Brasília – Aguardado com bastante expectativa pelo mercado, o comunicado de política monetária do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), junto de indicadores divulgados ontem, sinalizou cautela quanto ao provável aumento dos juros no país. O Fomc indicou que a alta pode ocorrer a partir de junho, julgando improvável novidades na próxima reunião, marcada para o mês que vem.
Como esperado, o termo “paciente” — usado nas últimas atas — foi retirado do documento do Fed, reforçando que o reajuste está mais próximo, o que vai estimular uma migração de recursos para os Estados Unidos. A presidente do Fed, Janet Yellen, ponderou em entrevista que ao deixar de lado o termo “paciente” no texto, o Fed não transmite “impaciência”. Ou seja, o ritmo da alta de juros deverá ser lento e gradual.
A expectativa é de duas altas neste ano. A primeira, acredita-se, viria em setembro, embora possa ser antecipada para junho, e a última mais perto do fim do ano. A presidente do Fed disse ontem que os membros do Fomc continuarão atentos aos indicadores econômicos norte-americanos para tomar a decisão no momento certo.
A reação dos mercados brasileiros mostrou otimismo com as sinalizações da reunião do Fed. A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) fechou em alta de 2,47%. O dólar recuou 0,52%, para R$ 3,214, também influenciado por declarações do Banco Central (BC), Alexandre Tombini.
Para o economista-chefe do Banco ABC, Luís Otávio de Souza Leal, não houve surpresas no resultado da reunião. “Muita coisa já está nos preços”, disse. Ele explicou que a decisão da autoridade monetária norte-americana sobre a taxa básica tem influência limitada no valor que se está pagando para os títulos de 10 anos. “É isso o que vai influenciar a redução ou não de recursos para o Brasil”, afirmou.
Atualmente, a remuneração embutida nos títulos de 10 anos está em 1,94% ao ano, bem acima dos papéis alemães em 0,19%. Isso reflete uma aposta de que a economia norte-americana será mais dinâmica do que a europeia nos próximos anos, e também enfrentará um aperto monetário, enquanto a Europa está em um processo de estímulo, com injeção de dinheiro na economia. A diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Cristine Lagarde, havia dito na terça-feira que “emergentes devem se preparar para a volatilidade dos mercados”, à espera da alta de juros nos Estados Unidos.