O aumento dos preços da gasolina forçou os brasileiros a mudarem hábitos e trajetos diários. Responsáveis, em média, por quase 5% do orçamento das famílias, os combustíveis ganham um peso ainda maior em um momento de inflação alta e incertezas quanto aos rumos da economia. Decisões simples no dia a dia podem ajudar a amenizar o impacto dos recentes reajustes. Vale a pena o esforço para encher menos o tanque, sustenta Edward Cláudio Júnior, diretor da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin). “Tudo o que pode ser feito deve ser feito”, enfatiza, como um mantra para estimular as pequenas economias.
Deixar o carro na garagem e ir à padaria caminhando faz bem ao bolso e à saúde, sugere Edward. Optar pelo transporte público — nos lugares em que isso é possível — leva à economia de combustível e, de quebra, de estacionamento, item que no acumulado de 12 meses registrou aumento de 10,12% na média do país, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro, indicador da inflação oficial do país.
Na hora do lanche ou do passeio fora de casa — quando o orçamento permitir —, a dica é priorizar destinos mais próximos e, antes de dar a partida no veículo, planejar o roteiro para evitar percursos desnecessários. “Buscar a namorada em casa virou declaração de amor”, brinca. Em Belo Horizonte, a gasolina encareceu 9,73% entre 7 de janeiro
Nos últimos 10 dias, a conta pesou para o lado do álcool, que está sendo vendido a R$ 2,11 e Fábio mudou o hábito de consumo. “Gasto em torno de R$ 280 por semana completando com álcool. Se estivesse ainda abastecendo com a gasolina, gastaria 50% a mais e isso pesa, principalmente para quem tem o carro como instrumento de trabalho”, afirma. Segundo ele, a margem do rendimento no trabalho foi reduzida. “Só temos um reajuste por ano e não podemos alterar o preço da bandeirada toda vez que o preço da gasolina sobe. Não sei como vamos fazer se houver mais reajustes como este último”, afirma.
O serralheiro Vonilton César Santos Nascimento também se adaptou à alta dos combustíveis. Depois do aumento, que chegou às bombas em 1º de fevereiro, ele passou a se locomover, com mais frequência, de ônibus, deixando o carro na garagem. Os gastos com combustível, que alcançavam R$ 80 por semana, passaram a R$ 50, ainda que com a ajuda da mudança do combustível para o álcool. “Se os reajustes continuarem nessas proporções, vou acabar deixando o carro sempre na garagem. Nosso salário não está acompanhando a inflação desses itens, nem mesmo dos produtos de necessidade básica. Está cada vez mais difícil sustentar a casa sem se endividar”, ressalta ele, que deve rever e cortar outros gastos da família como o lazer.
Há cuidados com o carro que podem, sim, ajudar a amenizar os gastos (veja quadro). Manter os pneus calibrados corretamente e ponderar o uso excessivo do ar-condicionado, por exemplo, levam o carro a demandar menos combustível, explica o consultor automotivo Marcus Romaro. “Sustentar uma velocidade média, sem acelerações ou freadas bruscas também ajuda”, emenda.
Diante do cenário da economia, os salários não acompanharão, no médio prazo, o fôlego dos aumentos de preços no Brasil, na opinião do educador financeiro Edward Cláudio Júnior. “Por mais que seja difícil para muitas famílias, o momento é de economizar e abrir mão de confortos. Estamos apenas no começo de um complicado processo de ajustes.”
Aliviando o bolso
Com o preço dos combustíveis em alta, veja algumas dicas para economizar
- Se possível, deixe o carro na garagem alguns dias da semana, optando pelo transporte público
- Proponha aos colegas do trabalho que morem perto de você a tática da “carona solidária” e rateiem a gasolina. Organizar o trajeto antes de sair de casa também pode evitar caminhos mais longos
e desnecessários
- Mantenha os pneus do carro sempre calibrados. O procedimento deve ser feito, no máximo, a cada 15 dias. Os pneus podem ser responsáveis por até 20% do consumo. Automóvel alinhado também economiza combustível
- Em caso de veículos de câmbio manual, respeite a troca de marcha, de acordo com a velocidade correspondente
- Carro mais carregado exige maior aceleração e, portanto, gasta mais combustível. Dê uma olhada em objetos deixados no veículo, principalmente no porta-malas, cheque se eles não podem ser retirados
- O ar-condicionado ligado aumenta, em média, 20% o consumo do veículo
- Não há necessidade de aquecer o carro antes de tirá-lo da garagem. Evite aceleradas bruscas, por exemplo, quando o
semáforo fica verde troca das velas e dos filtros devem ser feitas conforme recomenda a montadora
Fontes: educadores financeiros e consultores automotivos