A situação financeira da Petrobras é tão preocupante, na visão da agência de classificação de risco Moody's, que nem mesmo a grande probabilidade de o governo socorrer a estatal em caso de sufoco foi suficiente para manter o grau de investimento da companhia.
Nesta quarta-feira, dia seguinte ao rebaixamento da nota, a agência explicou que leva em conta a possível ajuda do governo e reconhece os esforços da estatal para divulgar seu balanço financeiro auditado, mas nada disso esconde o fato de que o risco de investir na estatal está aumentando.
"A gente está dizendo que está aumentando o risco", afirmou Nymia Almeida, analista sênior da Moody's para o setor de petróleo e gás, antes das declarações da presidente Dilma Rousseff, que disse ontem que faltou conhecimento da agência ao decidir pelo rebaixamento.
A analista resumiu assim os problemas da estatal que assustam investidores, brasileiros e estrangeiros: "A Petrobras não está conseguindo entregar o balanço financeiro, não temos clareza com relação à entrega (do balanço) na data correta, não sabemos o que ela está fazendo a respeito de conseguir mais tempo ainda ou de pedir ajuda ao principal acionista (o governo)".
A divulgação do balanço em um prazo determinado é exigência, prevista em contrato, de diversos empréstimos contraídos pela Petrobras, por meio de emissão de títulos, sobretudo no exterior. Essas cláusulas são comuns e, em muitos casos, além da publicação dos dados financeiros, há a exigência de os números serem auditados por especialistas de fora das companhias.
A Petrobras não publica um balanço trimestral auditado desde o ano passado. O resultado do terceiro trimestre foi adiado justamente porque a Price, auditoria externa contratada pela estatal, recusou-se a validar os dados, por causa das investigações sobre casos de corrupção.
Apesar de todos os problemas, ao analisar o risco de companhias estatais, as agências levam em conta a possibilidade de ajuda do governo, controlador dessas empresas. A lógica é simples: se um calote tornar-se de fato iminente, em última instância, o governo pode usar recursos públicos, ou de dívida pública, para pagar credores da estatal e, por isso, o risco é menor.
As agências de risco avaliam a probabilidade de isso ocorrer, levando em conta fatores como o tamanho da economia do país, o caixa do governo e a importância estratégica da estatal em apuros. Por isso, as estatais normalmente têm duas notas, uma intrínseca, em que se olha apenas a saúde da empresa, e outra final, considerando a possibilidade de ajuda do governo.
Algumas agências equiparam a nota das estatais ao "rating" soberano, a nota atribuída à dívida pública. Na Moody's, o "rating" isolado da Petrobras foi rebaixado para B2, três níveis abaixo da nota do Brasil (Baa2, com viés negativo, ainda grau de investimento).
"Mesmo que o País seja 'investment grade', é muito difícil alcançar (o rating soberano). Só se fosse com uma garantia real de 100% da dívida", afirmou.
Pelos cálculos da Moody's, a dívida total da Petrobras é de US$ 137 bilhões. Descontada a dívida com bancos públicos, o valor líquido seria de US$ 110 bilhões, montante que o governo precisaria garantir. Nymia destacou, entretanto, que há outros tipos de ajuda - como continuar oferecendo crédito de instituições públicas e fazer uma capitalização para reforçar o caixa - e o que importa é o apoio ocorrer no momento exato.