Até as 23h de ontem, os caminhoneiros continuavam com a manifestação em dois pontos da MG-050, na Região Sul de Minas Gerais. Os bloqueios causavam lentidão nas proximidades das cidades de cidades de São Sebastião do Paraíso e em Itaú de Minas. Por volta das 18h30, os motoristas liberaram outro trecho da rodovia, em Itaúna, Região Centro-Oeste do Estado. De acordo com a concessionária Nascentes das Gerais, responsável pela rodovia, os manifestantes fecharam parte do trânsito nos kms 402, em São Sebastião do Paraíso, e no km 373, em Itaú de Minas. Até o fechamento desta edição, não havia previsão para a liberação e o abastecimento de postos de combustíveis, supermercados e outros tipos de comércios dessas regiões ainda poderia ser prejudicado. Nesses trechos, apenas carros de passeio, ônibus, ambulâncias e veículos com cargas perecíveis e vivas passam pelo bloqueio. Também tiveram protestos na MG-431, em Itatiaiuçu, Região Central de Minas. Os caminhoneiros pararam os veículos no acostamento, mas liberaram o trânsito no início da tarde.
Segundo o presidente do Minaspetro, Carlos Guimarães Júnior, em outras localidades, como em Ouro Preto e São João del-Rei, na Região Central de Minas, foi registrada a falta combustível na terça-feira, mas ontem o abastecimento foi normalizado. A greve dos caminhoneiros refletiu numa entrada menor de produtos hortifrutigranjeiros no entreposto da Ceasa Minas em Contagem, na Grande BH. De acordo com a central, houve redução de quase 70% de batata, cenoura e mamão havaí. A oferta de cebola amarela e limão-tahiti foi de cerca de 90%, em comparação com a oferta da quarta-feira da semana passada. Como consequência, o preço médio dos produtos subiu 7,8%. No entanto, no fim da manhã o abastecimento começou a ser normalizado com a chegada dos caminhões que estavam parados nos bloqueios das rodovias federais e foram liberados.
A situação poderia ter sido pior se muitos dos produtores rurais que dirigiam seus caminhões não tivessem escolhidos rotas alternativas para chegar à Ceasa. Foi o caso de Wesley Almeida Campos, de 35 anos, que saiu terça-feira de Araxá, no Triângulo Mineiro, com 15 toneladas de batatas, e escapou da paralisação da BR-262 passando por Luz, Abaeté e Dores do Indaiá, para depois sair em Sete Lagoas e seguir para a capital. “O meu percurso aumentou 120 quilômetros. Foram duas horas a mais de viagem”, disse.
No final da manhã, já era grande a quantidade de caminhões sendo descarregados na Ceasa de Contagem. Lucimar Pamplona, de 42, estava preso na BR-040 desde as 18h30 de terça-feira e se sentiu aliviado ao entregar a mercadoria ontem de manhã. O carregamento de repolhos e de tomates dele não chegou a estragar, ao contrário do que ocorreu com a carga de muitos colegas. Parados na estrada desde domingo, eles precisaram vender seus produtos por preços até 60% mais baratos para quem passava de carro, para amenizar o prejuízo. “Já era para eu ter chegado aqui na Ceasa na terça-feira à noite. Venho de Carandaí e dormi na estrada. Atrasei a venda e o pessoal que faria o descarregamento ficou parado me esperando. Meus clientes tiveram que comprar a sobra do dia anterior de outros fornecedores”, lamentou.
MANOBRA Carlos Antônio Vieira, de 43, gastou mais de 12 horas para percorrer 273 quilômetros de São João do Oriente, no Vale do Aço, à Ceasa. “Fiquei parado um bom tempo na BR-381, em São Gonçalo do Rio Abaixo”, disse o produtor rural, enquanto vendia quiabo, jiló e manga. A Ceasa preparava ontem um balanço do impacto da paralisação na oferta de produtos. Segundo a administração, o abastecimento não chegou a ser afetado, mas faltaram alguns produtos. A expectativa era de que muitas mercadorias deveriam chegar com atraso ontem, como maçã e cebola, produzidos no Sul do país.
Nas redes varejistas da Grande BH, a situação também voltava ao normal na tarde de ontem segundo o superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Adílson Rodrigues. Mesmo assim, ele não descarta a possibilidade de o consumidor sentir falta de produtos perecíveis nas gôndolas, como carnes e peixes, frutas importadas, entre outros. “As centrais conseguiram formar um estoque maior de produtos de primeira necessidade, como arroz, feijão e açúcar, que têm prazos de validade maiores. Mas os perecíveis que recebemos quase diariamente ainda não foram totalmente normalizados”, ressaltou.
A Fiat Automóveis começou a produzir no terceiro turno de ontem e volta ao normal hoje, com três turnos de produção. A unidade industrial de Betim deixou de produzir cerca de 7 mil carros entre a manhã de segunda e a tarde de quarta-feira. O diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios de Minas Gerais (Silemg), Celso Costa Moreira, afirmou que a situação também voltou ao normal nas industrias do setor e a coleta de leite volta a ser feita a partir de hoje nas fazendas.
LIBERAÇÃO Exatamente às 6h30 da manhã de ontem, três carros com agentes da Polícia Rodoviária Federal, fortemente armados, chegaram a BR-381, em Igarapé, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Os caminhoneiros foram comunicados da decisão da juíza e tiveram 3 horas para liberar o acostamento e uma das faixas, onde se formou uma fila de mais de 20 quilômetros nos dois sentidos da via. A multa para a empresa que mantivesse seus veículos no local seria de R$ 50 mil e, para os caminhoneiros autônomos, de R$ 5 mil, foram avisados. Uma cópia da liminar foi entregue a eles. “Dentro de 3 horas, vamos começar a anotar as placas dos veículos para aplicação das multas”, avisaram os policiais.
Muitos caminhoneiros disseram aos agentes da PRF que foram coagidos e até ameaçados para participar do protesto. Quando foram ligar os veículos para ir embora, vários deles descobriram que as mangueiras da cuíca do freio e do ar haviam sido cortados durante a madrugada. Cleiton Reis, de 32, que estava parado no local desde as 5h de domingo, ficou revoltado e saiu à procura da peça e de um mecânico. O mesmo aconteceu com Sebastião Flor, de 51, que transportava carne. Ele conta que na terça-feira tentou sair do bloqueio passando por dentro da cidade de Igarapé, para chegar à BR-262, mas foi perseguido e alcançado por dois manifestantes que o forçaram a voltar. “Disseram que iam quebrar o meu caminhão inteiro se eu não voltasse. Um deles retornou comigo na cabine e o outro veio no carro atrás, me escoltando”, disse Sebastião. Durante todo o tempo parado, o caminhoneiro deixou o motor ligado para funcionar a câmara fria, gastando diesel, segundo ele. “Se não fosse assim, toda a carne teria estragado”, disse. Um carreta bitrem carregada de refrigerante também teve a mangueira do freio cortada. O veículo travou no meio da pista quando o motorista tentava ir embora e impediu a passagem também dos carros pequenos, dos carga viva e dos ônibus, os únicos que tinham permissão dos manifestantes para transitar pelas rodovias.