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Estado de Minas

Com o cofre comprometido pelas fraudes, Petrobras poderá lançar mais ações no mercado

Estatal precisa de pelo menos US$ 15 bi para conseguir manter suas atividades diante de uma previsão de caixa de US$ 8 bi para o ano. Empresa não admite, mas deve abrir capitalização


postado em 19/02/2015 06:00 / atualizado em 19/02/2015 07:17

Plataforma na Bacia de Campos: política de represamento dos preços dos combustíveis corroeu os ganhos com os papéis lançados em 2010 (foto: Agência Petrobras de Noticias/Divulgação 1º/8/05)
Plataforma na Bacia de Campos: política de represamento dos preços dos combustíveis corroeu os ganhos com os papéis lançados em 2010 (foto: Agência Petrobras de Noticias/Divulgação 1º/8/05)
Brasília – Assolada por denúncias de corrupção e com o cofre comprometido pelas perdas com a roubalheira, a Petrobras poderá lançar mais ações no mercado como alternativa para fazer caixa. Oficialmente, a companhia descarta uma nova capitalização. Em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), na semana passada, a estatal informou que não há previsão para emissão de novas ações da companhia. Alguns especialistas, contudo, acreditam que a empresa não terá como se livrar desse expediente. Se isso ocorrer, os investidores precisam ter cuidados para não entrar numa fria.

No último balanço, não auditado, a diretoria admitiu que deve terminar 2015 com US$ 8 bilhões nos cofres, quando precisa de, pelo menos, US$ 15 bilhões por ano para dar continuidade às suas atividades. Isso significa que terá de conseguir este dinheiro ao longo do ano. “A Petrobras não poderia dizer, antecipadamente, que vai lançar mais ações no mercado. Isso derrubaria o preço dos papéis, que já estão baratos. Por isso, fez esse comunicado. No entanto, acredito que ela vai precisar lançar mão desse expediente. Está sem credibilidade para captar recursos junto a instituições financeiras internacionais”, explicou Demetrius Lucindo Borel, economista da DMLB Investimentos. O especialista estimou que a estatal lançará, ao menos, 13 milhões de ações no mercado para se capitalizar ainda este ano.

Ontem, os papéis da companhia subiram, rompendo a barreira dos R$ 10, e ajudaram a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) a fechar positiva em 1,27% aos 51.280 pontos. As ações preferenciais tiveram alta de 1,30%, cotadas a R$ 10,12, enquanto as ordinárias se valorizaram 1,74%, precificadas em R$ 9,95. Os valores, contudo, estão muito abaixo do que valiam em 2010, quando a Petrobras fez a megacapitalização do pré-sal. O lançamento de ações, então cotadas em R$ 26,30, foi o maior do mundo e atingiu R$ 120,2 bilhões. Com a venda, a participação da União na companhia, que era de 39,8%, passou para 48,31% porque o governo investiu US$ 43 bilhões.

Como está sem credibilidade, se fizer uma nova capitalização agora, a União aumentaria ainda mais sua participação, uma vez que investidor comum está fugindo da Petrobras. E o mercado quer menos interferência do governo na companhia e não mais ingerência política. “Quem é que vai comprar? Eu não”, questionou o doutor em economia pela Universidade de São Paulo (USP) e ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) Roberto Luis Troster. “Se lançar ações do jeito que está vai entregar de presente”, emendou.

Preço represado
Para Alexandre Marques, analista da Elite Corretora, o problema é que a Petrobras gastou grande parte da capitalização do pré-sal, de 2010, para manter o caixa da companhia. “A política do governo, que represou os preços dos combustíveis para segurar a inflação, enquanto o barril do petróleo subia no mercado internacional, consumiu grande parte do que a empresa conseguiu arrecadar”, disse. O represamento de preços ocorreu de 2011 até meados de 2014, quando o valor do barril de petróleo começou a cair. No fim do ano passado, a Petrobras reajustou os combustíveis no mercado interno e a defasagem diante do preço pago lá fora passou a ser positiva para a estatal.

Em contrapartida, a variação cambial está acabando com o poder que essa defasagem teria de recuperar o caixa da Petrobras. O dólar disparou nas últimas semanas, ontem subiu mais 0,39% e atingiu R$2,85, e 80% da dívida da estatal é dolarizada. “A vantagem da empresa não vai ser suficiente para recuperar o cofre da estatal”, disse Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Além de estar sem alternativas para fazer caixa, a petroleira precisa, cada vez mais, de dinheiro. “Os US$ 8 bilhões anunciados pela diretoria no balanço não auditado são superestimados porque a geração de caixa está reduzida. O prognóstico foi otimista demais. A Petrobras está diminuindo sua produção este ano. Isso quer dizer que o caixa pode ficar ainda mais comprimido do que a estatal quer admitir”, alertou a analista da Concórdia Corretora Karina Freitas.

Se o caixa tende a piorar, o número de contas a pagar deve aumentar muito. A empresa precisa fazer as baixas contábeis do prejuízo com a corrupção no balanço auditado, que tem que ser entregue até junho de 2015. No comunicado à CVM, a Petrobras promete divulgá-lo até o fim de maio. Se isso não ocorrer, ela corre o risco de pagar US$ 54 bilhões em antecipação de pagamento de dívidas.

Na Justiça

Além disso, a Petrobras responde a várias ações judiciais e processos administrativos – apenas as indenizações relacionadas aos processos movidos por investidores que compraram ações na Bolsa de Nova York somam US$ 528 bilhões. As multas do órgão regulador dos EUA, a Securities and Exchange Commission (SEC), que equivale à CVM, costumam ser bilionárias. “Essas ações eram previsíveis quando estourou o escândalo de corrupção. Em algum momento, a estatal terá que fazer um acordo e pagar alguns bilhões de dólares para retirar esses processos”, assinalou o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edmar Almeida, especializado em mercado internacional de petróleo.

Para o analista da Elite Corretora Alexandre Marques, o cenário para uma nova capitalização é bem diferente do de 2010. “Naquela época, havia a perspectiva de exploração do pré-sal. Hoje, a empresa está combalida. Os resultados são fantasiosos. O ambiente é de desconfiança geral e a queda do preço do barril de petróleo derruba a rentabilidade no longo prazo. É difícil ter demanda”, estimou. Marques admite, contudo, que a petroleira terá dificuldade para acessar recursos no mercado. “A melhor saída é um choque de gestão. A empresa deve começar a falar a verdade, levantar o tamanho do rombo com a corrupção e dar convicção de que fará uma limpa. Mas, sinceramente, acho que isso não vai ocorrer enquanto o governo for petista”, lamentou.

É preciso ter cautela

Se uma nova capitalização for inevitável, o educador financeiro Mauro Calil alerta para alguns cuidados. “O preço por ação tende a cair ainda mais. Isso porque o patrimônio será o mesmo para um número ainda maior de papéis”, observou. O lucro também será diluído por uma quantidade maior de ativos no mercado. “Os dividendos distribuídos serão menores”, explicou. Os atuais acionistas terão direito prioritário de manter sua participação na empresa, comprando ações. “Se não quiserem exercer esse direito, podem vendê-lo porque ele se torna um ativo”, revelou. A ingerência política é outro ponto a ser observado. “A União tende a aumentar sua participação acionária. E isso pode aumentar a interferência política nas decisões da companhia”, alertou Calil.


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