O desaquecimento da economia brasileira e a forte queda no preço do minério de ferro no mercado internacional resultaram no corte de centenas de postos de trabalho em Minas Gerais. Com o pé no freio, empresas suspendem projetos e investimentos futuros. O resultado é a demissão de mais de 1 mil empregados nas principais mineradoras do estado nos últimos meses, de acordo com os sindicatos da categoria. Para evitar a caracterização de demissão em massa, algumas empresas o fazem a conta-gotas.
Em Congonhas, a LGA Mineração cortou mais da metade das vagas. Apenas 45 dos 100 empregados permaneceram, segundo o Sindicato Metabase Inconfidentes, representante dos trabalhadores de Congonhas, Ouro Preto e Belo Vale. O diretor da entidade, Ivan Targino, acrescenta que, na mesma região, a CSN anunciou na segunda-feira o corte de 200 trabalhadores.
A empresa informou ao sindicato ser um turnover normal, mas, depois de reunião ontem na Delegacia Regional do Trabalho, ficou decidido que o caso será tratado judicialmente. Uma medida cautelar será impetrada para forçar a CSN a justificar os critérios econômicos de uma demissão em massa, como foi classificada pelo sindicato. A empresa teria suspendido parte do plano de investimento futuro, o que resultou no corte de quase 50 pessoas na gerência de expansão. Além desses, outros 157 foram demitidos na CGPAR, prestadora de serviço ligada à CSN. O total, no entanto, já supera 500, segundo Targino, e novas demissões devem ser efetivadas depois do carnaval. “É um cenário que tende a se aprofundar”, afirma o sindicalista.
Depois de ter atingido valores recordes entre 2010 e 2012 (acima de US$ 170/tonelada), o preço da tonelada do minério de ferro oscila perto de US$ 60 nos últimos meses. A forte retração na cotação deve-se principalmente à demanda chinesa, que, depois registrar crescimento econômico prolongado – acima de dois dígitos –, no ano passado subiu 7,4%, abaixo da meta traçada.
Segundo o Sindicato Metabase de Itabira e Região, a Vale já formalizou 25 demissões desde o início do ano, principalmente na área operacional. O diretor-tesoureiro do sindicato, Carlos Roberto Assis, afirma que a empresa já indicou ser crítica a situação dos negócios. “Isso reflete em outros segmentos e nos terceirizados”, diz Assis. O sindicato elaborou uma campanha com abaixo-assinado para tentar frear as demissões. Em Belo Horizonte, o sindicato relata terem sido demitidos 255 desde agosto e acusa a empresa de manter seus lucros com as demissões. “O minério virou um problema sério”, diz o presidente da entidade, Sebastião Alves de Oliveira, em relação ao baixo valor da commodity. “A Vale poderia esperar um pouco mais com os trabalhadores”, conclui.
Em Mariana, foram homologadas outras 226 demissões em seis meses pela Vale. A diretoria do sindicato de Mariana reclama dos cortes continuados. “Para nós, as demissões têm sido a conta gotas e de uma forma crescente e diária. As mineradoras não estão em crise. A Vale registrou o melhor desempenho de produção da sua história no terceiro trimestre do ano passado, com a extração de 85,7 milhões de toneladas de minério de ferro, expandindo as atividades para enfrentar preços de seu principal produto em mínimas de vários anos”, diz em nota o sindicato.
A representação dos trabalhadores informa estar em negociação com o Ministério Público do Trabalho e a Delegacia Regional do Trabalho para adotar medidas contra as demissões. Em nota, a Vale afirma que, “para se adaptar ao atual cenário da mineração, a empresa tem focado suas atenções na alocação de recursos, na otimização e simplificação de processos e no desenvolvimento de ativos”. Entre as mineradoras que atuam na região de Brumadinho, há registros de cortes de 75 empregados em dezembro e outros cinco em janeiro. Além disso, o pagamento da participação nos lucros estaria ameaçado em função do não cumprimento de metas até o terceiro trimestre do ano passado. Essa medida, no entanto, ainda precisa ser formalizada junto à comissão que trata do tema.
