Brasília – O dólar subiu entre segunda-feira e ontem 7,02% em relação ao real, a maior alta em uma semana desde novembro de 2008, no auge da crise global, quando subiu 8,93%. Só ontem, a elevação da moeda norte-americana foi de 1,49%, atingindo R$ 3,057, o maior patamar desde 27 de julho de 2004, quase 11 anos atrás. A divisa se valorizou também frente a outras moedas globais, atingindo a cotação mais elevada em 11 anos e meio em comparação com uma cesta de moedas. Em relação ao euro, atingiu o patamar mais alto desde 2003.
Embora a América Latina tenha sido bastante afetada pelo movimento de ontem nos mercados de câmbio, o Brasil foi atingido com maior intensidade. “Toda a região está sofrendo, mas o real é especialmente vulnerável, em função dos problemas fiscais”, afirmou o economista Pedro Tuesta, da 4Cast. A principal razão para a valorização do dólar, segundo analistas, é o fato de terem sido divulgados ontem dados sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos. Foram abertos no país 295 mil postos de trabalho em fevereiro, bem acima das expectativas de analistas, que esperavam algo em torno de 240 mil vagas. Com esse resultado, cresceram as apostas de que o aperto monetário nos EUA virá no início do segundo semestre, possivelmente em julho. Antes, as expectativas eram de que a alta dos juros ocorresse mais para frente, em setembro. Com perspectivas de maior remuneração para as aplicações financeiras e para os investimentos na economia real, os Estados Unidos deverão atrair recursos de todo o mundo, tirando capital sobretudo de mercados emergentes.
No caso do Brasil, além do contexto internacional, há preocupações com o sucesso do plano de ajuste nas contas públicas. Investidores estrangeiros têm evitado comprar ativos brasileiros por temer que o governo não seja capaz de cumprir a meta de superávit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), restaurando a credibilidade da política fiscal. “O dólar sobe porque claramente o mercado tem confiança de que a moeda vai atingir uma cotação ainda mais elevada. E essa avaliação vem da falta de reação do governo à desvalorização do câmbio”, disse o profissional de uma corretora que pediu para não ser identificado.
Daqui para frente No mercado futuro, o contrato para abril avançou 1,8%, atingindo R$ 3,08. Isso se deve ao aumento da procura por proteção na forma hedge, movimento liderado pelos investidores estrangeiros. A posição líquida comprada em dólar (descontando-se os que estão vendidos) atingiu novo recorde ontem: US$ 37,6 bilhões.
Diante a disparada do dólar frente ao real, muitos operadores no mercado apostaram que o Banco Central (BC) elevaria a oferta de swaps cambiais. Com isso, a autoridade monetária rolaria integralmente o lote de que vence em abril dessas operações, que equivalem à oferta de moeda norte-americana no mercado futuro — o que proporciona segurança e estabilidade nos negócios de quem precisa de dólares, como importadores. Essa aposta contribuiu para manter o dólar em baixa pela manhã. “É uma pulga atrás da orelha. O mercado se pergunta se pode vir mais swap”, resumiu o operador de câmbio da corretora Intercam, Glauber Romano. Caso o BC decida manter até o penúltimo dia do mês.
O ritmo atual de rolagem de swaps, com a oferta de 7,4 mil contratos por dia, serão rolados 80% do lote de abril, o equivalente a US$ 9,96 bilhões. Na manhã de ontem, a autoridade monetária vendeu a oferta total da ração de diária de 2 mil contratos de swap, no valor total de US$ 98,1 milhões. Os vencimentos desses contratos se distribuem, na mesma proporção, para as datas de 1º de dezembro de 2015 e 1º de fevereiro de 2016.