Brasília – O desenrolar da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, tem trazido ainda mais desconfiança aos investidores brasileiros e internacionais. Nos últimos dias, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) reagiu fortemente ao suposto envolvimento de empresas de capital aberto no bilionário esquema de corrupção na Petrobras.
Os papéis da estatal já despencaram mais de 11% somente este ano. E o sangramento ainda não dá sinais de que será estancado: as ações preferenciais fecharam o pregão de ontem a R$ 8,79; e aas ordinárias, a R$ 8,47 — valores irrisórios perto dos R$ 40 que chegaram a valer em 2008. Mas o baque do escândalo não se restringe ao desempenho da petrolífera.
A semana começou com as ações da Cetip caindo 8% após a integradora do mercado financeiro ser atrelada indiretamente a um dos esquemas investigados pela Lava-Jato que teria incluindo pagamento de R$ 20 milhões em propina. A empresa negou qualquer participação em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Ontem, os papéis recuaram mais 1,18%, a R$ 30,15.
Ontem foi a vez de as ações da Braskem, empresa petroquímica controlada pela Odebrecht, abrirem em derrocada. Fecharam o dia com uma queda de 19,78%, a R$ 11,03. Segundo dois delatores, a empresa teria pago propina para comprar matéria-prima mais barata da Petrobras. Os executivos citados também negaram qualquer relação com o escândalo.
A bolsa subiu 1,12% no dia, puxada, em boa parte, pela alta de 8,23% das ações da Gol, depois de anúncio de parceria da empresa com companhia aérea do Canadá. Além disso, a divulgação de dados positivos na Europa e uma acalmada no embate político acabaram servindo como alívio após cinco quedas consecutivas. No mês, porém, o volume de operações acumula recuo de 5,33%.
O humor dos investidores continua bastante afetado por uma desconfiança generalizada no mercado financeiro. “Ninguém sabe a verdadeira história da Lava-Jato nem a abrangência das investigações em andamento. Até onde isso vai?”, provocou Emílio Otranto Neto, ex-diretor de Desenvolvimento e Relacionamento com Institucionais da BM&FBovespa.
Enquanto Polícia Federal, Ministério Público e parlamentares tentam avançar nos trabalhos, o mercado penaliza empresas citadas, com uma dose de especulação. “O grau de incerteza está fazendo com que o investidor comece a atirar para todos os lados, derrubando o preço das ações para comprar mais barato”, emendou Otranto. “A bolsa está à mercê dessa insegurança.”
A sensação, acrescentou o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Renê Garcia, é de que “tudo pode acontecer”. “A Cetip e a Braskem, aparentemente, não deveriam estar no foco das investigações da Lava-Jato e acabaram sendo mencionadas: é isso que aumenta o cenário de desconfiança”, disse. “É difícil imaginar que a bolsa não reaja assim.”
Câmbio O dólar voltou a subir ontem e fechou o pregão cotado a R$ 3,1278, uma alta de 0,77%. Em um dia de bastante volatilidade, a cotação da moeda norte-americana variou entre R$ 3,08 e R$ 3,14. O patamar segue sendo o maior desde junho de 2004. Em 2015, a alta acumulada chega a 17,64%. Somente este mês, a divisa se valorizou 9,52% diante do real. As indefinições em torno dos ajustes fiscais continuam pautando o mercado cambial.