BC vê país em recessão
Brasília – Os temores sobre uma possível volta do país à recessão, enfim, se confirmaram: em 2014, mesmo com o governo tendo turbinado gastos para fortalecer a candidatura vencedora da presidente Dilma Rousseff (PT), a economia patinou. Números divulgados ontem pelo Banco Central (BC) indicam que a riqueza produzida por famílias e empresas encolheu 0,15% no ano passado. O resultado, medido pelo Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-BR), denuncia a paralisia que se alastra por todo o país. Também sugere que o Produto Interno Bruto (PIB) – cujo resultado de 2014 só será conhecido no fim de março, com um mês de atraso do prazo de praxe que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) costuma divulgar as contas nacionais – deverá vir em terreno negativo.
Pelos números do BC, o país já está em recessão. E não é só. A julgar pela intensidade da queda, o último ano do primeiro mandato da presidente Dilma terá sido desastroso em termos de desempenho da economia. O tombo registrado em 2014 foi o segundo maior em uma década e só ficou atrás da contração verificada em 2009, quando o IBC-BR encolheu 1,25%. Naquele ano, a medição oficial do PIB indicou retração de 0,3%. A diferença nos resultados se deve a metodologias diferentes de cálculo. Enquanto IBGE avalia praticamente todos os setores econômicos, o IBC-BR reproduz o comportamento de um conjunto limitado de setores produtivos, como a indústria, o varejo, a agropecuária, além do recolhimento de impostos por empresas e famílias. Mas, apesar de mais simplificado, o cálculo do BC reproduz uma fotografia muito próxima da captada pelo IBGE. Levantamento feito pelo Estado de Minas mostra que, nos últimos 10 anos, a distância entre os dois indicadores foi de apenas 0,04%. Em média, o crescimento da economia medido pelo IBC-BR foi de 3,23%, enquanto que o do PIB foi de 3,19%.
É por isso que, a julgar pelo desempenho do indicador do BC registrado na passagem do ano, tudo leva a crer que 2015 será um ano marcado por dificuldades ainda maiores na economia. Mesmo em dezembro, em tese um mês forte devido às vendas de Natal, o IBC-BR encolheu 0,55%, na comparação com novembro. A queda foi menos intensa do que previa o mercado financeiro, que apostava numa retração de 1%, na série que considera os ajustes sazonais de um mês para outro.
Em Congonhas, a LGA Mineração cortou mais da metade das vagas. Apenas 45 dos 100 empregados permaneceram, segundo o Sindicato Metabase Inconfidentes, representante dos trabalhadores de Congonhas, Ouro Preto e Belo Vale. O diretor da entidade, Ivan Targino, acrescenta que, na mesma região, a CSN anunciou na segunda-feira o corte de 200 trabalhadores.
A empresa informou ao sindicato ser um turnover normal, mas, depois de reunião ontem na Delegacia Regional do Trabalho, ficou decidido que o caso será tratado judicialmente. Uma medida cautelar será impetrada para forçar a CSN a justificar os critérios econômicos de uma demissão em massa, como foi classificada pelo sindicato. A empresa teria suspendido parte do plano de investimento futuro, o que resultou no corte de quase 50 pessoas na gerência de expansão. Além desses, outros 157 foram demitidos na CGPAR, prestadora de serviço ligada à CSN. O total, no entanto, já supera 500, segundo Targino, e novas demissões devem ser efetivadas depois do carnaval. “É um cenário que tende a se aprofundar”, afirma o sindicalista.
Depois de ter atingido valores recordes entre 2010 e 2012 (acima de US$ 170/tonelada), o preço da tonelada do minério de ferro oscila perto de US$ 60 nos últimos meses. A forte retração na cotação deve-se principalmente à demanda chinesa, que, depois registrar crescimento econômico prolongado – acima de dois dígitos –, no ano passado subiu 7,4%, abaixo da meta traçada.
