Com quedas nas vendas, o setor automotivo está reduzindo o quadro de funcionários. Os planos de demissão voluntária (PDV) são uma das medidas tomadas pelas montadoras de São Paulo para dispensar o excedente de mão de obra.
A suspensão de contrato por lay-off tem sido outra opção. O modelo funciona assim: o empregado continua recebendo salário - parte custeado pelo Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT), parte pela própria empresa - enquanto participa de cursos de qualificação profissional.
Segundo o sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o PDV da Volkswagen, encerrado no último dia 17, conseguiu adesão de cerca de 600 trabalhadores na unidade de São Bernardo do Campo. No mesmo dia, a Mercedes-Benz abriu o programa, também em São Bernardo. De acordo com com informações da própria empresa, desde o ano passado, 750 funcionários estão em lay-off, que foi estendido até o próximo dia 30 de abril.
Aos funcionários da unidade da Mercedes, onde são produzidos ônibus e caminhões, é oferecido o valor fixo de R$ 28,5 mil e o pagamento de todos benefícios trabalhistas. Os trabalhadores em lay-off recebem adicional de R$ 6,5 mil para aderir ao PDV. A montadora diz que tem um excedente de mão de obra de 1,2 mil empregados, além dos 750 com contrato de trabalho suspenso. Os trabalhadores que aderiram ao PDV da Volkswagem receberam, de acordo com o sindicato, entre 10 e 15 salários, dependendo do tempo de serviço na empresa.
Em Taubaté, interior paulista, a Volkswagen colocou 250 trabalhadores em lay-off. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e região, a empresa também vai dar férias coletivas a todos os trabalhadores da unidade dos dois turnos por um período de 20 dias, que começa a valer a partir de 30 de março. De acordo com o sindicato, a unidade de Taubaté tem atualmente cerca de 5 mil empregados.
Para a professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo Adriana Marotti a concentração de mercado faz com que as montadoras prefiram fechar postos de trabalho a reduzir os preços. “Eles preferem manter a margem de lucro”, enfatizou.“No mercado norte-americano você chega a ter situação de guerra de preços. A margem de lucro das montadoras fora do Brasil é bem menor. Aqui elas trabalham com uma gordura mais substancial”, comparou.
Um dos fatores que contribui para manutenção desse cenário, de acordo com Adriana, são as restrições impostas às importações. “As quatro principais marcas têm quase 60% do mercado. Por um lado é positivo proteger a indústria nacional. Por outro, se não tem importação como alternativa, você acaba restringindo o mercado, fica praticamente um oligopólio”, ponderou.
Os últimos dados divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) indicam que de fevereiro de 2014 para o mesmo mês deste ano houve uma queda de 8,8% no nível de emprego no setor. Ou seja, em um ano houve o fechamento de 13,8 mil postos de trabalho.
As demissões acompanham a queda nas vendas e produção. Nos dois primeiros meses de 2015, as vendas totalizaram 439,75 mil unidades, 23,1% a menos do que no mesmo período de 2014. Na opinião de Adriana, a situação não deve melhorar nos próximos meses, com o desaquecimento da economia e medidas de ajuste fiscal do governo. A professora destaca ainda a queda das exportações, principalmente para a Argentina, e o fim da desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). “Quem queria trocar de carro, acabou antecipando a compra”, acrescentou.