Nem mesmo os tubarões do mercado de compra e venda de ações no Brasil fugiram ao turbilhão que atingiu a bolsa pelo segundo ano consecutivo em 2014. Quem imaginava já ter visto os piores momentos de instabilidade dos pregões em 2013, quando as empresas administradas pelo ex-bilionário Eike Batista derreteram, com perdas de R$ 30 bilhões, foi surpreendido por nova sacudida nas mesas de operação. Desta vez, a onda afetou as grandes estrelas desse mercado, os papéis da Petrobras, drasticamente impactada pela investigação de denúncias de corrupção em contratos de obras, e as ações da mineradora Vale, diante da grande queda das cotações do minério de ferro no mercado internacional, carro-chefe da produção da companhia e das exportações brasileiras.
O começo será, também, decisivo para o aplicador jovem descobrir o que os profissionais chamam de tolerância ao risco, um dos variados jargões aos quais os pequenos investidores já devem se acostumar. “O dinheiro para investir tem de ser a sobra do orçamento e é preciso definir muito bem o que se quer ganhar e o quanto será aplicado”, explica Paulo Vieira. O especialista observa que o nível de renda do brasileiro é baixo para garantir recursos adicionais que ficarão sujeitos a perdas num primeiro momento de aplicações na bolsa. O fundo de ações tem a vantagem de introduzir o novato num mundo movido a análises de balanços financeiros, interpretações variados de indicadores das empresas e da economia e expectativas, para não dizer especulações.
“Procure um fundo de ações para acostumar o coração e leia muito antes de entrar nesse mercado. Não olhe o saldo das aplicações todo dia porque gráfico de bolsa é como eletrocardiograma”, diz o economista. Com R$ 200 já é possível aplicar em um fundo de ações. Se o pequeno investidor estiver mesmo decidido a jogar seu dinheiro na bolsa, é bom estar preparado para subverter o lado perverso dos hábitos culturais do brasileiro nesse mercado. Ações são investimento sobre o qual surgem ganhos só no longo prazo, dentro de pelo menos cinco anos. Há mais um detalhe: Quem não gosta de ver seu dinheiro diminuir mesmo que temporariamente deve passar longe do mercado acionário.
Rumo incerto As expectativas de que a economia brasileira continue crescendo pouco, com inflação e juros altos mantidos nessa toada em 2015, além de um cenário mundial restrito, tendem a emoldurar mais um ano difícil também na bolsa. É provável, com isso, que o número de investidores diminua ainda mais. Aplicar na bolsa é como se casar com o mercado financeiro e ser sócio de uma empresa. Outro problema é que num Brasil da concentração de poder e de renda, o mercado acionário não poderia desconhecer a regra.
A bolsa brasileira é muito afetada pela performance de poucas e grandes empresas. Cerca de uma dezena de papeis concentram ao redor de 90% dos negócios nos pregões. Estão no bolo, liderando o ranking, as blue chips – expressão emprestada do jogo de pôquer que designa as fichas azuis como as mais valiosas –, Petrobras e Vale. Como nada é garantido no mercado financeiro, os desafios impostos às petroleiras neste ano e os efeitos das denúncias e da investigação da corrupção em contratos da estatal levaram a uma queda dos papeis preferenciais da Petrobras (Petr4) de 3,49% neste ano até sexta-feira, quando eram a negociados a R$ 9,67. A desvalorização nos últimos 12 meses foi de 27,32%.
PARA SE AVENTURAR
Dicas essenciais
Se o mercado acionário é algo novo para o investidor, o melhor é começar pela aplicação de parte do dinheiro disponível num fundo de ações, como primeira experiência para testar e acostumar o coração e os impulsos
Antes de se aventurar na bolsa o investidor precisa definir qual é a sua tolerância ao risco, quer dizer, o quanto está disposto a aplicar num mercado que vive altos e baixos e o que quer ganhar
O dinheiro para investir na bolsa deve ser retirado das sobras do orçamento e terá de ser aplicado por períodos longos. Não pode ser aquele que a pessoa pretende resgatar em pouco tempo
Saldo de aplicações não se consulta diariamente. Gráfico de bolsa de valores é como um eletrocardiograma
Investir na bolsa exige muita leitura, acompanhamento das notícias e do desempenho das empresas