O setor varejista realiza nesta quarta-feira, a partir da meia-noite, um dia de grandes promoções para tentar desencalhar os estoques, em meio a um cenário de desaceleração econômica, crédito escasso e inflação e dólar em alta. Com descontos que variam de 20% a 80%, o evento foi batizado de "Dia do Consumidor Brasil", uma espécie de Black Friday fora de época. A megaliquidação, que copia o evento do varejo americano, ocorre tradicionalmente em novembro, mas ganhará essa edição extra.
O objetivo é impulsionar as vendas em um período tradicionalmente fraco para o comércio. E que está ainda mais fraco neste ano. Segundo a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), as vendas amargaram queda de 4,5% nos primeiros 75 dias do ano, na comparação com 2014.
Apesar do cenário negativo, a perspectiva para o comércio online ainda é favorável. É o que diz Rodrigo Borer, CEO do Buscapé Company para América Latina e organizador do evento. "O varejo online tem muito espaço para crescer, as pessoas estão se acostumando a comprar pela internet", afirma.
Segundo ele, em 2014, o e-commerce cresceu 24% ante 2013 e a previsão para este ano é de uma expansão de 20%. "Vai dar uma desacelerada, mas vai continuar crescendo, mesmo com juros altos e dólar subindo. É um desempenho muito bom para qualquer setor da economia", completa.
Neste ano, o evento deve reunir 500 lojas virtuais, incluindo grandes redes como Americanas.com, Submarino.com, Extra.com.br, Magazine Luiza e Netshoes. Mas quem planeja comprar um smartphone de última geração com bom preço pode ficar frustrado. De acordo com Borer, os maiores descontos devem se concentrar nos setores de moda, acessórios e decoração. "Eletrônicos e informática terão descontos relevantes, mas não devem ser predominantes", diz.
Expectativa alta
Empresa especializada em informações do comércio eletrônico, a E-Bit reforça a tendência positiva para o comércio online, com a previsão de faturamento, apenas nesta quarta-feira, de R$ 278,3 milhões, número 60% maior em relação à primeira edição do evento, realizada em 2014, quando o resultado chegou a R$ 174 milhões.
A previsão é de que sejam feitos mais de 630 mil pedidos, 38% a mais que os 460 mil da primeira edição. O tíquete médio deverá ficar em R$ 437, um aumento de 16% ante os R$ 376 de 2014.
O portal de cashback Moo.ba, que devolve ao consumidor uma porcentagem do valor gasto em compras, também vai participar do evento. "Para a loja é interessante, porque ela investe zero e paga sob sucesso. Para o consumidor também é legal, porque ele recebe uma porcentagem do valor de um produto de volta", afirma José Eduardo Rangel, sócio fundador do portal. Para entrar no clima das ofertas, o Moo.ba vai oferecer o reembolso em dobro, podendo chegar a até 20% do preço da mercadoria.
Professor da ESPM, Alexandre Marquesi alerta, no entanto, para uma banalização de promoções no comércio virtual. "Tem Black Friday, CyberMonday, Dia do Consumidor... Assim começa a perder o crédito, virou até uma piada a Black 'Fraude', vendendo produtos por 50% do dobro", afirma. "Um grande erro dos e-commerces é achar que o consumidor é 'bobo', que vão conseguir fazer ele comprar o que quiserem", completa
Atenção
Grandes descontos costumam fazer a cabeça dos consumidores. É preciso, porém, redobrar a atenção para não ter problemas em compras online, como pagar por um produto e não receber a mercadoria. Segundo a coordenadora institucional da Proteste, Maria Inês Dolci, é crucial fazer uma pesquisa de preços antes de fechar a compra, para poder ter certeza de que os descontos não estão "maquiados". Isto é, quando uma loja sobe o preço de uma mercadoria semanas antes de um dia de promoções para poder, assim, oferecer grandes "descontos".
"É preciso verificar o que está sendo ofertado e prometido. Preços muito abaixo do mercado indicam alguma coisa errada. Não existem milagres, você deve fazer uma pesquisa para ter uma noção do valor e saber se vale a pena comprar ou não", alerta Maria Inês.
É importante, também, ficar atento aos prazos de entrega, que, por vezes, podem passar dos 40 dias úteis. Diante dos riscos do comércio eletrônico, Marquesi, da ESPM, lembra que o melhor aliado do consumidor é o "bom senso". "Para evitar problemas, é importante usar o bom senso, ser frio e não deixar se levar pela emoção de um 'desconto', para não ter problemas em uma compra online", diz.