A onda gourmet, que arrasta multidões para restaurantes e cursos de gastronomia, tomou conta da Páscoa. A criatividade atende à demanda dos consumidores, que já não querem mais saber de ovos padronizados e, ainda por cima, caros. O resultado é que os empreendedores temporários que se dedicam a fabricar ovos de chocolate estão se esmerando. A moda, agora, é fazer ovo de colher com os mais variados tipos de recheio, ousar na apresentação de ovinhos recheados, preparar pequenas lembranças. É assim que, aos poucos, o “raio gourmetizador” começa a quebrar a hegemonia dos produtos industrializados, até pouco tempo as vedetes da estação.
Camila Pessoa trabalha com chocolates desde 2008 e já é uma empreendedora individual. Desde então, seu negócio vem dando certo e ela conta com clientes fixos, como o Hotel Ouro Minas, e também fornece para empresas durante todo o ano. Mas é no período da Páscoa que as vendas esquentam pra valer. Em 2015, o carro-chefe são ovos de colher (uma banda), recheados com torta de morango, limão, tiramissu e amandita. Ela trabalha com chocolates puros fabricados no Brasil, mas aceita encomendas de chocolate belga. Nesta Páscoa, espera vender 200 quilos de chocolate, o dobro do ano passado.
Com apenas 20 anos, Guilherme Coimbra acaba de se formar em gastronomia e, até a Páscoa chegar, fazia jantares esporádicos em casas de clientes. Um dia alguém perguntou se ele faria um ovo para vender. Fez vários sabores para divulgar e o Facebook abriu as portas para as encomendas. “Somente num dia foram 30 encomendas. Para a Páscoa, já são 80 ovos de colher, sem contar os naked cakes (tipo de bolo sem cobertura). “Com isso, muita gente me pergunta se tenho espaço físico. A Páscoa me transformou num profissional. Antes, o trabalho só aparecia uma vez ou outra, hoje não tenho tempo livre”, comemora.
O sucesso de Guilherme tem um pé no sabor e o outro na imagem. É com vídeos do passo a passo da preparação dos ovos – e com fotos de dar água na boca –, divulgados no Facebook e no Instagram que ele conquista a clientela. A vedete do momento é o ovo de colher recheado com brigadeiro, palha italiana, bombom de morango e beijinho, todos a R$ 30. Tem também a edição premium, recheada de brownie de Óreo, brownie de castanha, doce de leite com paçoca, brigadeiro belga ou pão de mel, a R$ 45. Nos dois casos, o peso é de 250 gramas. A casca do ovo é feita um dia antes e o recheio no dia da entrega. “A ideia veio do nada. Optei primeiro pela palha italiana, o bombom de morango e o brigadeiro. Depois criei o doce de leite com paçoca, que são meus doces preferidos. A paçoca quebra um pouco do adocicado do doce de leite. Já o brownie está na moda e resolvi fazer o de biscoito Oreo, que as pessoas costumam trazer de suas viagens internacionais”, explica.
Olívia Junqueira costuma fazer chocolates durante a Páscoa para reforçar o orçamento. A novidade deste ano são os ovos pequenos, acondicionados numa caixinha com meia dúzia (R$ 45). Ele são recheados de brigadeiro, beijinho de coco, mousse de maracujá, brownie de chocolate e Alfajor. “A pessoa pode escolher os sabores que quiser”, explica. Além disso, os ovos de colher são outra atração na cozinha de Olívia. Além do sabor, ela capricha na embalagem. “Ela vai toda bonitinha, com fitas bonitas e tags de Feliz Páscoa e de 'De: /Para:'. Uma boa embalagem é tudo”, acredita. Na avaliação dela, no Brasil as pessoas esperam pelo momento da Páscoa. “Quem gosta de chocolate não tem jeito, essa é uma data única. Tem gente que passa o ano todo numa onda fit, mas quando chega a Páscoa compra um ovo bem recheado. É o prêmio do ano”, observa.
Luciana Lessa, analista técnica do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-MG), explica que é muito comum o surgimento de empreendedores temporários nesta época do ano. “A pessoa deve prestar atenção no custo e no público, porque quanto mais personalizado um produto, mais caro ele fica. Como hoje o mercado exige essa personalização, é preciso perguntar o que o seu público quer e focar em alguns produtos”, recomenda.