex-diretores investigados pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato. A exceção é o diretor interino de Abastecimento, Jorge Celestino Ramos, que estava na BR Distribuidora e chegou à controladora há menos de um ano.

Para o mercado, a indicação de Bendine não poderia ser pior. “Vão ficar com saudade da Graça Foster”, sentenciou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. “A bagunça na Petrobras é tanta que nomearam a diretoria com o mercado aberto”, assinalou. Não à toa, a CVM abriu mais uma investigação contra a estatal, que já responde a vários processos judiciais, civis e criminais no Brasil e nos Estados Unidos. A dúvida do mercado é se Bendine será mais eficiente para blindar o governo do que para resolver os problemas da companhia, que não são poucos. O principal é contabilizar os prejuízos com a corrupção e lançar essas perdas em um balanço contábil auditado, com valor real para os órgãos reguladores, cujos prazos estão vencendo.

A economista Monica Baumgarten de Bolle, sócia-diretora da consultoria Galanto/MBB, em Washington, comentou que as empresas de classificação de risco internacionais receberam muito mal a escolha de Bendine. Na sua avaliação, a nomeação aumentou as chances de um novo rebaixamento da nota da estatal. “O mercado esperava alguém de fora do setor público, que tivesse liberdade para dar o choque de gestão que a Petrobras precisa para recuperar a credibilidade”, observou. (Com Paulo de Tarso Lyra e Paulo Silva Pinto)

 

Polêmicas marcam a carreira

Aldemir Bendine, 51 anos, assume o comando da Petrobras com as marcas das polêmicas protagonizadas por ele nos últimos seis anos, quando esteve à frente do Banco do Brasil (BB). Menos de uma hora após a petrolífera confirmá-lo na presidência, o Ministério Público Federal (MPF) pediu a instauração de inquérito policial para apurar melhor o caso Val Marchiori, o mais simbólico dos episódios que levaram à decepção do mercado com a escolha da presidente Dilma Rousseff.

Bendine é casado, tem duas filhas. A socialite e apresentadora Val, segundo o banqueiro, não passa de uma amiga com quem esteve junto em ao menos dois compromissos oficiais, no Rio de Janeiro e na Argentina. No ano passado, surgiu a denúncia de que o então todo-poderoso do BB teria burlado as regras da instituição para favorecê-la. Um empréstimo de R$ 2,7 milhões com juros baixos fora autorizado em uma operação incomum, e mesmo com ela estando inadimplente. O banco e o próprio Bendine negaram qualquer irregularidade à época. O MPF ainda não conseguiu acesso a toda a documentação relativa à transação suspeita.

Bendine nasceu em 10 de dezembro de 1963 em Paraguaçu Paulista (SP), onde aos 15 anos começou a trabalhar no BB, como estagiário. A aprovação em concurso veio em 1982. Ele sempre trabalhou na instituição, não tendo qualquer passagem por outra empresa. Em 2009, tornou-se o quarto presidente da instituição da era Luiz Inácio Lula Silva. O executivo nunca se filiou ao Partido dos Trabalhadores, mas sempre foi muito ligado à legenda. Bendine virou queridinho de Lula. Soube atender as expectativas do governo de tal forma que se manteve na função na gestão Dilma.

Patrimônio suspeito Durante a administração Bendine, o BB registrou o maior lucro da história: R$ 15,8 bilhões, em 2013. E os seus ativos saltaram de R$ 685,3 bilhões para R$ 1,432 trilhão. Mas o executivo teve de encarar seguidas acusações de malfeitos, afastando-o de eventos públicos e da imprensa. Em 2010, o agora presidente da Petrobras recebeu acusações de ter comprado um apartamento no interior de São Paulo pagando cerca de R$ 150 mil em espécie. Na ocasião, alegou que tinha todo aquele montante em casa. Na mesma época, vieram à tona desconfianças quanto à evolução do seu patrimônio, considerado incompatível com os rendimentos do executivo, que ganhava no BB cerca de R$ 60 mil mensais, R$ 40 mil a menos do que o salário na Petrobras. Sublinhando que prováveis estranhezas eram explicadas por meros erros na declaração do Imposto de Renda, o banqueiro confirmou ter pago multa de R$ 122 mil para a Receita. Ontem, o órgão reforçou que não comenta o caso.

No ano passado, o estopim da trajetória de Bendine: o ex-motorista Sebastião Ferreira da Silva, conhecido como Ferreirinha, contou em depoimentos no MPF de São Paulo que transportava sacolas de dinheiro vivo a mando do chefe. Meses seguintes, denunciou que representantes do governo e do próprio BB estariam tentando impedi-lo de seguir adiante com as acusações, porque “poderiam prejudicar a reeleição de Dilma” ou mesmo levá-lo à cadeia.

 

Mudança no Banco do Brasil

Vice-presidente de Negócios de Varejo, Alexandre Abreu, 49, será o novo presidente do Banco do Brasil, a maior instituição financeira do país, líder no financiamento do agronegócio e que deve participar dos empréstimos aos principais projetos de infraestrutura nos próximos anos. Considerado ousado e inquieto, o executivo foi o responsável no BB por implantar o corte agressivo nos juros em 2011, bandeira do início do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, com o objetivo de acirrar a concorrência bancária.

Foi com essa missão que Abreu ganhou prestígio e a simpatia da presidente. Nos últimos anos, Abreu se tornou uma espécie de braço-direito de Aldemir Bendine, que deixou a presidência do banco para se tornar o novo presidente da Petrobras. Por esse motivo, nem os funcionários nem os analistas do mercado financeiro acreditam em uma mudança significativa na gestão da instituição financeira. Apesar do temperamento irrequieto (colegas relatam que ele está sempre “pilhado”), o executivo tem fama de ser um bom negociador, especialmente com executivos da concorrência.


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