Segundo o Sindicato Metabase de Itabira e Região, a Vale já formalizou 25 demissões desde o início do ano, principalmente na área operacional. O diretor-tesoureiro do sindicato, Carlos Roberto Assis, afirma que a empresa já indicou ser crítica a situação dos negócios. “Isso reflete em outros segmentos e nos terceirizados”, diz Assis. O sindicato elaborou uma campanha com abaixo-assinado para tentar frear as demissões. Em Belo Horizonte, o sindicato relata terem sido demitidos 255 desde agosto e acusa a empresa de manter seus lucros com as demissões. “O minério virou um problema sério”, diz o presidente da entidade, Sebastião Alves de Oliveira, em relação ao baixo valor da commodity. “A Vale poderia esperar um pouco mais com os trabalhadores”, conclui.
Em Mariana, foram homologadas outras 226 demissões em seis meses pela Vale. A diretoria do sindicato de Mariana reclama dos cortes continuados. “Para nós, as demissões têm sido a conta gotas e de uma forma crescente e diária. As mineradoras não estão em crise. A Vale registrou o melhor desempenho de produção da sua história no terceiro trimestre do ano passado, com a extração de 85,7 milhões de toneladas de minério de ferro, expandindo as atividades para enfrentar preços de seu principal produto em mínimas de vários anos”, diz em nota o sindicato.
A representação dos trabalhadores informa estar em negociação com o Ministério Público do Trabalho e a Delegacia Regional do Trabalho para adotar medidas contra as demissões. Em nota, a Vale afirma que, “para se adaptar ao atual cenário da mineração, a empresa tem focado suas atenções na alocação de recursos, na otimização e simplificação de processos e no desenvolvimento de ativos”. Entre as mineradoras que atuam na região de Brumadinho, há registros de cortes de 75 empregados em dezembro e outros cinco em janeiro. Além disso, o pagamento da participação nos lucros estaria ameaçado em função do não cumprimento de metas até o terceiro trimestre do ano passado. Essa medida, no entanto, ainda precisa ser formalizada junto à comissão que trata do tema.
BC vê país em recessão
Brasília – Os temores sobre uma possível volta do país à recessão, enfim, se confirmaram: em 2014, mesmo com o governo tendo turbinado gastos para fortalecer a candidatura vencedora da presidente Dilma Rousseff (PT), a economia patinou. Números divulgados ontem pelo Banco Central (BC) indicam que a riqueza produzida por famílias e empresas encolheu 0,15% no ano passado. O resultado, medido pelo Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-BR), denuncia a paralisia que se alastra por todo o país. Também sugere que o Produto Interno Bruto (PIB) – cujo resultado de 2014 só será conhecido no fim de março, com um mês de atraso do prazo de praxe que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) costuma divulgar as contas nacionais – deverá vir em terreno negativo.
Pelos números do BC, o país já está em recessão. E não é só. A julgar pela intensidade da queda, o último ano do primeiro mandato da presidente Dilma terá sido desastroso em termos de desempenho da economia. O tombo registrado em 2014 foi o segundo maior em uma década e só ficou atrás da contração verificada em 2009, quando o IBC-BR encolheu 1,25%. Naquele ano, a medição oficial do PIB indicou retração de 0,3%. A diferença nos resultados se deve a metodologias diferentes de cálculo. Enquanto IBGE avalia praticamente todos os setores econômicos, o IBC-BR reproduz o comportamento de um conjunto limitado de setores produtivos, como a indústria, o varejo, a agropecuária, além do recolhimento de impostos por empresas e famílias. Mas, apesar de mais simplificado, o cálculo do BC reproduz uma fotografia muito próxima da captada pelo IBGE. Levantamento feito pelo Estado de Minas mostra que, nos últimos 10 anos, a distância entre os dois indicadores foi de apenas 0,04%. Em média, o crescimento da economia medido pelo IBC-BR foi de 3,23%, enquanto que o do PIB foi de 3,19%.
É por isso que, a julgar pelo desempenho do indicador do BC registrado na passagem do ano, tudo leva a crer que 2015 será um ano marcado por dificuldades ainda maiores na economia. Mesmo em dezembro, em tese um mês forte devido às vendas de Natal, o IBC-BR encolheu 0,55%, na comparação com novembro. A queda foi menos intensa do que previa o mercado financeiro, que apostava numa retração de 1%, na série que considera os ajustes sazonais de um mês para outro.