O cenário econômico desfavorável deste ano não impedirá a inflação de voltar ao centro da meta em 2016, acredita o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Em palestra ontem durante conferência organizada pelo Banco Goldman Sachs, em São Paulo, ele fez coro ao discurso do governo de que os ajustes atuais são “importantes e necessários”, e quis passar a ideia de que logo a situação vai melhorar.
Simultaneamente à divulgação de detalhes do comunicado do banco central dos Estados Unidos, indicando aumento de juros lento e gradual por lá, o tom otimista de Tombini por aqui ajudou a derrubar o dólar, que em uma hora chegou a cair 2%. No fim do pregão, a moeda norte-americana amenizou a forte queda e terminou cotada a R$ 3,214, um recuo de 0,52%. Na máxima do dia, bateu R$ 3,28.
Ao defender e mesmo enaltecer o fortalecimento da política fiscal, o chefe da autoridade monetária fez questão de deixar claro que não o fazia pela primeira vez. “Como mencionei em outras oportunidades, entendo que um processo consistente e crível de consolidação de receitas e despesas, rigorosamente conduzido, facilita, ao longo do tempo, a convergência da inflação para o centro da meta”, insistiu. Em meio a incertezas quanto à concretização do arrocho fiscal anunciado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o presidente do BC ponderou que “o amplo, profundo e consistente conjunto de medidas do governo federal” poderá contribuir para aumentar a potência da política monetária e, assim, combater a inflação com uma condição: “se adotado de forma completa e inequívoca”.
Tesoura O governo já definiu o corte no Orçamento de 2015, aprovado na noite de anteontem pelo Congresso Nacional. O número do arrocho que anda circulando pela Esplanada dos Ministérios é de algo em torno de R$ 60 bilhões. O valor será anunciado nos próximos 30 dias, somente após a sanção da presidente Dilma Rousseff. Fontes do governo afirmam que é necessário ainda avaliar o impacto do ajuste em cada ministério.
O contingenciamento do Orçamento foi apresentado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, aos representantes da agência de classificação de risco Fitch Ratings, como forma de tentar recuperar a credibilidade do governo e sua capacidade em equilibrar as contas públicas que andam em frangalhos. Os analistas da companhia norte-americana estiveram reunidos com Levy ontem. Hoje, a visita deverá ser ao Banco Central. Na avaliação da economista Monica Baumgarten de Bolle, diretora da consultoria Galanto/MBB, em Washington, um contingenciamento de R$ 60 bilhões não será suficiente para que agências como a Fitch acreditem que o governo brasileiro conseguirá equilibrar as contas públicas.