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Estado de Minas

Fornecedores de serviços às empreiteiras investigadas na Lava-Jato amargam calote milionário

Fabricantes de máquinas e prestadores de serviços buscam na Justiça cumprimento de contratos que empreiteiras não pagam. Débito é superior a R$ 300 milhões


postado em 10/02/2015 06:00 / atualizado em 10/02/2015 07:22

Equipamentos não têm outra aplicação, segundo Marcelo Veneroso, que aguarda audiência na Petrobras(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press 16/9/11)
Equipamentos não têm outra aplicação, segundo Marcelo Veneroso, que aguarda audiência na Petrobras (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press 16/9/11)

Fornecedores de máquinas e equipamentos e prestadores de serviços às empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato, que apura denúncias de corrupção na Petrobras, vão à Justiça contra o atraso no pagamento de contratos. Em meio às investigações, a estatal do petróleo tem segurado o pagamento de aditivos e contratos sob suspeição. Com isso, as empresas também não têm quitado os débitos com seus contratados. Cálculos da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) indicam débito superior a R$ 300 milhões das empresas do setor com fornecedores. Segundo levantamento feito pela associação, 60 já confirmaram ter tido prejuízo e a estimativa é de que outras 60 estejam na mesma situação, mas ainda não se pronunciaram.

Cerca de 400 associadas da Abimaq fornecem, hoje, equipamentos direta ou indiretamente à Petrobras. Ou seja, mais de um quarto delas (30%) teria valores em atraso a receber. O diretor da Abimaq em Minas Gerais Marcelo Luiz Moreira Veneroso afirma que empresas que assinaram aditivos com a Petrobrás têm se recusado a efetuar o pagamento. “A Petrobras está trancando todo e qualquer pagamento e essas empresas pararam de pagar aos fornecedores de máquinas”, relata Veneroso. Ele é diretor da Neuman & Esser América do Sul, que tem crédito a receber em atraso relativos a dois contratos com duas empreiteiras investigadas. O industrial prefere manter em sigilo os nomes das devedoras. A Usiminas Mecânica seria outra com valores a receber, segundo Veneroso. A empresa não comenta o assunto. Caso o problema persista, a associação prevê demissões e até o risco de quebra.

O presidente do conselho administrativo de uma grande empresa de Belo Horizonte, que optou por se manter no anonimato, afirma ter valor a receber de aproximadamente R$ 4,3 milhões referentes a três contratos. “É uma situação difícil por não sabermos se os contratos terão continuidade. Aguardamos uma posição da Petrobras para saber se alguém irá assumi-los. Era melhor cancelar e suspender todos os contratos de uma vez. A incerteza gera desconforto”, afirma. Em um caso a empresa entrou com execução judicial para receber R$ 300 mil da Alusa. Outro débito, de R$ 3 milhões, se referem ao sinal de um contrato com o Consórcio Integra, composto por Mendes Júnior e OSX.

A empresa iniciou a produção de equipamentos para uma FPSO (trata-se de uma espécie de sonda flutuante), mas, sem receber paralisou o contrato, que totaliza R$ 20 milhões. Oitenta pessoas ligadas ao projeto foram demitidas. O último contrato em atraso é firmado com uma multinacional asiática. Ao todo, o débito é de R$ 1 milhão. A contratante do equipamento estaria prorrogando a data de pagamento desde meados de janeiro, no que o presidente do conselho da empresa chama de “operação enrolação”. Procuradas pelo Estado de Minas, o Integra não respondeu. O EM não conseguiu contato com a Alusa.

Uma reunião com a ex-presidente da Petrobras, Graça Foster, estava agendada para o dia 4 para discutir o tema, mas, na véspera, a diretoria da Abimaq foi informada do cancelamento do encontro. A explicação seria dada horas depois: a saída da executiva da estatal. O setor já solicitou nova reunião com o novo presidente, Aldemir Bendine, para discutir a saúde financeira dos fornecedores. Marcelo Veneroso afirma que, como os equipamentos são feitos sob encomenda para as empresas, é inviável aproveitá-los em outros contratos. São bombas, válvulas, compressores e outros aparelhos feitos especialmente para um serviço específico. “São equipamentos sem aplicação em outro lugar”, diz o diretor da instituição.

No comparativo com o ano passado, a estatal prevê corte entre 25% e 30% dos investimentos. Ao todo, US$ 44 bilhões foram alocados em 2014, enquanto neste ano o valor a ser investido deve oscilar entre US$ 31 bilhões e US$ 33 bilhões. O diretor da Abimaq afirma que aproximadamente um terço dos investimentos da estatal seria destinado à compra de aparelhos. O corte de investimentos da Petrobras agrava a situação do setor de máquinas e equipamentos, que encerrou 2014 com queda de 15%. “Os maiores investimentos no país vinham da Petrobras”, afirma Veneroso. Ele afirma haver situação crítica ainda nas encomendas da indústria da mineração, com o cancelamento dos investimentos devido aos baixos preços das commodities (preços de bens agrícolas e minerais cotados no mercado internacional), na siderurgia e na construção civil.


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